Os corpos de Marielle Franco, vereadora do Psol, e Anderson Pedro Gomes, seu motorista, foram sepultados no final da tarde desta quinta-feira (15) no Rio de Janeiro. Eles voltavam de um evento que reuniu mulheres negras na Lapa, bairro histórico do Rio, quando foram baleados dentro do carro. Marielle foi sepultada no cemitério São Francisco Xavier (Complexo do Caju), na zona norte do estado, enquanto Anderson foi levado ao Cemitério do Inhaúma, também no norte fluminense.
A exemplo do que se viu mais cedo, quando uma multidão ocupou as cercanias da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, a maioria das pessoas que foram ao cemitério São Francisco Xavier está vestida de preto, muitas delas munidas com cartazes e faixas de protesto e solidariedade. Mas, para além dos materiais de papelão e tecido, ouviu-se o grito de familiares, correligionários e amigos da vereadora negra, socióloga por formação. Algumas das mensagens: “Quem matou Marielle?”; “Marielles seremos milhões”; “Marielle, presente! Anderson, presente!”.
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Desde o início desta quinta-feira (15), atos e aglomerações populares de protesto têm se repetido em alguns cantos do país, principalmente no Rio e em São Paulo, onde manifestantes ocupam a Avenida Paulista. Um dos mais intensos momentos de mobilização foi a sessão especial, no plenário da Câmara, em que parlamentares homenagearam a colega morta precocemente, aos 39 anos. Na ocasião, a deputada Luiza Erundina (Psol-SP) fez um emocionante discurso da tribuna (veja o vídeo). Ao final, parlamentares do Psol pediram providências da Câmara no sentido de acompanhar as investigações do assassinato.
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Segundo a reportagem do portal UOL, uma das personalidades que foram ao enterro, “muito emocionada”, foi a atriz negra Zezé Motta. “Ela era amiga do Brasil. Fico me perguntando quem vai sobrar na política se pessoas como ela estão sendo assassinadas. Uma mulher que lutava pelos direitos humanos. É uma barbárie, estou indignada”, declarou a artista, mundialmente famosa na personagem Xica da Silva, “a escrava que virou rainha”, protagonista do filme homônimo de 1976, dirigido por Cacá Diegues.
Também presente ao sepultamento, a deputada negra Benedita da Silva (PT-RJ), ex-governadora do Rio de Janeiro, fez outro depoimento emocionado. Segundo Benedita, a comissão da Câmara criada para acompanhar a intervenção federal na segurança pública do estado terá uma reunião, na próxima segunda-feira (19), com o interventor, general Walter Braga Netto, para cobrar providências.
“Ela foi a terceira vereadora negra do Rio. A primeira fui eu; a segunda, a Jurema Batista; e a terceira, ela. Estou reunindo forças para falar. São poucos os que têm essa coragem. Mulher negra, da favela. É terrível acontecer isso. Não estamos em intervenção para garantir nossa segurança? Segurança de quem? Eles [interventores] têm que correr atrás disso”, protestou a deputada.
Execução
Segundo informações preliminares, investigadores envolvidos no caso têm a tese de execução como primeira hipótese – a exemplo do deputado estadual Marcelo Freixo (Psol), de quem foi assessora parlamentar, Marielle denunciava casos de corrupção policial e, como o correligionário, atuava no combate à ação criminosa de milícias e facções do crime organizado no Rio de Janeiro.
A polícia contou nove cápsulas de bala no local do crime. Uma assessora da parlamentar foi atingida por estilhaços, sem gravidade.
A Polícia Militar acredita que os bandidos seguiram por quatro quilômetros o carro onde Marielle e Anderson estavam quando foram baleados. Uma assessora da vereadora foi atingida por estilhaços e prestou depoimento durante boa parte desta madrugada. No local – bairro do Estácio, centro do Rio – foram encontradas nove cápsulas de bala.
Nos últimos dias de sua vida, Marielle, que era contra a intervenção federal decretada por Michel Temer na segurança pública do Rio, vinha questionando ações da PM no estado. Em uma postagem no Twitter na última terça-feira (13), um dia antes de morrer, suas palavras resumiram a luta da parlamentar em meio à barbárie da sociedade fluminense. Ela comentava a morte de mais um jovem negro pela polícia.
“Mais um homicídio de um jovem que pode estar entrando para a conta da PM. Matheus Melo estava saindo da igreja. Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?”
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