Segundo a delação, a quebra dos sigilos do Banco Rural – que teve liquidação judicial decretada pelo Banco Central em 2013, oito anos depois do mensalão – compromete diversos políticos tucanos, entre os quais Aécio. A operação de “maquiagem” dos dados da instituição financeira teve a participação do atual prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), então deputado do PSDB e membros da CPI dos Correios.
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Em 14 de fevereiro, Delcídio relatou a investigadores da Lava Jato, ainda na condição de preso (o senador está sob regime especial), que a quebra dos sigilos do Banco Rural provocou incômodo nos quadros do PSDB. “Aécio Neves enviou emissários para que o prazo de entrega das quebras de sigilo fossem delongados, com a justificativa, ‘entre aspas’, de que não haveria tempo hábil para preparar essas respostas; que um desses emissários foi o então secretário-geral do PSDB, Eduardo Paes”, diz trecho da delação, em que Delcídio admite ter sido convencido acerca da razoabilidade do pedido, depois percebendo que havia sido enganado.
“Foi com surpresa que o declarante percebeu, ao receber as respostas, que o tempo fora utilizado para maquiar os dados que recebera do Banco Central”, acrescenta o relato.
“Sem dúvida”
A acusação de que Aécio recebeu propina originada em Furnas foi feita em um depoimento dado por Delcídio em 12 de fevereiro. Na ocasião, o petista diz que o tucano recebeu o dinheiro ilícito de Furnas “sem dúvida”. Segundo Delcídio, o senador tucano tem uma ligação “muito forte” com o ex-diretor de Engenharia de Furnas Dimas Toledo.
“Questionado ao depoente quem teria recebido valores de Furnas, o depoente disse que não sabe precisar, mas sabe que Dimas operacionalizava pagamentos e um dos beneficiários dos valores ilícitos sem dúvida foi Aécio Neves, assim como também o PP, através [sic] de José Janene; que também o próprio PT recebeu valores, mas não sabe ao certo quem os recebia e de que forma”, diz o petista em outro trecho da delação.
Quanto à maquiagem de dados no Banco Rural, a colaboração premiada anota que Delcídio “ficou sabendo que os dados eram maquiados porque isso lhe fora relatado por Eduardo Paes e o próprio Aécio Neves”. Além disso, tais informações bancárias atingiam “em cheio” não só Aécio, mas também Clésio Andrade, então vice-governador na gestão Aécio em Minas Gerais. O assunto foi discutido por Delcídio com o próprio senador mineiro no Palácio da Liberdade, sede do Governo de Minas Gerais, segundo a delação.
Delcídio disse ainda, segundo a colaboração judicial, ter ouvido o então deputado José Janene (PP-PR) – apontado como um dos operadores do petrolão e morto em 2010 – dizer que Aécio era “beneficiário de uma fundação sediada em um paraíso fiscal da qual ele seria dono ou controlador de fato”, e registrado em nome do ex-governador de Minas ou de sua mãe. A fundação, segundo o petista, tinha sede em Liechtenstein, principado europeu.
O senador petista, que é alvo de processo de cassação no Conselho de Ética do Senado, a origem do mensalão foi no governo do mineiro Eduardo Azeredo, entre 1995 e 1998 – daí o comprometimento de Aécio pelos dados do Banco Rural. Como presidente da CPI dos Correios, Delcídio disse ter segurado “a bronca” e nenhuma providência ter tomado em relação ao colega. Ainda segundo a delação, parlamentares como o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), coordenador jurídico do partido, sabiam da maquiagem dos dados.