As últimas semanas têm sido tensas para o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT). Convivendo com greve dos professores, com operação tartaruga dos policiais militares, problemas na rede pública de saúde e outras situações que fizeram seu governo ter a pior avaliação do país pelo Instituto Datafolha, o petista ainda precisa gastar suas energias para se defender de uma série de acusações de desvios de conduta e supostas irregularidades, que vêm desde o início de seu governo, mas se agravaram depois que surgiram indícios de envolvimento de seus subordinados com o esquema do bicheiro Carlinhos Cachoeira, descobertos pela Operação Monte Carlo, da Polícia Federal.
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Até aliados de longa data do governador e do seu partido já começam a questionar a atuação de Agnelo na chefia do Executivo local. Reclamam do fato de ele ter colocado “pessoas inexperientes” no primeiro escalão do governo do DF. E que teria deixado de lado grupos que trabalharam na sua eleição e que possuem experiência administrativa. Para esses aliados, o fato de Agnelo ter de gastar rotineiramente energia para explicar denúncias paralisa o seu governo. A crise política gera uma crise administrativa, e vice-versa.
Agora, com o surgimento das denúncias da Operação Monte Carlo do envolvimento de políticos com o esquema de jogo ilegal de Carlinhos Cachoeira, o governo de Agnelo tem sido o alvo dos oposicionistas, para contrapor o estrago feito após as descobertas que levaram à abertura do processo de cassação do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) e que esbarram no governo do tucano Marconi Perillo, em Goiás.
A preocupação dos aliados chegou ao ponto de uma reuniãoda bancada federal de deputados e senadores do DF ser convocada para a segunda-feira (16). Os 11 representantes da capital federal no Congresso vão discutir, inicialmente, possíveis colaborações para enfrentar os problemas administrativos de Brasília. Mas será inevitável, também, debater a crise política que volta a ameaçar o governo local.
“Eu convoquei uma reunião da bancada para segunda-feira para ver o que a gente pode fazer para ajudar o governo”, disse o coordenador da bancada do Distrito Federal no Congresso, senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF). O socialista, que fez parte da coligação que elegeu Agnelo, não comenta as denúncias envolvendo o mandatário local. No entanto, avalia que o petista acaba tendo que gastar energias para se defender que poderiam ser aplicadas na resolução dos problemas da cidade.
Para ele, Agnelo “concentrou poderes demais” nas mãos de políticos inexperientes e fez acordos com grupos historicamente ligados a adversários, políticos como os ex-governadores Joaquim Roriz e José Roberto Arruda, caso de seu próprio vice-governador, Tadeu Filipelli. “Ele fez acordos com grupos que não são ligados historicamente ao PT. Isso fez com que o DF no mês de março atingisse um caos administrativo”, avaliou.
O socialista revela que, em um ano e quatro meses de mandato, Agnelo nunca procurou a bancada federal para pedir ajuda na resolução dos problemas enfrentados pelo DF. E que agora, no meio de uma série de denúncias envolvendo seu nome e de secretários com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, precisa mais do que nunca de ajuda.
Apoios públicos
“É um governo isolado. As coisas vão piorando, mas a nossa disposição é de ajudar o DF”, disse. Os problemas enfrentados por Agnelo motivaram, nos últimos dias, demonstrações públicas de apoio. A base aliada na Câmara Legislativa, formada por 19 distritais, assinou uma moção declarando confiança no governador. No documento, os distritais dizem que o “poderio econômico de grupos criminosos” é que está por trás das denúncias envolvendo o governo local. “Diariamente, numa trama sórdida, plantam notícias fantasiosas, articulam mentiras, veiculam fofocas, fazem calúnias, propagam boatos, com o intuito claro de confundir a opinião pública para, mais tarde, retornar ao poder e as suas práticas criminosas”, afirmam os distritais.
O mesmo fez o presidente nacional do PT, Rui Falcão, em nota oficial divulgada na sexta-feira. Após o jornalista Ricardo Noblat publicar em seu blog que os petistas estariam pressionando pela renúncia de Agnelo, o presidente nacional do partido, Rui Falcão, emitiu uma nota negando a articulação e reforçando sua “total confiança” no governador.
“O que o PT nacional tinha de fazer de fato é a intervenção completa, inclusive tirando o governador, que está totalmente comprometido com a corrupção”, disparou o deputado Izalci (PR-DF). Em discurso no plenário da Câmara no início da semana, o parlamentar, que hoje está na oposição a Agnelo após uma briga por cargos nos primeiro e segundo escalões, defendeu a instalação da CPI do Cachoeira e a investigação dos políticos citados na Operação Monte Carlo.
Sobra para o governo federal
Para Rollemberg, a atual crise política prejudica até o governo federal. Desde o início do ano, mudanças ocorreram no primeiro escalão do GDF, boa parte patrocinadas pelo Palácio do Planalto, para tentar encontrar soluções para os problemas políticos e administrativos. Swedenberger do Nascimento Barbosa, primeiro, deixou o cargo de secretário-executivo adjunto da Secretaria-Geral da Presidência da República para assumir a Casa Civil local.
Depois, foi a vez do secretario-executivo da Justiça, Luís Paulo Barreto, sair do ministério e tomar posse como secretario de Planejamento do DF. Os dois reforços foram o resultado de uma avaliação do PT nacional e do governo federal foi de que era necessário dar um maior respaldo ao governo petista na capital da República, uma das principais vitrines do partido. “O caos administrativo fez até o governo federal deslocar quadros experientes como o Berger e o Luís Paulo. Mas a crise política dificulta muito o trabalho”, opinou Rollemberg.
Denúncias
Logo depois de os vazamentos da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, alvejarem o senador Demóstenes Torres (sem partido, ex-DEM-GO), Agnelo, junto com o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), passou a sair nas manchetes pelo suposto envolvimento com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. O contraventor está preso desde fevereiro na penitenciária de Mossoró, no Rio Grande do Norte.
Cachoeira é apontado como chefe de uma organização criminosa dedicada à prática dos crimes de quadrilha, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, contrabando, corrupção ativa e passiva, peculato, prevaricação e violação de sigilo, tudo com o propósito de dar suporte à exploração ilegal de máquinas eletrônicas de jogos, bingos de cartelas e jogo do bicho no estado de Goiás.
Desde a Operação Monte Carlo, vieram à tona as relações de Cachoeira com políticos de Goiás e de outras unidades da federação. De acordo com reportagens publicadas nos jornais de maior circulação do país, o bicheiro teria atuado ativamente para beneficiar a construtora Delta, uma das maiores do Brasil, com contratos de recolhimento de lixo no Distrito Federal.
Entre as denúncias, Agnelo teria sugerido ao então governador do DF, Rogério Rosso, que o contrato do lixo fosse mantido com a Delta. Agnelo foi identificado nas escutas da Polícia Federal como o “01 de Brasília” pela organização desmantelada pela Operação Monte Carlo. O maior dos contratos beneficiados foi justamente o da Delta, orçado em mais de R$ 90 milhões anuais. Até agora, Agnelo vem sustentando que jamais intercedeu ou fez ato de ofício em favor da empresa, detentora de 70% dos serviços de limpeza urbana no DF.
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