Os ex-executivos da Construtora Odebrecht João Antônio Pacífico e Ricardo Roth Ferraz afirmaram aos procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato que realizaram repasses no total de R$ 966 mil, por meio de caixa dois, ao ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda (PR) “a pretexto de campanha eleitoral em 2014“. Os dois falaram sobre irregularidades na apresentação de proposta de cobertura na licitação do BRT Sul de Brasília/DF.
De acordo com os delatores, Sérgio de Andrade do Vale, empresário e assessor de Arruda, foi o operador no repasse dos valores. Os pagamentos foram realizados em duas parcelas, sendo uma em junho e outra em setembro de 2014. Arruda era identificado com o codinome “Parreira”. Ex-governador do DF e ex-senador da República, Arruda sugeriu formação de uma coalizão de empreiteiras que dividiram o comando de obras na capital.
Leia também
Além do BRT Sul, o dinheiro também estaria vinculado à polêmica obra do Centro Administrativo do GDF, executada em parceria com a Via Engenharia. O contrato para a construção foi firmado na gestão de Arruda no GDF. Uma construção de 182 mil m² de área, que já consumiu R$ 1 bilhão.
Objeto de uma parceria público-privada (PPP) firmada ainda no governo de José Roberto Arruda, em 2009, o projeto do novo centro administrativo do governo do DF chega à segunda metade da gestão do governador Rodrigo Rollemberg (PSB) sem previsão de desfecho. O Centro Administrativo foi idealizado para abrigar em Taguatinga (DF), cidade localizada a 20 quilômetros da região central de Brasília, o governador, o vice, o secretariado e outros 13 mil servidores, sob o argumento de que era preciso descentralizar as decisões do Executivo local e aliviar o trânsito no Plano Piloto.
O complexo – que reúne um prédio de 7.541 m² para abrigar a governadoria, outros dez de quatro andares e quatro torres de 15 pisos – foi inaugurado a toque de caixa, mesmo sem estar em condições de receber o funcionalismo, no último dia do governo Agnelo Queiroz, em 31 de dezembro de 2014.
Naquela data, o então governador substituiu o administrador regional Taguatinga, Antônio Sabino, por Anaxímenes Vale dos Santos, que no mesmo dia liberou a carta de “habite-se” parcial do Centro Administrativo, o que permitiu a inauguração da obra. Por causa disso, Agnelo e Anaxímenes tiveram os bens bloqueados a pedido do Ministério Público, que viu na troca do administrador e na liberação imediata da construção uma manobra de cunho político e promoção pessoal.
PublicidadeO BRT Sul
Em sua delação, o colaborador Ricardo Roth disse aos procuradores que, por volta de 2008, foi procurado por Luiz Ronaldo Wanderley, diretor da Via Engenharia, e por Lunguinho, diretor da empreiteira OAS, que lhe solicitaram que a Construtora Norberto Odebrecht apresentasse proposta de cobertura na licitação do BRT Sul do Distrito Federa – o expresso que liga Gama e Santa Maria ao Plano Piloto.
Entre 2008 e 2009, Ricardo Roth disse ter recebido convite, possivelmente de Márcio Machado, então Secretário de Obras do Distrito Federal, para que a Construtora Norberto Odebrecht enviasse um representante a um jantar de confraternização que seria promovido pelo então governador José Roberto Arruda em sua residência oficial, em Águas Claras, com os executivos das principais construtoras que atuavam no Distrito Federal na época, na qual João Pacífico compareceu representando a empresa.
Na ocasião, Arruda aproveitou a oportunidade para questionar os executivos sobre o andamento de obras e projetos em curso e ouvir dos executivos presentes as eventuais providências a serem tomadas pela sua equipe de governo para dar celeridade aos projetos. Pelas articulações, Arruda recebeu os repasses mencionados e responderá na Justiça do Distrito Federal pelas suspeitas.
Assista ao depoimento de Ricardo Roth Ferraz:
Deixe um comentário