Parlamentares do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), que há anos comanda o Ministério do Trabalho, já admitem reservadamente que a melhor opção para a legenda em ano eleitoral é a devolução da pasta ao governo Michel Temer, que vê sua rejeição popular crescer a cada pesquisa de opinião. A questão deve nortear as próximas reuniões do partido, no calor da nova fase da Operação Registro Espúrio, deflagrada pela Polícia Federal (PF) na manhã desta terça-feira (12). Segundo congressistas ouvidos pelo Congresso em Foco, a entrega da pasta evitaria danos ainda maiores para a legenda.
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“Tem que entregar o Ministério [do Trabalho]. Em face dos problemas [de corrupção] que ocorreram, o melhor é o partido entregar o comando do ministério”, disse ao site uma importante liderança do Congresso alinhada ao atual comando da pasta.
Diante da informação de que o atual ministro do Trabalho, Helton Yomura, corre o risco de ser derrubado do cargo (leia mais abaixo), esse congressista se limitou a dizer que a decisão “cabe ao presidente” [Temer]. Como pano de fundo, a possibilidade de que a pasta migre para o PSDB, em um novo contexto de aliança pré-eleitoral.
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Como este site mostrou mais cedo, a operação da PF – que já levou para a prisão apadrinhados de lideranças do PTB na Câmara – hoje teve como principal alvo a deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ), que teve seu gabinete na Câmara vasculhado logo cedo por agentes da corporação. Ela, porém, não tem nenhuma relação formal com a o órgão. A investigação aponta que o Ministério do Trabalho tornou-se palco de diversos esquemas de corrupção e outros tipos de crime.
Mesmo sem ter tomado posse, o grupo da deputada Cristiane e seu pai, Roberto Jefferson, o presidente nacional do partido, controlavam de forma efetiva o Ministério do Trabalho, de acordo com funcionários do alto escalão da Pasta. Ambos decidiam sobre nomeações e exonerações de funcionários, além de ações e medidas administrativas.
“Eles são os ministros”, afirmou um servidor à reportagem, pedindo anonimato.
Reduto
O controle de ambos sobre o ministério é antigo. Historicamente ligado ao PTB, o Trabalho passou ao comando do grupo de Jefferson há alguns anos, depois da gestão de Carlos Lupi (PDT) no primeiro governo Dilma Rousseff (2011-2015). Antes disso, prepostos petebistas em cargos estratégicos sempre foram regra. Atualmente, aliás, os nomes indicados para cargos de gestão e diretoria da pasta respondiam diretamente ao presidente do partido e a Cristiane, segundo funcionários ouvidos pela reportagem.
Cristiane tentou assumir o ministério no início deste ano, mas foi impedida pela Justiça depois de polêmicas em série e denúncias contra a parlamentar fluminense (leia mais abaixo). A nomeação foi cancelada após a divulgação de que ela tinha condenação por irregularidade trabalhista.
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O mau tempo contra a deputada continua. Além dos mandados de busca e apreensão no gabinete parlamentar de Cristiane, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), também autorizou que os policiais federais vasculhem o apartamento funcional ocupado pela deputada em Brasília e o imóvel onde ela mora no Rio. A operação apura a atuação de uma organização criminosa na concessão fraudulenta de registros sindicais no Ministério do Trabalho.
Em nota, a deputada afirmou que recebeu os procedimentos investigativos com “surpresa”, “pois não tem papel nas decisões tomadas pelo Ministério do Trabalho”. “Espero que as questões referentes sejam esclarecidas com brevidade e meu nome limpo”, disse.
Tentáculo familiar
Aliados de Jefferson e Cristiane foram alvos da primeira fase da operação, em 30 de maio. O secretário-executivo do ministério, Leonardo Arantes, perdeu o cargo, assim como outros comissionados ligados aos petebistas. Arantes é sobrinho do deputado Jovair Arantes (PTB-GO) e foi um dos presos pela PF.
No mesmo dia da operação, houve troca do comando de uma das principais secretarias da pasta, a de Inspeção do Trabalho. Foi nomeado Cláudio Secchin, que era superintendente do Trabalho no Rio de Janeiro e é próximo de Cristiane.
Na época, nota divulgada pelo PTB e assinada por Jefferson “lavou as mãos” sobre o envolvimento de Arantes no esquema de corrupção. Também eximiu de culpa a si mesmo e ao seu grupo. “O que causa espécie é a revista envolver todo o PTB como se houvesse um esquema deliberado do partido no Ministério do Trabalho”, diz o texto.
Atual ministro do Trabalho, Helton Yomura é amigo pessoal de Cristiane e foi assessor e advogado dela desde que ela era secretária no Rio. Ele foi efetivado em fevereiro em comum acordo por Jovair e Jefferson, que foram juntos fazer a proposta ao presidente Michel Temer. Em contrapartida ao apoio a Yomura, o sobrinho de Jovair, Leonardo, ganhou a secretaria-executiva.
No intervalo em que tentou assumir o ministério, sem sucesso, Cristiane envolveu-se em uma série de polêmicas. Além de ter sido condenada em ações trabalhistas, ela é investigada por associação ao tráfico de drogas e recebimento de caixa dois em campanhas eleitorais. Também foi gravada ameaçando de perda de emprego subordinados se não conseguissem votos para que ela se elegesse deputada. Diante do noticiário negativo, Jefferson comunicou a Temer, em 21 de fevereiro, que o PTB desistia de indicar Cristiane para o Trabalho.
A reportagem tentou contato com o líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO), para comentar a tendência de parte do partido sobre o Ministério do Trabalho. Na liderança da bancada desde 2007, o deputado está fora de Brasília e ainda não deu retorno aos contatos.
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