O Clube Militar, entidade cujo nome é autoexplicativo, veicula em seu site um texto que, se não é apoio explícito à candidatura de Marina Silva (PSB), é um manifesto expresso contra a continuidade do governo Dilma Roussef. No artigo intitulado “Um fio de esperança”, assinado pelo “editor de Opinião” Gen Clovis Purper Bandeira, a agremiação militar demonstra, no entanto, que não percebeu a mudança de estratégia das campanhas de Dilma e Aécio Neves (PSDB), que passaram a atacar Marina de maneira a tentar desconstruir a imagem positiva da candidata junto à parcela significativa da opinião pública.
“Não tendo ainda sido atacada pelos demais candidatos – pois sua candidatura não foi, inicialmente, percebida como grande ameaça – navega em mar calmo e vento muito favorável, enquanto o tempo, cada vez mais curto, corre a seu favor”, diz trecho do texto, que faz um histórico da trajetória recente de Marina, com menção à sua tentativa ora frustrada de criar a Rede Sustentabilidade.
A menção que sugere o apoio a Marina está mais ao fim do texto, que critica os “atuais homens públicos” e ataca a “corruptocracia” que estaria incrustada no comando do “lulopetismo”. “A desilusão popular procura o novo. As mudanças podem ser para melhor ou para pior, desde que interrompam a malfadada corruptocracia instalada no poder pelo lulopetismo. Como está não pode continuar”, argumenta o autor.
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Afinado ao discurso da mudança, o texto faz restrições a Marina e “sua figura messiânica, suas declarações vagas” e promessas “generosas” que não teriam respaldo no “cofre nacional”. Tais promessas, diz o artigo, “[..] acenam com uma ‘nova política’ misteriosa, mistura de propostas esquerdistas e ambientalistas, entre as quais maior participação direta, governar com pessoas e não com partidos, participação direta popular no governo, por meio de plebiscitos e consultas populares (cheiro de bolivarianismo), criação de conselhos do povo (cheiro dos sovietes petistas), orçamento participativo etc”.
Camaleônica
Coincidência ou não, Marina passou a se dizer favorável à preservação da Lei da Anistia, que perdoa crimes da ditadura como tortura e assassinatos por grupos militares radicais. A mudança de pensamento foi esbolada ontem (quinta, 4), quando deu entrevista ao portal G1. Antes de se tornar candidata, ela chegou a publicar artigo no jornal Folha de S.Paulo em 2008, como lembrou ontem a coluna “Painel”, dizendo que tortura é crime hediondo e, assim, não pode ser perdoado por lei.
Referindo-se à candidata do PSB como “Incógnita camaleônica”, o texto lembra que Marina vai ter de deixar o mundo das ideias e encarar a realidade em Brasília, personificada no Congresso Nacional e suas características de restrição à governabilidade. “No governo, terá que descer das nuvens ‘sonháticas’ onde flutua e lutar na arena do dia a dia da Praça dos Três Poderes, enfrentando as feras insaciáveis que fazem as leis, sempre cobrando algum preço político por seu apoio”, diz o texto.
Líder na disputa com Dilma na hipótese de segundo turno, Marina tem enfrentado uma etapa da campanha em que virou o alvo principal de adversários. Depois de recuos em seu programa de governo, principalmente em relação às garantias de homossexuais, a ex-senadora também está às voltas com a questão do avião que vitimou, em 13 de agosto, o então cabeça de chapa do PSB, o ex-governador pernambucano Eduardo Campos. Segundo investigações em curso na Polícia Federal, a compra da aeronave foi feita de maneira irregular, por meio de empresa de fachada, e pode resultar em enquadramento da coligação de Marina na legislação eleitoral.
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