Conversa gravada pela Polícia Federal mostra que um assessor do deputado federal Sérgio Souza (PMDB-PR), Ronaldo Souza Troncha, recebeu uma senha do “chefe” da organização criminosa desbaratada pela Operação Carne Fraca, Daniel Gonçalves, superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná, para acessar o sistema de processo eletrônico da pasta.
“Vou dar minha senha pra você. Põe na internet aí: SEI, Ministério, Mapa”, orienta Gonçalves. Em seguida, acrescenta: “Usuário: daniel.goncalves”. Mas faz uma recomendação: “Ce só vai ver as coisas do Paraná, hein?” Troncha responde: “Não, não, eu num vou fazer nada!”.
Troncha já havia sido citado nos autos do processo por ter entrado em contato com o advogado José Antonio Diana Mapelli, solicitando assistência jurídica a Daniel Gonçalves em razão da sua exoneração.
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Mas o relatório policial cita que, mais uma vez, “os diálogos envolvendo o deputado Sérgio Souza referem-se à sua influência política para manter o superintendente Daniel Gonçalves no cargo, não se sabe ainda o motivo”. “Nada de irregular ou ilegal no diálogo, todos falando abertamente acerca do ocorrido e como tentar reverter o quadro pela via judicial”, diz o documento.
Posteriormente, Gonçalves cedeu novamente a seu login e senha do sistema de processo eletrônico para que Troncha consultasse um processo de competência do ministério. O superintendente conversou com o assessor do deputado cobrando o julgamento de um processo de Londrina. Daniel o instruiu a entrar no site do ministério, fornecendo-lhe a senha de acesso aos processos internos da autarquia, de uso privativo dos servidores ali lotados.
“É alarmante a irregularidade do procedimento de franquear acesso, que seria pessoal, ao sistema de processos administrativos internos de uma Superintendência Regional de um dos Ministérios da República, a um terceiro estranho aos quadros da do órgão, no caso a alguém que seria assessor parlamentar.
PublicidadeA investigação identificou, ainda, dois depósitos bancários feitos por Daniel Gonçalves a Ronaldo Souza Troncha, no valor de R$ 5 mil cada um.
Considerando a proximidade entre Troncha e Gonçalves, a utilização de login e senha para acessar o sistema de processos eletrônicos do ministério, bem como os depósitos bancários do superintendente para o assessor, o Ministério Público solicitou a expedição de mandado de busca e apreensão para coletar objetos nas residências e locais de trabalho dos dois suspeitos, além da condução coercitiva de Troncha, para esclarecimentos sobre os fatos citados. Os dois procedimentos foram aprovados pela Justiça Federal.
A assessoria do deputado Sérgio Souza confirma que Troncha trabalhou como assessor do deputado até agosto do ano passado. Antes, ele havia assessorado outro deputado paranaense, falecido em 2012.
A assessoria do deputado divulgou nota sobre o fato: “O deputado federal Sérgio Souza esclareceu nesta manhã (17) que Ronaldo Troncha, que aparece nas gravações que desencadearam a Operação Carne Fraca da Polícia Federal, não é mais seu assessor desde o ano passado, e que os fatos datam da época em que o mesmo não trabalhava em seu gabinete. “No período que foi assessor, Ronaldo desempenhou suas funções com dedicação e, até onde o conheço, é pessoa ilibada e responsável ”, afirmou o parlamentar.
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