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Os três brasileiros terão uma atuação sui generis, como explicou ao Congresso em Foco o professor de Relações Internacionais das Faculdades Rio Branco Demétrius Pereira, especialista em Política Européia. “A atuação dos políticos italianos [ou ítalo-brasileiros] no exterior será, realmente, de fortalecer a rede consular, melhorar o atendimento ao italiano que esteja residindo fora do país. É um reforço ao Ministério de Relações Exteriores, especialmente aos consulados italianos na América Latina”, declarou o acadêmico.
Doutor em Ciência Política e mestre em Relações Internacionais, Demétrius acha que os brasileiros recém-eleitos não concentrarão esforços em temas como a crise econômica italiana, mas sim representar quem está fora da Itália. “Eles não vão estar exatamente defendendo os interesses dos italianos residentes na Itália, que são os mais afetados pela crise. Parecem um pouco na contramão de, realmente, buscar uma solução para a crise. Eles podem até defender os interesses dos italianos que estão saindo da Itália, fugindo da crise, ou até preparando o terreno para os italianos saírem mesmo da Itália para o Brasil”, acrescentou o estudioso, ressaltando o “papel meio diplomático” dos brasileiros.
“Isso não deixa de ser um apoio ao italiano que realmente acha que a solução da crise é não ficar na Itália, e sim buscar uma solução em outros lugares. É uma saída, só que de fuga. É um pouco contraditório o papel deles: resolver o problema só pra quem foge”, acrescentou Demétrius, lembrando dos cidadãos italianos submetidos aos altos encargos tributários praticados no governo do ex-primeiro-ministro Mário Monti (2011-2012), que se viu obrigado a uma política de austeridade em tempos de crise. Monti ficou em quarto lugar nessas eleições.
Primeira brasileira
Além da reforçar a diplomacia entre os países, a eleição para o Parlamento italiano traz um componente inédito. O país já teve como representantes brasileiros natos. Agora, é a vez da primeira brasileira assumir o mandato de deputada: a brasiliense Renata Bueno, 33 anos. E chega ao Poder estrangeiro em meio a uma indefinição política que inviabiliza a chamada “governabilidade”.
Parlamentares de correntes ideológicas diversas ainda têm de referendar o nome do próximo presidente daquela república. O líder de centro-esquerda Pier Luigi Bersani conquistou maioria na Câmara, mas não no Senado, quadro que não permite o apoio majoritário a leis e políticas que viabilizem a ação do governo – o sistema de governo vigente na Itália é o parlamentarismo.
Nesse sentido, Bersani precisa da possível adesão do Movimento Cinco Estrelas, encabeçado pelo humorista Beppe Grillo, e da improvável aceitação do agrupamento de centro-direita liderado pelo ex-premiê Silvio Berlusconi. Caso não haja acordo, novas eleições têm de ser realizadas.
“É uma situação difícil. Vai depender de como vai ser formado esse novo bloco de governo. Nós fomos convocados para a formação do novo parlamento já no próximo dia 12. E, no dia 15, estaremos elegendo o novo presidente da República Italiana. É um momento novo para a Itália e para a Europa”, explicou Renata ao Congresso em Foco, em entrevista concedida do Paraná, onde celebrou a conquista ao lado do pai, o líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR).
Ítalo-brasileira, Renata Bueno diz estar pronta para uma eventual campanha extra. Correligionária de Bersani, ela confirmou sua eleição em na madrugada de 27 de fevereiro. Candidata mais nova de sua chapa, ela foi eleita com cerca de 21 mil votos colhidos no Brasil e 18 mil na Argentina – nesse tipo de votação, os aptos a votar o fazem por meio de cédulas a serem encaminhadas a consulados italianos. Nessas eleições, apenas ela e Fausto Longo são brasileiros natos. Nascido na Sicília, Fabio Porta mora desde 1998 no Brasil e tem filiação brasileira. Ele foi reeleito para o cargo de deputado.
Modus operandi
A eleição italiana foi realizada nos dias 24 e 25 de fevereiro. Mas o procedimento de votação de expatriados italianos e ou brasileiros com dupla cidadania na América Latina é feito com antecedência, por meio de correspondência. Descendentes de italianos residentes em outros países também podem ser candidatos, segundo lei promulgada em 2000, desde que tenham cidadania reconhecida naquele país.
Cerca de um milhão de italianos que moram no continente e sulamericanos com dupla cidadania recebem em casa a cédula de votação. Nesse ano, o voto tinha de ser enviado a consulados italianos entre 4 e 21 de fevereiro. Para a Câmara, puderam votar eleitores com mais de 18 anos, com apenas duas escolhas. Já para o Senado só é permitida a votação por maiores de 25 anos, com voto em apenas um nome. São aproximadamente 400 mil italianos residentes no Brasil, mas apenas 290 mil aptos a votar.
Formado por 315 senadores e 630 deputados, o Parlamento Italiano foi dissolvido no final de 2012 pelo presidente Giorgio Napolitano, depois da renúncia do então primeiro-ministro Mário Monti – as eleições deste ano tentam recompor a situação pós-ressaca provocada pelo magnata da comunicação Silvio Berlusconi, que deixou o posto de primeiro-ministro depois de protagonizar escândalos variados.
O legislativo italiano dedica espaço à integração internacional: desde 2006, seis vagas no Senado e 12 na Câmara estão reservadas a italianos que moram no exterior – a América do Sul elege dois representantes em cada Casa. Há até pouco tempo, era apenas uma a vaga sulamericana.
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