Dia desses meditava sobre aquela placa que a imaginação de Dante Alighieri afixou no portal do inferno: “deixai toda esperança, vós que entrais”. Eis aí o suplício maior dos condenados – afinal, sem esperança, que espírito poderá resistir?
Contemplando nosso país, fico a pensar em quanta coisa defendemos, cada qual em sua trincheira, ao longo das últimas décadas! Fomos às ruas clamando pelo fim da corrupção, pedindo eleições justas, combatendo o coronelismo, denunciando a tortura e lutando por justiça. Praticamente imploramos por uma melhor infraestrutura e gritamos por socorro diante de índices intoleráveis de criminalidade.
Empunhando tão nobres bandeiras, enfim, cada bom brasileiro fez a sua parte, com idealismo e sacrifício, sujeitando-se a violências e represálias – para tudo dar em nada! Aliás, até piorou – olhe pela janela e contemple o provincianismo mais medíocre e corrupto reafirmando-se e sufocando nossa ânsia por um país mais moderno e cosmopolita.
Enquanto isso, envelhecemos. Passa a apertar-nos o coração a sensação de que não veremos a sociedade menos injusta ou o Brasil grande dos nossos sonhos. O desânimo bate à porta, mascarado de cansaço. É quando começamos a nos calar, contagiando as gerações mais novas, já desiludidas e carentes de esperança diante do gargalhar dos maus.Leia também
Atordoados diante do nosso aparente fracasso em melhorar este mundo, acabamos nos esquecendo de que o nosso tempo não é o de Deus, como bem o demonstrou Gandhi, do alto de sua sofrida luta para libertar o povo indiano: “quando me desespero, lembro-me de que em toda a História a verdade e o amor sempre venceram. Houveram tiranos e assassinos, e, por um tempo, pareciam invencíveis, mas, no final, sempre caíram. Os fortes só o são por um instante, como o sonho de uma tarde que dura apenas um momento. No final, são sempre destroçados. São como poeira ao vento. Pense nisso. Sempre”.
Está aí, no fato de que somos apenas uma efêmera presença em um milenar processo histórico, o chamado a que não deixemos de fazer a nossa parte, com aquela firmeza serena da profética frase brandida por Paulo Coelho em defesa do povo iraquiano, quando seu país era invadido: “que sua manhã seja linda, que o sol brilhe nas armaduras de seus soldados, porque durante a tarde eu o derrotarei”.
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