Fábio Góis
O último debate entre os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), em curso na TV Globo, serviu para a discussão de quatro temas sugeridos por cidadãos escolhidos pelo Ibope, em diversos estados brasileiros. No segundo bloco, uma eleitora do Rio fez uma intervenção sobre saneamento básico. Disse que perto de sua casa, em bairro da periferia, há um “valão imenso” que provoca doenças e outros problemas decorrentes do acúmulo de sujeira em épocas de chuva.
“Essa é uma das mais importantes questões. Tenho compromisso de resolver de uma vez por todas a questão das enchentes nas regiões metropolitanas. Meu governo vai investir na prevenção de enchentes”, respondeu Dilma, acrescentando que, graças à falta de investimento governamentais em moradia, pessoas recorrem a “beira de córrego, beira de rio, fundo de vale ou encosta de morro”.
Em sua resposta, Dilma exaltou o Programa Minha Casa, Minha Vida e reforçou parceria com o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, em ações de saneamento básico, por exemplo, na Rocinha, em Manguinhos e no Complexo do Alemão. Generalizando a problemática, a petista disse que aumentará investimentos no setor. “Nem os bairros ricos no Brasil tem saneamento decente. É uma vergonha, em pleno século 21, ainda termos esse problema”, disse, acrescentando que serviços como o de tubulação, que não ficam à mostra exibindo o nome do governante, deixam de receber inevstimento.
Já Serra partiu para o ataque contra a política social de Lula. “O governo federal duplicou impostos sobre saneamento”, fustigou o tucano, para quem os recursos não foram adequadamente aplicados no setor.
Relembrando sua gestão como ministro da Saúde, Serra propôs alterações nos mecanismos de atendimento à população. “Na minha vida, sempre dei muita importância a isso [saneamento básico]. Quando fui ministro da Saúde, investi R$ 2,5 bilhões em bairros carentes”, disse o ex-governador de São Paulo, sugerindo a criação de uma “força nacional de defesa civil”.
Serra citou exemplo recente em que o atual governador de São Paulo, Alberto Goldman, tentou enviar ajuda para as vítimas das enchentes no Nordeste e, graças à burocracia, não conseguiu cumprir a tarefa em tempo hábil. “Não tem estrutura preparada para isso.”
Educação
Na sequência do debate, uma dona de casa baiana quis que os candidatos comentassem os problemas brasileiros na área de educação. “Minha filha me pergunta porque a deixei se formar professora”, lamentou a cidadã.
Serra disse que, uma vez eleito, implementaria um “plano nacional de educação” e promoveria um acordo suprapartidário em busca de um “pacto nacional pela educação”. “A educação se torna instrumento de batalha eleitoral”, queixou-se o tucano, destacando que países como Coréia do Sul e Suécia têm experiências semelhantes exitosas na área.
Dilma resolveu enfatizar a importância da remuneração dos educadores. “Se não houver pagamento digno, não há valorização da sociedade pela profissão do professor”, observou, citando a elevação do piso salarial da categoria, em projeto aprovado na Câmara e no Senado neste ano, que ficou estipulado em R$ 1.024. A ex-ministra da Casa Civil também resolveu atacar o governo tucano e lembrou o episódio em que professores foram recebidos “com cacetete” pela polícia paulista, em julho deste ano, na Universidade de São Paulo, durante o governo Serra.
Serra ignorou a menção de Dilma à violência naquela universidade paulista e disse que passou “a vida inteira dando aula”. O ex-governador também falou sobre a importância do incentivo material e da remuneração, acrescentando que o piso em São Paulo não precisou ser alterado porque “é mais alto”. “Muitos estados não conseguem pagar nem o piso”, retrucou, garantindo que vai ajudar estados a pagar o piso estipulado em lei.
Legislação trabalhista
Um cidadão se queixou do arrocho salarial e quis saber como os candidatos resolveriam a questão. Dilma iniciou a intervenção dizendo que o governo Lula criou 15 milhões de empregos formais. “Meu compromisso é com uma reforma tributária que diminua a oneração de salário”, disse a candidata, acrescentando que proporá a ampliação do enquadramento de empresas no Supersimples, ampliando os mecanismos estimulantes de faturamento. “Isso reduz o tributo que recai sobre ela [a empresa], o que fará com que ela aumente os contratados e garantindo para o país maior nível de emprego.”
Já Serra disse que o Brasil é o país que mais paga imposto sobre folha salarial. “Dá para avançar nessa desoneração. Mas vai tirar da onde? Vai tirar o fundo de garantia? O décimo terceiro? Não dá. Vou ser muito sincero: você não pode perder receita”, ponderou, dizendo que implementou, no governo paulista, mecanismos como o “banco do povo” e programas de concessão de microcrédito com “juros de mãe para filho”. “As pessoas modestas tendem a ser mais responsáveis que as mais ricas em se tratando de financiamento”, concluiu.
Saúde
Uma eleitora mineira fez uma das mais contundentes intervenções da noite. Ela disse que, na propaganda eleitoral gratuita de rádio e TV, saúde pública aparece maquiada, “mas na realidade, tem muita gente morrendo. “Tem gente sofrendo e sendo tratada como lixo. A saúde pública vai melhorar ou vai continuar sendo tratados como animais?”, indagou a mulher.
Serra foi o primeiro a responder. Disse que saúde pública “andou para trás” no governo Lula. Ele sugeriu a criação de uma “rede nacional de unidades policlínicas”, e lembrou que, em sua gestão, 15 mi consultas mês e 40 mil exames foram realizados em São Paulo. Propôs também mais hospitais regionais e atenção às santas casas de misericórdia, que estariam cada vez mais endividadas.
Dilma admitiu as falhas na qualidade da saúde pública no Brasil: “Se a gente não reconhecer que tem, a gente não melhora”, disse, ressaltando a necessidade de fiscalização da qualidade do serviço e o aumentando dos repasses para estados e municípios, de maneira a fortalecer o Sistema Único de Saúde. Ela citou a realização das Unidades de Pronto Atendimento, das policlínicas especializadas, e falou sobre suas pretensões sobre as unidades de atendimento para crianças e mães gestantes – o que chamou de “Rede Cegonha”.
Serra finalizou dizendo que as “unidades filantrópicas recebem muito pouco”. Disse ainda que o governo não enviou legislação ao Congresso sobre o setor e nem deixou tramitar nada parecido no Congresso – referência velada à tentativa de criação da Contribuição Social para a Saúde, estimulada pela maioria governista na Câmara desde o fim da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), mas barrada pela obstrução sistemática da oposição.
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