Faixa de pedestres É aqui que o brasiliense sente-se poderoso, nem que seja por alguns segundos, diante-dotodo-poderoso-automóvel, que é obrigado, por lei, a parar. Basta estender o braço e dar “sinal de vida” que para mesmo. Essa mudança de atitude começou em 1997 com a campanha Paz no Trânsito, que uniu agências locais, imprensa e sociedade (e com a aplicação de algumas multas…). Isso mostra que é possível mudar uma prática cultural. Verdadeiro fenômeno social de sucesso, o respeito à faixa de pedestres tem tudo para virar tradição. Aliás, aqui já virou. Produto de exportação made in Brasília!
Família Em Brasília vive um fotógrafo cuja história pessoal se confunde com a da própria cidade. Co-fundador da UnB, onde foi professor. Trabalhou nos grandes jornais e revistas e, durante a ditadura militar, uma foto sua e seu olhar crítico valiam por uma reportagem inteira. Testemunha ocular da história, foi um ácido e irônico cronista, por meio de imagens, dos anos de chumbo. Mas, no fundo, o que ele gostava mesmo de fotografar era a sua família, com ensaios de grande carga afetiva, resgatando o banal e transformando-o em arte. O nome dele é Luis Humberto Miranda Martins Pereira.
Leia também
Fantasmas Além dos que infestam alguns órgãos públicos, em Brasília os fantasmas se concentram no Teatro Nacional Claudio Santoro. Certa vez um guarda noturno me contou a seguinte história: altas horas da noite ouvia-se tocar o piano da sala de ensaios. Ninguém ousava ir lá. No dia seguinte pela manhã encontraram a tampa do teclado aberta e um gato dormindo entre os pedais. O felino, durante a noite, caminhava sobre o teclado.
Feira da Torre Do início dos anos 1970 até 2011 a Feira da Torre ficava embaixo da enorme estrutura que sustenta a Torre de TV. Hoje a feira está um pouco mais afastada, com boxes organizados, bem moderna. Muito nova ainda, parece Brasília no seu início. Poucas árvores, um ar meio artificial… mas nada que o tempo não consiga humanizar. Era (e ainda é) um bom lugar para soltar pipa, namorar, comprar cata-vento, comer o famoso “acarajé da torre” e o tacacá paraense. Ideal para comprar roupas e acessórios, era lá que montávamos o visual adolescente. Mais que Feira da Torre, era a nossa Feira Hippie. Um detalhe: o projeto da Torre de TV não é de Oscar Niemeyer, mas sim de Lucio Costa, numa singela homenagem à Torre Eiffel, pois o urbanista nasceu na França. Pra finalizar, bom é começar uma visita a Brasília pelo mirante da Torre de TV.
Festas juninas Ou festas julinas, agostinas. Que um mês é pouco para festejar São João. Nas escolas, nas igrejas, nas quadras, nos clubes. Nas paróquias, nas casas… É hora do congraçamento do brasiliense, do encontro, das prendas, reviver as brincadeiras de infância, maçã do amor, correio elegante, soltar balão e pular a fogueira. Brasileiríssima, numa mesma festa junina em Brasília você encontra um sanfoneiro gaúcho, um cantador carioca e um locutor paulista, prova maior do caldeirão cultural que serve o melhor quentão do Brasil. Olha a chuva! É mentira! Olha a cobra! É mentira! Olha o livro sobre Brasília que não fala das festas juninas! É mentira!
Ficus elastica É aquela árvore enorme, cujas raízes ao atingirem o solo viram troncos. Parecem centenárias e dão a Brasília um certo ar de cidade milenar. Plantadas em meados dos anos 1960, também conhecidas como falsas-seringueiras, podem ser encontradas nas quadras 406 e 705 Norte, na 207 Sul, na UnB e nos jardins da Câmara dos Deputados. Algumas árvores, por seu porte gigantesco, tiveram de ser arrancadas. Filhas de JK O nome das esculturas, em bronze, no espelho d’água do Palácio da Alvorada é As Iaras, mas as conhecemos como As Banhistas, obra de Alfredo Ceschiatti. Mostram duas mulheres com as mãos na cabeça. Dizem que são as filhas de JK puxando os cabelos, pois não queriam vir morar em Brasília.
Filmes Com a palavra, o cineasta paraibano-candango Vladimir Carvalho: “Pelo jargão do cinema: Brasília foi uma superprodução bancada por JK, com roteiro de Lucio Costa e direção de Niemeyer. Um belo ‘filme’, ao mesmo tempo obra aberta e hermética.” Brasília, câmera, ação! Numa ordem cronológica, estes são fundamentais:
• Fala, Brasília (1965) – de Nelson Pereira dos Santos
• Brasília – Contradições de uma cidade nova (1967) – de Joaquim Pedro de Andrade
• Brasília segundo Feldman (1979), de Vladimir Carvalho
• Os anos JK (1980), de Silvio Tendler
• A Idade da Terra (1980), de Glauber Rocha
• Taguatinga em pé de guerra (1982), de Armando Lacerda.
• O sonho não acabou (1982), de Sérgio Rezende
• Conterrâneos Velhos de Guerra (1990), de Vladimir Carvalho
• Honestino (1992), de Maria Coeli Almeida Vasconcelos
• Inferno no Gama (1993), de Afonso Brazza
• Louco por Cinema (1994), de André Luiz Oliveira
• A invenção de Brasília (2001), de Renato Barbieri
• Barra 68 (2002), de Vladimir Carvalho
• O Risco: Lucio Costa e a Utopia Moderna (2002), de Geraldo Mota Filho
• A Concepção (2005), de José Eduardo Belmonte
• Romance do Vaqueiro Voador (2006), de Manfredo Caldas
• Macacos me mordam (2006), de Érico Cazarré
• Nada consta (2006), de Santiago Dellape
• Insolação (2009), de Felipe Hirsch e Daniela Thomas
• Braxília (2010), de Danyella Proença
• Simples Mortais (2010), de Mauro Giuntini
• Deus (2011), de André Miranda
• A cidade é uma só (2012), de Adirley Queirós
• Meu amigo Nietszche (2012), de Fáuston da Silva
• Somos tão jovens (2013), de Antonio Carlos Fontoura
• Faroeste Caboclo (2013), de René Sampaio
• Branco sai, preto fica (2014 ), de Adirley Queirós
• Geração Baré-Cola – Usuários de Rock (2014), de Patrick Grosner
• O último Cine Drive-in (2014), de Iberê Carvalho.
Forca JK visitava regularmente as obras durante a construção de Brasília. Certa vez chegou a um edifício e perguntou ao engenheiro: “Esta obra fica pronta para a inauguração?” “Presidente, com todo o respeito, o prazo está bem apertado”. E JK: “Olha, se não estiver pronta vou mandar te enforcar naquela árvore ali”. O engenheiro, assustado, esperou JK ir embora e chamou um candango que passava: “Vai no barracão, pega um machado e corta aquela árvore. Agora!”
Fotografias Henrique Morize, fotógrafo da Missão Cruls, pioneiríssimo. “Marco Zero”, a primeira estaca, a foto clássica de Mário Fontenelle. Estes livros de fotografias registram:
• Brasília, sonho do Império, Capital da República, Luis Humberto (1980)
• Brasília ano 20 – Depoimento de 35 fotógrafos de Brasília (1980)
• Minha mala, meu destino, Mário Fontenelle (1988)
• Brasília sob o olhar de Jesko, Wolf Jesko von Puttkamer (2000)
• Brasília Abstrata Concreta,Wagner Hermusche (org.) (2003)
• Iluminada Capital, Orlando Brito (2003)
• Nas asas de Brasília, João Facó (2003)
• Brasília, 25 anos de fotojornalismo, Ivaldo Cavalcante (2004)
• Brasília – Monumentos, Marcos e Esculturas, Roberto Castello (2005).
• Arquivo Brasília, Lina Kim e Michael Wesely (2010)
• Brasília Submersa, Beto Barata (2010)
• Brasília, Marcel Gautherot (2010)
• Parque Nacional de Brasília, 50 anos, João Paulo Barbosa (org.) (2010)
• Brasília, uma arquitetura familiar, Débora Amorim, (2011)
• Céu de Brasília, Bento Viana (2012)
• As mais longes do mar, Truman Macedo (2013)
Outros verbetes de BRASÍLIA-Z – Cidade-palavra, de Nicolas Behr:
Brasília de A a Z: o que diz o A
Brasília de A a Z: o que diz o B
Brasília de A a Z: o que diz o C
Deixe um comentário