Século Diário
Crime ambiental em Mariana (MG), privatização, capitalismo, poluição do ar, negligência e omissão do poder público e da mídia corporativa. Aos gritos de “Vale, assassina”, cerca de 500 pessoas marcharam na noite dessa segunda-feira (16) entre a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e a portaria da mineradora Vale, no final da Praia de Camburi, em Vitória.
O protesto durou mais de duas horas e contou com a participação de estudantes, professores, crianças, famílias, artistas, cicloativistas e militantes de movimentos sociais.
Os manifestantes saíram da Ufes com direção ao Bairro República às 18h45, pela ladeira da maternidade Santa Úrsula. Ao atravessarem a avenida Fernando Ferrari, o trânsito foi impedido nos dois sentidos por poucos minutos. Com os olhares voltados para os motoristas, repetiam os gritos de ordem do movimento.
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“Não, não, não, não foi acidente, a Vale matou rio, matou bicho e matou gente”; “Não é mole não, terrorismo no Brasil é a mineração”; “A mídia maquiou, a mídia encobriu, e pouco se falou da tragédia no Brasil”; “O lucro vale mais que a vida, capitalismo, sistema suicida”; “Mineração, privatizada, tragédia anunciada”; “Morre peixe, morre gente, e a Samarco continua negligente”; “Quero a verdade, é surreal, morreu mais gente do que passa no jornal.”
No percurso, caixões simbolizavam o enterro do Rio Doce. Havia, também, personagens fantasiados de “morte”. Um carregava os nomes da Samarco e de suas acionistas Vale e a anglo-australiana BHP Billiton, outros – pai e filhos – usavam a máscara em alusão à poluição do ar. A cena se completava com pessoas carregando cruzes. Em uma delas, as palavras arsênio, ferro e mercúrio, em referência à contaminação da água pelos rejeitos das barragens da Samarco/Vale rompidas em Mariana.
Nos cartazes, mais protestos: “Vale do rio morto”; “Lama tóxica”, “A vida era um doce”; “Não foi acidente”; “Quanto Vale a vida?”, “Fora Vale e ArcelorMittal”.
E mais gritos de ordem: “Não deixe o rio morrer, não deixe o rio acabar, o rio estão cheio de lama, a Vale vai ter que pagar”; “Vale inimiga do povo brasileiro, império do dinheiro”; e Treme, treme, treme, vamos devolver a lama, o pó preto e o querosene”; “Se o povo se unir, a Vale vai cair…vai cair, vai cair…”
Próximo ao Hotel Canto do Sol, em Camburi, o primeiro momento de tensão. Um motociclista agrediu verbalmente uma mulher do protesto. Ele forçava a passagem entre os manifestantes. O carro da Polícia Militar, que estava ao lado e escoltava o ato desde aUfes, nada fez. A reação veio dos militantes, que formaram um cordão humano e se sentaram ao chão da avenida.
À medida que foi se aproximando da entrada da Vale, os gritos de protestos passaram a ecoar com mais força. Os manifestantes sujaram a placa de “Bem-vindo” de lama, depois a entrada da empresa, em paredes, vidros e teto. Junto com a lama, escreveram palavras de protestos: “Assassina”, “Vale nada” e “Vale da Morte”. Alguns chegaram a pular as catracas, mas logo retornaram. Velas acesas foram colocadas nos canteiros.
Um cinegrafista da Rede Gazeta, afiliada da Rede Globo, foi expulso do local pelos manifestantes. “Mídia fascista e sensacionalista”… “vai cair, vai cair, A Gazetavai cair”.
Em certo momento, um pequeno grupo se exaltou e quebrou os vidros da entrada da Vale. “Deixa passar, a revolta popular”. Na parte interna da empresa, uma fileira de funcionários. Na externa, três carros da PM assistiam, sem qualquer tentativa de intervenção. De longe, porém, filmavam as pessoas.
Às 21h30, os manifestantes deixaram a Vale. A polícia seguiu atrás. Era o fim do terceiro ato contra a mineradora no Espírito Santo. Mas não sem antes avisarem: “Se a Vale não pagar, Vitória vai parar”.
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