Origami é a arte milenar japonesa de dobrar papel. Ao dobrar um pequeno pedaço de papel, geralmente quadrado, criam-se figuras de animais ou objetos. A junção de vários papéis dobrados, que podem ser da mesma cor ou de cores diferentes, colocados lado a lado, formam imagens do tamanho que se deseja. Por exemplo, um painel.
No ano da comemoração do centenário da imigração japonesa, ocorreram vários eventos no Brasil, promovidos por várias instituições e órgãos públicos e privados. A Câmara dos Deputados, sob a presidência do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), também participou da homenagem aos imigrantes japoneses, lançando no dia 4 de junho de 2008 o “Projeto Origami do Centenário”.
O projeto visava mobilizar pessoas do Brasil e do Japão para construir um painel artístico formado por 500 mil origamis que, colocados lado a lado, formariam as bandeiras do Brasil e do Japão. O resultado é o painel colocado na Câmara dos Deputados com as bandeiras do Brasil e do Japão, lado a lado.
Por ocasião do lançamento do “Projeto Origami do Centenário”, muitas pessoas, naquele momento, participaram, dobrando um pedaço de papel para fazer parte do painel. Lembro-me que, como membro da Comissão de Relações Exteriores e Segurança Nacional, também participei. Se quem montou o painel usou-o ou não eu não sei, mas todas as vezes em que passo diante do painel orgulhosamente penso que, ali, tem um origami dobrado por mim.
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Claro que, como a maioria dos que participaram, fui orientado sobre como dobrar. Também fomos informados sobre a cultura do origami e a crença de que, ao fazer mil origamis, faz-se um pedido. E que se pode vê-lo atendido. O painel tem 500 mil origamis e em cada um deve ter um pedido escrito. Esta era a orientação: escrever um pedido antes de fazê-lo. Fiz o meu.
Será que entre os 500 mil pedidos pelo menos um será atendido?
Semana passada, um grupo de fascistas, gritando o nome do juiz Sérgio Moro e pedindo a volta da ditadura militar, invadiu o Plenário da Câmara dos Deputados. Entre eles estava uma inteligente mulher que, no corredor, ao passar diante do painel resultado do “Projeto Origami do Centenário”, em vez de ler a explicação afixada na plaquinha ao lado, pôs-se a discursar contra o comunismo. Meu Deus, que burrice.Concluo que, se ela não lê a explicação ao lado, não conhece a bandeira do Japão, tampouco saberá o que é comunismo.
A inteligente militante fascista e admiradora de Sérgio Moro discursou: “No Congresso Nacional, nós nos deparamos com uma cena nojenta. Reparem aqui. A nossa bandeira com um símbolo vermelho comunista. O que está acontecendo? Essa será a nova bandeira do Brasil?”.
Não satisfeita com seu profundo conhecimento dos símbolos nacionais e do que é comunismo, continuou: “Olha, isso. A nossa bandeira não será mais como nós conhecemos. Veja, como será a nossa bandeira, uma bandeira comunista”.
Isso me dá uma profunda tristeza, pois foi esse tipo de gente inteligente que bateu panela e foi para a rua pedir o golpe contra Dilma Rousseff. Pior: há aqueles que, ao ouvirem as batidas das panelas e os inteligentes discursos, pediram para que os congressistas ouvissem a voz das ruas e aceitassem o golpe.
Pedido aceito. Golpe concretizado. Com isso, fascistas ganharam forças e dia a dia temos assistido, além de discursos burros, a agressividade, não só discursiva, mas inclusive física dessas pessoas.
Clamando o nome de Moro e pedindo ditadura militar, invadem um dos Poderes da República. Sequer sabem que, na ditadura, em vez de serem retirados – e, pelo que eu saiba, nada ter acontecido até o momento –, estariam todos presos.
Esse grupo cometeu um atentado contra a democracia e a Constituição – mas, como vivemos num Estado de exceção, nada deve ocorrer.
Imagine o inverso: um grupo invadindo a Câmara e gritando o nome do Lula. Estariam todos na cadeia e a mídia dedicaria horas e horas de manipulação, cobrando punição aos invasores e a Lula.
Mas, de um momento para outro, todos os que recentemente “ouviram” as vozes das ruas perderam a audição. Creio que estão felizes, pois estão poupados de ouvir as burrices do tipo daquela senhora frente ao painel das bandeiras do Brasil e do Japão. E não sofrem pela agressão ao alheio.
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