Estamos no desenlace da peça Orestes, de Eurípedes, e a tragédia é eminente. O personagem principal mantém a prima Hermione como refém, com a espada a roçar-lhe a garganta. Ele ameaça não só matá-la como atear fogo ao Palácio Real caso o seu tio Menelau não convença os habitantes da cidade a livrá-lo da pena de morte.
Orestes havia recebido ordens de Apolo para assassinar a própria mãe, Clitmnestra, tendo cumprido com o desejo divino, mas fora condenado pelo crime. Mais do que esperar por uma reversão da pena, o matricida busca mesmo é vingar-se do tio, que não teria feito esforços para defendê-lo durante o julgamento.
Diante dessa situação, nos resta apenas esperar por mais mortes e destruição. Mas, para os dramaturgos gregos, havia sempre a possibilidade de promover uma reviravolta na história, um recurso que ficou conhecido como deus ex machina.
A expressão latina, que significa literalmente “o Deus surgido da máquina”, alude à prática de introduzir um personagem divino no final da peça – que baixava ao palco por meio de um guindaste, daí o nome – para resolver os impasses da trama. No caso de Orestes, é o próprio Apolo que surge em pessoa para evitar o pior. Fora do ambiente teatral, a expressão deus ex machina faz referência a alguém que surge do nada, inesperadamente, para resolver um problema ou uma situação aparentemente insolúvel.
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Candidatos outsiders
Vejamos o caso das eleições presidenciais: boa parte do noticiário dos últimos meses girou em torno das especulações de candidaturas de nomes alheios ao mundo político (como Joaquim Barbosa e Luciano Huck). Não foram poucos também os que lamentaram a impossibilidade de se ter candidaturas avulsas no Brasil.
No fundo, todas essas discussões revelavam o desejo pelo aparecimento de um deus ex machina que pairasse sobre os escombros do nosso sistema político-partidário e resolvesse, como que por milagre, os impasses e divisões profundas da sociedade brasileira.
Nada mais natural que esse desejo de salvação; nada também mais perigoso. Voltemos à tragédia de Orestes e vejamos como Apolo impõe sua solução: Hermione, a pobre donzela ameaçada pela espada, terá que se casar com o seu algoz. Com isso, Menelau será obrigado a receber o sobrinho chantagista e homicida como seu genro.
O deus que surge dos céus impõe uma conciliação que nos parece forçada, artificial, e que tem tudo para dar errado. A tragédia, assim, nos mostra que as salvações impostas por alguém “de fora” podem trazer embutidos custos que talvez não estejamos dispostos a pagar! Melhor, então, tentarmos resolver os problemas entre nós mesmos, apesar de nossas evidentes limitações…
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