Congresso em Foco – O senhor teme a expulsão do partido?
Cabo Daciolo – Não acredito que ela vá ocorrer. Entrei com um pedido de reconsideração, não cometi qualquer irregularidade dentro do partido. Os artigos de número 5 e de número 90 do estatuto permite a livre expressão religiosa. Um dos pressupostos do estado laico é a livre expressão religiosa. Tem dois fatos: um é que eu falei que todo o poder emana de Deus, que o exerce de forma direta, também, através do povo. O outro é o caso do pedreiro Amarildo, em que eu saio em defesa dos militares que estão presos há um ano e cinco meses e, em momento algum, os direitos humanos ouviram aqueles militares e seus familiares. Aí eu vou para dentro do Psol, no estatuto do Psol, no artigo de número 6, em que se fala de sociedade igualitária. E eu quero a igualdade, eu quero que os direitos humanos estejam preocupados com a família do pedreiro, para o próprio pedreiro, mas também estejam preocupados com a família dos militares e para todos aqueles militares.
Se o senhor for expulso, não vai ter problema…
Na verdade, eu descarto essa possibilidade. Não vejo argumento que possa me expulsar do Psol hoje…
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Mas consideremos a hipótese. O senhor iria para qual partido?
Nunca nem consegui enxergar isso. Não consigo nem ver essa possibilidade. Sabe o que consigo ver? Consigo ver que, no mês que vem, haverá uma plenária do Psol para uma disputa interna sobre o próximo presidente regional do Psol, no estado do Rio de Janeiro. Eu acredito que, em um futuro bem próximo, possa ser esse presidente. Quero disputar, quero crescer dentro do Psol. Quero ser o presidente do partido no meu estado. Quero poder concorrer, em um futuro bem próximo, ao governo do estado pelo Psol. Quero aprender com o Psol, crescer politicamente com o Psol e produzir para minha nação, para o meu povo trabalhador, para o meu povo da educação, da saúde. Quero combater a terceirização que tentam fazer na saúde do meu estado, quero saúde e educação de qualidade para o meu estado e para o meu país. Segurança de qualidade, transporte de qualidade.
Na sua opinião, o partido está ceifando a sua liberdade?
Já frisei duas vezes em plenário, e pedi para o Psol lembrar de sua letra “L”, da liberdade. Eu quero ser tratado com igualdade e a mesma liberdade que todos os outros parlamentares têm dentro do partido. Uma coisa para enfatizar: quando eu venho para o Psol, todos do Psol já sabiam que eu era militar e que era um homem de Deus, que sempre frisa Deus e Jesus Cristo.
O senhor está dizendo que foi usado pela legenda para atrair os votos que tem no Rio de Janeiro?
Não me sinto nem quero me sentir usado, não seria esse o termo. Só não me sinto sendo tratado com a mesma igualdade e liberdade dos demais. Quero ser tratado da mesma forma dos demais. Da mesma forma que eu respeito todas as ideias de todos os outros parlamentares, eu gostaria que respeitassem e garantissem a igualdade dentro do Psol.
O Psol tem um perfil de vanguarda, é um partido novo, com ideias liberais no comportamento. O senhor, com postura mais conservadora, não se sente na contramão da legenda?
Não me vejo assim. Me vejo como um evolucionário, porque acredito na união entre o cidadão de farda com o cidadão civil. Eu quero a união. Sou militar, estou dentro de um partido em que há uma grande divergência, justamente por lutar pelas causas de esquerda, que eu apoio; pelos trabalhadores, que eu apoio; pelo não à terceirização, nos termos do Projeto de Lei 4330, em que eu apoio o voto não. Então, o partido me completa. Eu gosto do Psol, quero permanecer no partido, quero crescer no Psol, e quero ser compreendido dentro do Psol. Para isso tem de haver diálogo, debate. Eu quero debater com a militância do Psol e com todas as lideranças do Psol.
O deputado Jean Wyllys foi injusto ao criticá-lo, então?
Eu acredito que todos nós, dentro de um partido que prega a liberdade, temos nosso espaço. Eu respeito o espaço do Jean Wyllys, e gostaria que ele respeitasse o meu espaço, e que todos os demais parlamentares também respeitassem. E me tratassem com igualdade dentro do partido.
O que o senhor acha dos partidos que usam candidatos celebridades para aumentar o quociente eleitoral?
Vou falar de coração: isso muito me preocupa. Porque você normalmente não sabe quem está vindo por trás desse que está puxando voto. Normalmente, esse puxador de voto traz junto com ele cinco, seis candidatos a deputado federal, estadual, qualquer que seja o pleito que ele esteja concorrendo, sem que a população conheça esses parlamentares. Assim é também no Senado. Quando concorrem ao Senado, não se sabe quem são os suplentes. Normalmente, a pessoa que ganha as eleições sai, entrando um suplente que você não conhece.
Outro problema é a formação de grupos parlamentares radicais, daí resultando guerras ideológicas no Congresso. Há uma crítica de que o atual presidente da Câmara estaria privilegiando a bancada evangélica e conservadora…
Quero deixar claro aqui que não faço parte de qualquer bancada, que eu respeito todos os partidos, respeito todos os parlamentares. Quero poder dialogar com todos eles, quero respeitar o confronto ou qualquer que seja a diferença de ideias de todos os demais. Eu quero poder exercer a democracia para poder, junto com todos os outros parlamentares que aqui estão, colocar as minhas ideias. Da mesma forma que eu respeito as ideias dos demais, que respeitem a minha também. Respeito todas elas, mas não faço parte de qualquer bancada.
Levantamentos mostram que, de fato, cresceu a tendência conservadora da Câmara. Isso é ruim ou bom para o Parlamento?
Eu prefiro deixar uma coisa bem clara aqui, de extrema importância, para a população de forma geral: que os 513 parlamentares que aqui estão representem o seu estado e os seus eleitores. Esse é o princípio primordial. Eu estou aqui representando 49.831 votos, e 80% deles são militares e familiares de militares. Estou aqui para representá-los, para lutar pelos seus direitos. Mas não só pelos direitos referentes à segurança pública, mas também pelos direitos relativos à saúde, à educação. Pelos direitos de uma nação, de um país melhor, com qualidade para o futuro dos nossos jovens.
Há pessoas que rotulam quem defende o abstrato, a fé religiosa, como lunáticos. Como o senhor responde a quem o chama de lunático?
Eu prefiro viver a loucura de Deus à sabedoria do homem. Quero deixar uma coisa clara: eu não prego religião. No que acredito? Acredito que Deus é criador do céu, da Terra e de tudo o que há. E Ele não habita templos feitos por mãos de homens. Meu corpo é templo do Espírito Santo de Deus. Ele entra e faz morada. Eu não estou aqui pregando religião. Defendendo todas elas. Se quiserem me convidar para ir numa [igreja] católica eu vou, se me convidarem para ir à umbanda, à evangélica, eu vou. E falo para Deus: “Senhor, o que provém do Senhor, que eu absorva. Mas o que não for do Senhor, que passe em branco”. E quero que dizer que concordo quando falam que política e religião não combinam. Política e religião, verdadeiramente, não combinam. Agora, política e Deus… Não existe política sem Deus. O fôlego que está no teu nariz, na minha narina, esse é fôlego de vida. Deus bota e Deus tira, meu amigo. Vou dar uma declaração aqui para ficar bem claro, e eu falei sobre isso hoje: no capítulo 4, versículo 17, de Daniel, fala assim: “Para que todos os homens saibam que o senhor tem o poder sobre toda a Humanidade, Ele coloca e tira o mais simples homem no poder a hora em que Ele quiser”. As pessoas têm de saber que elas estão aqui porque Deus permitiu que estivessem aqui. Mas o mesmo Deus que coloca, também tira.
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