Em negociação para fazer a delação premiada, o empreiteiro Fernando Cavendish, da Delta Engenharia, se comprometeu a revelar detalhes de sua relação com a família do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). De acordo com reportagem da revista Veja, Cavendish disse que seus negócios prosperaram na gestão do ex-prefeito César Maia (DEM), pai de Rodrigo, com a construção do Estádio Engenhão, principal palco dos Jogos Pan-Americanos, em 2007.
Segundo relato do repórter Rodrigo Rangel, o empreiteiro afirmou que o atual presidente da Câmara foi intermediário de R$ 3 milhões repassados por ele à campanha de seu pai à prefeitura do Rio, em contrapartida pelas obras da construtora no Engenhão. Ainda conforme a revista, Cavendish contou que o deputado ganhou outros R$ 500 mil. Primeiro na linha sucessória presidencial, Rodrigo Maia também é citado nas delações premiadas da Odebrecht e da OAS na Operação Lava Jato.
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O presidente da Câmara ainda não se manifestou sobre a reportagem de Veja.
Em prisão domiciliar há seis meses, o empreiteiro negocia sua delação premiada. Segundo a revista, o acordo proposto inicialmente por Cavendish aos procuradores do Ministério Público Federal no Rio de Janeiro “prometem revelações que podem abalar a rotina de governadores, prefeitos e parlamentares”.
“Uma das histórias que Cavendish se dispõe a contar atinge em cheio a linha sucessória da Presidência da República. O empresário diz ter repassado dinheiro ao deputado Rodrigo Maia, do DEM do Rio de Janeiro, presidente da Câmara dos Deputados. Conta que a Delta começou a caminhada em direção ao sucesso quando Cesar Maia, pai de Rodrigo, foi prefeito do Rio, nos anos 1990 e 2000. Nesse período, a empreiteira conquistou contratos de obras de grande porte, como a construção do Estádio Olímpico do Engenhão. Em troca, diz ele, topou fazer agrados à família Maia”, diz trecho da reportagem.
Preso na Operação Saqueador em junho, o empresário também negocia detalhar pagamentos de propina a políticos do PMDB e do PSDB por obras realizadas pela Delta também em São Paulo e Goiás, além de estatais federais como o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e Petrobras. Cavendish, o doleiro Adir Assad e o empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foram denunciados na operação pelo envolvimento em esquema de lavagem de dinheiro de R$ 370 milhões. Os três já haviam sido citados na Operação Monte Carlo, em Goiás, que resultou na cassação do mandato do senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO).
OAS e Odebrecht
De acordo com reportagem publicada no dia 2 pelo jornal O Estado de S. Paulo, o presidente reeleito da Câmara é alvo de um inquérito sigiloso no Supremo Tribunal Federal (STF), baseado na troca de mensagens entre Maia e o empresário Léo Pinheiro, dono da OAS, sobre uma doação de campanha em 2014. Por não ter havido doação oficial registrada, a procuradoria suspeita de caixa dois.
O deputado também é citado em anexo da delação de Cláudio Melo Filho, ex-executivo da Odebrecht, vazado no final do ano passado. Ele contou que pediu a Maia para que acompanhasse a tramitação de uma medida provisória de interesse da empreiteira.
“Durante a fase final da aprovação da MP 613, o deputado, a quem eu pedi apoio para acompanhar a tramitação, aproveitou a oportunidade e alegou que ainda havia pendências da campanha de prefeito do Rio de Janeiro em 2012. Solicitou-me uma contribuição e decidi contribuir com o valor aproximado de R$ 100 mil, que foi pago no início do mês de outubro de 2013”, declarou. Outros R$ 500 mil, segundo ele, já haviam sido repassados ao deputado em 2010.
“Também, preciso esclarecer que consta, em planilha, com referência a meu nome, uma doação feita a Rodrigo Maia em 2010. O deputado me pediu e transmiti a solicitação a Benedicto Júnior. Sei que o pagamento, no valor de R$ 500.000,00, foi atendido sob a condução de João Borba”, relata. Na planilha da Odebrecht, ele aparece como “Botafogo”. As investigações apuram se houve doação legal, caixa dois ou pagamento de propina em cada caso. Quando a proposta de delação veio à tona, Maia disse que todas as doações recebidas por ele foram legais e declaradas à Justiça eleitoral. O parlamentar também negou ter recebido qualquer vantagem indevida.
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