Confúcio dizia que “só os grandes sábios e os grandes ignorantes são imutáveis”. Esta milenar lição traz, a reboque, a importância de, humildemente, reconhecer-se um erro e escolher-se outro caminho.
Falando em caminho, descobri que lá nos Estados Unidos da América 1,8% das mortes tem como causa acidentes de trânsito. Na França, 1,5%. No Japão, 1,1%. E lá vem o Brasil, bem depois da curva, com sinistros 4%.
Os Estados Unidos, a França e o Japão optaram pelo caminho primário de investir na qualidade das ruas e rodovias. A população trafega sobre vias lisas, conservadas com esmero, bem sinalizadas e conforme as melhores políticas de engenharia de trânsito.
Aqui no Brasil é diferente. Segundo um estudo da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), 72% das nossas estradas estão em péssimas condições. Uma em cada dez vias brasileiras não tem qualquer tipo de sinalização. Quer mais? 40,8% das nossas rodovias precisariam ser totalmente refeitas, pois nem reparos comportam mais.
Esse quadro não é fruto da falta de dinheiro. Absolutamente. O Brasil rico e emergente que empresta bilhões de dólares para outros países tem, sim, recursos para fazer com que nossas ruas sejam mais apropriadas para seres humanos que para cabritos.
O curioso nisso tudo é que, descontadas as perdas de vidas, gastamos inacreditáveis US$ 10 bilhões a cada ano em decorrência de acidentes de trânsito. Fico a pensar se não sairia mais barato investir-se na qualidade das nossas vias.
PublicidadeMas prossigamos: dia desses, enquanto sacolejava animadamente a bordo de um carro pelos caminhos deste Brasil, vi uma placa com os dizeres “Cuidado. Buracos na pista”. Cem metros à frente dessa surrealista sinalização, deparei-me com uma “blitz” de trânsito, destas realizadas diariamente para nossa segurança.
Nos Estados Unidos, França e Japão é bem menor a possibilidade de se encontrar este tipo de procedimento policial. A filosofia, lá, é a de que o aparelho repressor do Estado deve constranger o mínimo possível os cidadãos. Só para que se tenha uma ideia da importância deste conceito, o de liberdade e cidadania, há alguns meses ainda discutia-se, no Reino Unido, acerca da obrigatoriedade de se portar documento de identidade – afinal, falava-se no parlamento, a palavra de um cidadão deve merecer fé.
Naqueles países, no entanto, quem for apanhado fazendo coisa errada irá, invariavelmente, conhecer alguma prisão. Será, rapidamente, condenado a uma pena robusta – que irá, sim, cumprir – e terá que arcar com todas as consequências relativas à reparação dos danos que causou. Sem choro nem vela.
Isso vale para ricos e pobres, humildes e poderosos. Os meios de vigilância da sociedade – imprensa incluída – zelam permanentemente pelo respeito a esses princípios. Há que se ter liberdade, mas igualmente responsabilidade.
Aqui no Brasil é diferente. Apenas 1% do que acontece nas ruas chega ao mundo das leis, e míseros 2% dos condenados cumprem pena até o fim. Indenizações civis? Só se for ao final de longos processos judiciais.
O que chama a atenção é que diante dessa vergonha ninguém pensa em mudar o sistema legal, tornando-o mais ágil e próximo da vida das pessoas. Que nada! O negócio é criar mais leis espalhafatosas – que dificilmente serão cumpridas – e policiar o povo de forma cada vez mais invasiva e intimidadora.
No século passado um milhão de brasileiros morreram em nossas vias. Será que o Brasil não estaria no caminho errado?
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