Edson Sardinha
Depois de derrotar uma das alianças políticas mais conservadoras do país, há quase quatro anos, o prefeito do Recife (PE), João Paulo Lima e Silva (PT), defende a composição feita com esses mesmos setores pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.Segundo o prefeito, sem o apoio dos antigos adversários, o partido não sustentaria a governabilidade. "O PT teve de ceder em algumas partes do seu programa para, sem perder a identidade, a clareza política e a nitidez ideológica, fazer uma opção pela maioria da população", afirma.
Na avaliação de João Paulo, o leque de alianças aberto por Lula corre o risco de passar por embaraços com a proximidade das eleições municipais. "As forças conservadoras são essencialmente fortes, organizadas e estruturadas", avalia, em entrevista exclusiva ao Congresso em Foco, concedida durante rápida passagem por Brasília.
A observação do prefeito de uma das capitais que mais interesse desperta no PT soa como alerta para o Planalto. Recife é uma das cidades em que o governo estará mais sujeito a pressões dos partidos de sustentação.
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Além de João Paulo, que desconversa quando perguntado sobre a candidatura à reeleição, outros três partidos da base aliada já têm candidatos à sucessão municipal: os deputados federais Cadoca Pereira (PMDB), Joaquim Francisco (PTB) e Raul Jungmann (PPS).
Padrinho político do novo presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara, deputado Maurício Rands (PT-PE), o prefeito do Recife demonstra entusiasmo com a administração petista. Diz que Lula inovou na inversão de prioridades, na relação com os prefeitos e nos projetos sociais.
Reconhece, porém, que o governo ainda enfrenta dificuldades por causa da falta de experiência administrativa. "Alguns parlamentares do PT fizeram críticas públicas pesadas ao governo. Há um certo desencontro entre a direção do partido e o governo. É coisa de quem pela primeira vez tem a responsabilidade de administrar um país com a dimensão continental do Brasil", observa.
Perfil lembra trajetória de Lula
O prefeito metalúrgico que comemora a gestão do presidente metalúrgico alcançou o poder sem se aliar a antigos adversários políticos. Pelo contrário, nas eleições de 2000, João Paulo Lima e Silva enfrentou a dissidência dos chamados partidos de esquerda e uma aliança política em torno do nome de Roberto Magalhães, então candidato à reeleição, filiado ao PFL.
A vitória foi uma das mais apertadas da história eleitoral do país. A diferença entre os dois candidatos, no segundo turno, foi de apenas 5835 votos, ou seja, 0,76% dos votos válidos. No primeiro turno, João Paulo enfrentou tradicionais aliados do PT, como PDT, PPS e PSB.
O partido de Miguel de Arraes se aliou ao de Raul Jungmann para apoiar a candidatura de Carlos Wilson (PTB). A legenda de Leonel Brizola preferiu lançar candidatura própria e apostar no nome de Vicente André Gomes.
No segundo turno, os dois blocos passaram para o lado do petista, deixando Roberto Magalhães, o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) e o então vice-presidente da República, Marco Maciel (PFL). A derrota de Magalhães foi uma das maiores surpresas das eleições de 2000 em todo o país.
Pernambucano, como Luiz Inácio Lula da Silva, o petista guarda outras semelhanças com o presidente da República. Assim como Lula, o metalúrgico João Paulo começou a carreira política como sindicalista, foi um dos fundadores do PT e da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em Pernambuco e sofreu críticas durante a campanha eleitoral por não ter curso superior.
Antes de chegar ao poder, da mesma forma que o presidente da República, ele também colecionou insucessos. Perdeu a disputa às prefeituras de Jaboatão dos Guararapes (região metropolitana de Recife), em 1992, e da capital do estado, em 1996. Quando foi eleito, o prefeito cursava o terceiro ano de Economia em uma faculdade particular. Desde então, a matrícula está trancada.
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