Além disso, conforme os depoimentos de Paulo Roberto Costa ao juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal do Paraná, houve uma “certa ruptura” entre os grupos internos do partido liderados por Negromonte e Ciro Nogueira. O desentendimento foi motivado por disputa de recursos desviados da estatal. A defesa de Negromonte nega as acusações. O Congresso em Foco tenta ouvir a versão de Ciro desde a terça-feira (21), mas até agora não teve resposta do congressista piauiense.
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Paulo Roberto Costa afirmou que 3% dos valores dos contratos da Petrobras sob a responsabilidade da diretoria de abastecimento eram desviados. Desse montante, 1% do valor total dos contratos foi destinado ao PP. Até o momento, tanto o ex-ministro quanto o senador eram apontados somente como beneficiários do esquema, não como um de seus supostos operadores.
Segundo Paulo Roberto, os recursos destinados ao PP eram, primeiramente, distribuídos pelo ex-deputado federal José Janene (PP-PR), morto em 2010. Após a morte de Janene, Negromonte virou líder do PP na Câmara e coube a ele determinar a divisão de valores aos políticos da sigla. Em seguida, pelo depoimento de Costa, essa função foi transferida ao senador Ciro Nogueira, atual presidente do partido.
“Eu nunca soube que era o Alberto Youssef que definia percentual para cada político [de recursos desviados da Petrobras], o que eu tenho conhecimento [é que] o Alberto Youssef efetuava o pagamento, mas o percentual que ia para o político A, para o político B, político C, acho eu que nunca foi de autonomia do Alberto, era autonomia do Janene, Mário Negromonte e depois, com certeza, do Ciro Nogueira”, disse o delator à Justiça Federal do Paraná.
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Apesar disso, o ex-diretor da Petrobras afirmou que houve impasses dentro do PP por conta dos valores destinados a cada político. “Em determinado momento, houve, vamos dizer, uma ruptura dentro do partido que era capitaneado pelo Mário Negromonte e começou a ser capitaneado pelo senador Ciro Nogueira”, disse. “E aí uma série de políticos apoiou o Ciro Nogueira, ele foi indicado lá para ser o presidente do partido, se não me engano, e houve uma certa ruptura do grupo do Mário Negromonte com o grupo do Ciro Nogueira”, complementou Costa.
“Me foi dito na época pelo grupo do Ciro Nogueira que eles não estavam satisfeitos dos valores que eles recebiam porque achavam que tinham valores muito maiores e que não eram repassados para o grupo do Ciro Nogueira, que isso ficaria muito ainda capitaneado pelo grupo do Mário Negromonte, então isso resultou uma ruptura”, ressaltou o ex-diretor da Petrobras.Em seguida, Costa ainda pontuou: “Depois que ele faleceu [Janene], que ele deixou de fazer isso, que ele ficou doente, melhor dizendo, coube ao Mário Negromonte fazer esse processo [de definição de percentuais de recursos] e depois, com essa briga interna do PP, passou para o Ciro Nogueira, mas como era feita essa distribuição eu nunca tive acesso a isso”, afirmou Costa. Pelas investigações do MPF, a distribuição dos recursos desviados da Petrobras cabia ao doleiro Alberto Youssef e, em seguida, ao empresário Henry Hoyer de Carvalho, ex-assessor do Senador Ney Suassuna (PSL-PB).
Depois da disputa interna no partido pelo controle da definição dos percentuais de recursos da Petrobras, segundo o delator, houve uma reunião no Rio de Janeiro da qual participaram Negromonte e Ciro Nogueira, entre o final de 2011 e início de 2012, para informar ao ex-gerente da Petrobras que haveria uma mudança de interlocutor no repasse de recursos ilegais. Alberto Youssef não exerceria mais a função de operador para os parlamentares do PP. Essa função, de acordo com Paulo Roberto, caberia naquele momento ao empresário Henry Hoyer.
Na semana passada, a Polícia Federal (PF) realizou a Operação Politeia, a primeira fase da Lava Jato no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF). Foram cumpridos 53 mandados de busca e apreensão. Houve recolhimento de documentos no gabinete de Negromonte no Tribunal de Contas Municipais (TCM) da Bahia e na residência de Ciro Nogueira, em Brasília.
Até então, os dois eram apontados apenas como beneficiários e não como membros do PP que determinavam percentuais de pagamentos aos demais políticos da sigla. Conforme denúncias do dono da UTC, Ricardo Pessoa, o senador teria recebido R$ 2 milhões fruto de recursos desviados da estatal. Após ser citado, Nogueira afirmou que “renunciaria ao mandato de Senador” caso surgissem novas provas contra ele. Negromonte também era apontado somente como beneficiário do esquema. No entanto, os valores que ele teria recebido são incertos.
Outro lado
Durante dois dias, a reportagem de Congresso em Foco procurou o senador Ciro Nogueira. Porém, sua assessoria de imprensa não conseguiu localizá-lo para rebater as acusações. Já o advogado Carlos Fauaze, que defende o ex-ministro Mário Negromonte, negou que seu cliente tenha tido qualquer contato ou tenha recebido dinheiro do esquema da Petrobras.
“O conselheiro Negromonte nega peremptoriamente qualquer recebimento de vantagem, seja por parte do Paulo Roberto, seja por parte do Youssef ou de qualquer pessoa. Isso efetivamente está fora de cogitação”, disse Fauaze.
Sobre a disputa no PP, o advogado disse que isso teve caráter meramente político. “Não existiu como colocado por ele [Costa] nenhuma disputa relativamente a isso. O que existiu foi, no momento em que ele saiu do ministério das cidades [em fevereiro de 2012], assumiu a cadeira dele um parlamentar, ministro Agnaldo [Ribeiro], que naquela circunstância específica era mais alinhado ao Ciro Nogueira. Mas o partido é como uma família. Você está alinhado em alguns assuntos, você está fora de sintonia em outras. Mas absolutamente nada a ver com essa motivação que o Paulo Roberto Costa coloca”, pontuou.
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