Em meio às novas denúncias de corrupção em ministérios – desta vez na pasta da Agricultura, feudo do PMDB –, o senador Blairo Maggi (PR-MT) reforçou nesta segunda-feira (8) o coro do ex-ministro dos Transportes e presidente nacional do PR, Alfredo Nascimento, de que seu partido não é “lixo”. Um dos principais nomes da legenda no Senado, Blairo adiantou que algumas correntes do PR defendem não o “apoio crítico” ao governo Dilma Rousseff – como decidiu, na semana passada, a bancada no Senado ao deixar o bloco da Maioria –, mas o rompimento irrestrito com o Planalto.
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Desde que foram noticiadas as primeiras denúncias de superfaturamento em obras, contratos fraudulentos e até pagamento de propina supostamente operados pelo PR junto ao Ministério dos Transportes e estatais subordinadas, mais de 30 pessoas, a maioria ligada ao partido, foram exoneradas de suas funções – inclusive Nascimento –, no que o governo resolveu chamar de “faxina ética” na pasta.
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A não repetição do procedimento na Agricultura, onde o ministro peemedebista Wagner Rossi enfrenta notícias de irregularidades, tem agravado a insatisfação de parlamentares do PR em relação ao Planalto. Eles cobram que Dilma dê aos ministros do PMDB o mesmo tratamento que a presidenta deu ao PR, sob a ameaça de que a base de apoio no Senado seja encolhida em seis nomes (7,4%) e, na Câmara, em 42 representantes (8,1%).
O assunto será tratado em um jantar a ser realizado nesta terça-feira (9), em Brasília, reunindo as bancadas do PR na Câmara e no Senado. Segundo Blairo, três hipóteses podem ser consideradas acerca da relação entre PR e governo federal daqui em diante. E uma delas será anunciada após a reunião, o que já mobiliza a articulação do governo no Congresso.
“No PR hoje tem três correntes: uma que quer se afastar do governo; uma outra que quer independência, porém, na base; e a outra que quer ser governo, com todos os ônus e bônus. No meu entendimento, que eu vou defender na reunião, eu defendo que o partido tenha independência, sem cargos no governo, para que ele possa apoiar, criticar e levar uma vida tranquila”, disse o senador há pouco ao Congresso em Foco.
Blairo disse acreditar que é possível fazer política sem ter cargos importantes no governo, como ministérios e chefia de estatais como o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dni) – cujo ex-diretor-geral Luiz Antonio Pagot também é dos quadros do PR e foi exonerado por determinação do Planalto. “Eu, por exemplo, não tenho nenhum [cargo] e não desejo tê-los”, acrescentou Blairo, responsável pela indicação de Pagot ao Dnit.
Feridas que não curam
Mas o líder do PR na Câmara, Lincoln Portela (MG), disse ao Congresso em Foco que o partido não vai deixar a base de apoio ao governo – decisão que reflete o que pensa a totalidade de seus liderados na Casa – e continuará votando com o governo. O problema, diz, são os parlamentares “independentes” da legenda, principalmente no Senado, que defendem mais autonomia no Congresso.
“Um Paulo Paim [senador do PT gaúcho], por exemplo, o PT não controla; um Miro Texeira [deputado do PDT fluminense], compõe a base do governo, mas tem postura independente; um Paulinho da Força [deputado do PDT paulista]; um Garotinho, do meu partido. Mesmo sendo base, a gente não controla, até porque não estamos fechando questão”, declarou o deputado mineiro, listando parlamentares que não obedecem as orientações partidárias incondicionalmente.
À frente de um bloco de 52 parlamentares e mais seis partidos na Câmara (PTdoB-PRTB-PRP-PHS-PTC-PSL), Portela disse que, em reunião realizada em sua casa em Brasília, na semana passada, todos os deputados presentes manifestaram, “depois de desabafos”, a preocupação com a “governabilidade” – recado para os supostos abusos da oposição, que poderia capitalizar politicamente a crise em ministérios.
“Queremos ser governo para manter a governabilidade do país. Somos da base”, disse Portela, rejeitando a hipótese levantada por Blairo Maggi e garantindo que o jantar “não será propriamente” para tratar das “cicatrizes” do PR, mas sim uma “reunião de reinício dos trabalhos, para alinhamento do Senado com a Câmara”, para deliberar sobre “projetos comuns”. Para simbolizar tal alinhamento, o deputado lembrou ter ido a uma reunião com a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) acompanhado do senador Clésio Andrade (PR-MG).
Portela garantiu ainda que, seja qual for o tratamento da presidenta Dilma aos aliados nos ministérios, o PR não vai retaliar (“Diria que faríamos por rancor; não seria genuíno de nossa parte”). Mas deu um recado para a petista. “Nós estamos cuidando de nossa vida. Da governabilidade, a presidente cuida. Ela é quem sabe o que é o melhor para a governabilidade, não é?”, completou o parlamentar, que é radialista e comunicador, ressaltando o papel “impecável” da imprensa, a quem cabe lançar “luz” sobre os fatos.
“Cabe à presidente da República, cabe à oposição e à imprensa fazer o trabalho que tem de ser feito. Como líder de bancada, não vou me levantar contra outro partido para poder pedir algum tipo de compensação”, declarou o deputado, fazendo ainda referência ao ex-ministro Alfredo Nascimento. “Há feridas que se curam com o tempo; e há feridas que não se curam nunca mais.”
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