As divergências ficaram claras na reunião da bancada na Câmara, na última terça-feira (20), quando dois grupos, praticamente do mesmo tamanho, marcaram posições antagônicas. De um lado, defensores da manutenção de Cunha na presidência como única forma concreta de viabilizar o impeachment. Do outro, parlamentares que não confiam no peemedebista e só veem prejuízo na permanência dele no cargo. Alguns deles, inclusive, admitiram que a insistência com a pauta do impeachment e a incerteza sobre a aprovação do processo no Congresso desgastam o partido.
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O assunto também opõe senadores e deputados: lideranças da bancada no Senado criticam a postura dos tucanos da Câmara de não pedirem de maneira incisiva a saída de Cunha da presidência. Por outro lado, mesmo deputados que apoiam o rompimento imediato com o peemedebista questionam a proximidade dos senadores do partido com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), também investigado na Operação Lava Jato e considerado atualmente o aliado mais importante do governo no Congresso, inclusive na estratégia de barrar o impeachment.
“Herói do impeachment”
Nas palavras de um dos participantes da reunião de terça-feira, parte da bancada na Câmara ainda vê Eduardo Cunha como uma espécie de “herói do impeachment”. Esse grupo, capitaneado pelo líder do partido, Carlos Sampaio (SP), entende que é preciso dar tempo a Cunha para que ele viabilize a abertura do processo contra a petista.
Na avaliação dessa ala, esse caminho poderá ser encurtado na próxima semana caso o Supremo Tribunal Federal (STF) aceite o recurso da oposição contra as liminares dos ministros Teori Zavascki e Rosa Weber que barraram o rito do impeachment definido pelo peemedebista.
PublicidadeSe a regra proposta por Cunha for mantida, o número de votos exigidos para o início do procedimento será reduzido. Isso ocorreria se o peemedebista rejeitasse o pedido de impeachment e a oposição recorresse ao plenário. Nesse caso, em vez dos três quintos exigidos para a aprovação (342 votos), o quórum poderia cair, em tese, para até 129 deputados (desde que presentes 257 deputados). A manobra já estava acertada entre Cunha e oposicionistas, segundo informações de bastidor.
“Ética seletiva”
Mas, de acordo com parlamentares tucanos ouvidos pelo Congresso em Foco, cerca de metade da bancada do PSDB rejeita salvar Cunha em troca do impeachment. Para esse grupo, a constatação de que o presidente da Câmara mentiu ao dizer que não tinha conta na Suíça e a denúncia feita pelo procurador-geral da República contra ele no Supremo, por corrupção, tornaram insustentável a manutenção do apoio ao peemedebista.
Continuar com Cunha, ainda que sob o pretexto de levar adiante o impeachment, argumentam, deixa o partido suscetível à crítica de que se pauta por uma “ética seletiva” – marcada pelo discurso implacável contra o PT e o governo, mas tolerante diante de um “aliado de ocasião”, que joga com o Planalto e com a oposição para se manter na presidência da Casa.
Dúvida sobre impeachment
Também não há consenso sobre o impeachment de Dilma. “Parte da bancada vê a aprovação do pedido de impeachment como fim do processo. Mas, na verdade, é apenas o início. Sejamos claros: não temos hoje os 342 votos necessários para que o processo siga para o Senado e não há no país pressão dos movimentos sociais pelo impeachment”, disse um deputado tucano sob a condição de anonimato.
Outros dois parlamentares do PSDB ouvidos pela reportagem também entendem que o partido não pode se tornar refém da pauta do impeachment. Na visão deles, é necessário que a legenda atue de maneira mais propositiva diante do cenário de agravamento da crise econômica. O melhor caminho, apostam, seria a cassação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do diploma da presidente Dilma e do seu vice, Michel Temer (PMDB), o que permitiria a realização de nova eleição. Afastar apenas Dilma empurraria o PSDB para um eventual governo Temer – posição que desagrada a parte dos tucanos.
Na reunião de terça-feira, um dos integrantes da bancada na Câmara chegou a defender que o partido obstrua todas as votações em plenário para pressionar Cunha a se afastar do comando até que as investigações fossem concluídas. A proposta, porém, não foi sequer discutida.
O deputado Max Filho (PSDB-ES), único integrante do partido a assinar o pedido de cassação de Cunha encabeçado pelo Psol, pela Rede e por outros 40 parlamentares, chegou a ser questionado por sua decisão, tomada sem consulta à bancada. O deputado, que não retirou a assinatura, explicitou seu posicionamento em plenário, na quarta-feira, para justificar sua decisão: “Apoio o afastamento do presidente da Câmara e da presidente Dilma”.
Cobrança no Senado
Se houve crítica por parte da bancada na Câmara, o apoio de Max à cassação de Cunha foi saudado por lideranças do PSDB no Senado, como o atual líder, Cássio Cunha Lima (PB), o ex-líder Aloysio Nunes Ferreira (SP) e o ex-presidente do partido Tasso Jereissati (CE). Presidente da legenda, o senador Aécio Neves (MG) não se pronunciou sobre a posição do deputado. Segundo o jornal O Estado de S.Paulo, ele intercedeu no início desta semana para evitar que a oposição divulgasse nova nota cobrando a saída de Cunha.
Na semana passada, Cássio Cunha Lima cobrou publicamente da bancada na Câmara que reveja o apoio ao peemedebista. Para o líder do PSDB no Senado, o partido “errou, no mínimo, pela lentidão” ao pedir o afastamento de Eduardo Cunha da presidência da Casa e já deveria ter “desembarcado” do apoio assim que foi confirmada a existência de contas bancárias de Cunha e familiares na Suíça.
Em discurso no plenário, o líder do PSDB disse que seu partido havia entrado em um “leilão de quem dá menos pela ética”. “O Cunha está com a cabeça a prêmio e está vendo quem pode salvá-lo: o governo ou a oposição. Quem der mais leva. Enquanto isso, o país que se exploda”, afirmou. Deputados tucanos não gostaram da cobrança. “Eles também têm de se desgarrar do Renan”, devolveu um deles.
Em nota conjunta divulgada no último dia 10, partidos de oposição na Câmara pediram o afastamento de Eduardo Cunha para que ele pudesse exercer o seu “direito constitucional à ampla defesa”. Nessa terça-feira, em um ato esvaziado, líderes do DEM, do PPS e da minoria (oposição) na Casa voltaram a pedir a saída do peemedebista. Líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP) não compareceu à entrevista coletiva convocada pelos colegas. Naquele momento, Sampaio participava da reunião da bancada que acabou sem decidir nada.
“Não houve votação, mas fluiu a tese de que temos de aguardar mais um tempo para que o Supremo Tribunal Federal se pronuncie. A unidade da bancada vale muito. Se nos dividirmos, perdemos a força. Estamos tolerando esse processo”, declarou um deputado tucano ao Congresso em Foco. “Mas o incômodo é grande”, acrescentou.
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