Circula na internet um diálogo entre o teólogo Leonardo Boff e o monge tibetano Dalai Lama. Leonardo Boff diz que, num intervalo de uma mesa-redonda sobre religião, de que ambos participavam, perguntou: Santidade, qual é a melhor religião?
Boff diz que esperava uma resposta que dissesse: É o budismo tibetano ou são as religiões orientais, muito mais antigas do que o cristianismo.
No entanto, não foi essa a resposta. Inteligente e sábio que é, o Dalai Lama respondeu: A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus, do infinito. É aquela que te faz melhor.
Boff relata ter ficado perplexo com a resposta e por isso fez outra pergunta: O que me faz melhor? Respondeu o Dalai: Aquilo que te faz mais compassivo.
Ao que Leonardo Boff conclui: o que te faz melhor é aquilo que te faz mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável… Mais ético […] A religião que conseguir fazer isso de ti é a melhor religião.
Dias atrás, caminhava por um bairro de Curitiba, com um amigo católico e muito religioso. Perguntei a ele qual dos dez mandamentos era o mais importante. Sem titubear, respondeu-me que todos estão no mesmo patamar de importância, mas o mais importante está em Mateus, capítulo 19, versículos 16 a 19, mais especificamente no versículo 19. Assim como Boff, fiquei perplexo, pois ele citava, não só onde encontrar, mas inclusive do que se trata.
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E imediatamente emendou: Esses versículos relatam o diálogo de Jesus com um jovem. O jovem pergunta a Jesus o que deve fazer para possuir a vida eterna. E, resumidamente, posso te dizer que Jesus responde: ‘Ame seu próximo como a si mesmo’.
Ame seu próximo como a si mesmo (Mateus 19,19). Alguns cristãos afirmam ser este o ponto alto da ética cristã. Ou seja, como afirma Leonardo Boff, o que realmente importa é a tua conduta perante o teu semelhante, tua família, teu trabalho, tua comunidade. O que importa é o amor.
Esses dois diálogos, o de Leonardo Boff com o Dalai Lama, e o do jovem com Jesus demonstram que a melhor religião é o amor ao próximo. Por estar de acordo com essas afirmações e por ser cristão, é que interrogo: o machista, de todos as matizes (violento fisicamente ou não), ama o próximo? Ou ele entende que a mulher, por questão de gênero, não é o próximo? O racista ama o próximo? O normal ama o louco? O fisicamente normal ama o deficiente?
Nos últimos tempos, principalmente após as eleições de 2010, alguns religiosos, padres, pastores e muitos leigos têm feito pregações de desamor e até de ódio. Ainda recentemente, um grupo ruidoso de pastores, com eco na mídia, fez uma passeata em Brasília contra os homossexuais e contra uma proposta de educação, que foi tratada na mídia como kit anti-homofobia, que permitiria trabalhar nas escolas esse tema e consequentemente combater a homofobia.
É bem provável que parte dos manifestantes sequer viram o material didático. Se deixaram levar pelas sábias vozes de seus pastores.
Todos os dias testemunhamos manifestações homofóbicas no Brasil, umas mais violentas, algumas chegam ao assassinato de pessoas (sim, reforço: são seres humanos sendo assassinados), outras psicológicas e morais. Para ficar só num caso de assassinato, o de Adriele Camacho de Almeida, no município de Itarumã (GO), ocorrido no último mês de abril.
Adriele tinha 17 anos e teve um caso de amor com a filha do fazendeiro Cláudio Roberto de Assis, de 36 anos. Segundo o delegado que investiga o assassinato, as meninas (a vítima e a filha do fazendeiro) tiveram um relacionamento homossexual que durou cerca de um ano.
Adriele foi assassinada e os principais suspeitos pelo assassinato são o fazendeiro e um de seus filhos. Diz o delegado que se trata de um crime homofóbico. Não vi nenhum dos líderes que defendem a família condenando esse e outros assassinatos.
Às vezes, as manifestações ganham caráter de massa, como ocorreu recentemente em Contagem (MG). No jogo entre as equipes do Vôlei Futuro e do Cruzeiro, pelas semifinais da Superliga masculina, a torcida do time de Minas agiu de maneira homofóbica em relação ao jogador Michael.
Segundo o próprio jogador, eram cerca de 2 mil pessoas, o ginásio estava superlotado e todos me chamando de ‘bicha’, ‘gay’ e outras ofensas. Me senti ofendido e constrangido pelo ocorrido; não eram só alguns torcedores de torcida de futebol, eram crianças, mulheres, o ginásio inteiro gritando e me ofendendo. O jogo foi transmitido pela TV e não só quem estava no ginásio pode ouvir, mas todos que assistiram ao jogo pela TV no Brasil inteiro[…]. Acho que este tipo de acontecimento não deve passar em branco, realmente me fez muito mal, acho que deve ser divulgado e discutido para que isso não ocorra com mais ninguém.
O que os (cristãos) homofóbicos acham disso? Por que se colocar contra um trabalho educativo nas escolas que debata esse tema e busque a superação da homofobia?
Repito as perguntas acima e quero que você, caso se encaixe nessa situação, as responda. Não para mim. Até que se fosse para mim já imagino a qualidade e a agressividade de algumas respostas. Responda-as para você: por que você é agressivo com sua mãe, irmã, esposa ou namorada? Por que você não suporta os negros e negras? Por que você odeia os homossexuais? Por que você não tem tolerância como prega a fé cristã? A resposta é simples: é por que você não ama o próximo como a ti mesmo.
Há os que juram que a melhor religião estaria no cristianismo. Como cristão, penso como Boff: o que importa não é a religião, mas sim a tua conduta perante o teu semelhante, tua família, teu trabalho, tua comunidade, perante o mundo. Portanto, perante a vida.
Tanto a inteligente pergunta como a não menos inteligente resposta foram dadas por homens sábios. Esses sábios não andam pelas ruas fazendo pregações preconceituosas, de desamor e até de ódio. Tampouco definindo o que salva ou não salva uma família.
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