Na última Parada LGBT de São Paulo, a atriz Viviany Beloboni não chutou, não jogou pedra, não queimou e não vilipendiou a cruz, não teve a intenção de ofender ou insultar a religião cristã, simplesmente representou de forma bastante contundente e vívida o sofrimento de milhares de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT), conforme retratado nas estatísticas oficiais do governo federal e no site Quem a homofobia matou hoje.
O Relatório sobre Violência Homofóbica no Brasil: ano de 2012, publicado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, revela que naquele ano houve 9.982 denúncias de violações dos direitos humanos de pessoas LGBT, bem como pelo menos 310 homicídios de LGBT no país. É um cenário que se repete todos os anos e que é impulsionado inclusive pela intolerância de certos setores religiosos fundamentalistas.
A mensagem “Basta de Homofobia” pregada no alto da cruz utilizado por Viviany, foi um apelo e uma denúncia contra essa situação, sobretudo contra a dura realidade enfrentada por travestis e transexuais. O calvário que a Viviany representou foi confirmado pelo padre Julio Lancellotti, que afirmou “na missão pastoral (de rua) tenho conversado com vários LGBTs que estão pelas ruas da cidade, alguns doentes, feridos, abandonados. Muitos relatam histórias de violência, abusos, assédio, torturas e crueldades. Alguns contam como foram expulsos de igrejas e comunidades cristãs, rejeitados pelas famílias em nome da moral. Testemunhei lágrimas, feridas, sangue, fome. Impossível não reconhecer neles a presença do Senhor Crucificado!”
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É curiosa e de uma lógica perversa a onda de críticas à utilização de uma metáfora para fazer um protesto. Onde está a indignação em relação à violência que corre solta e à impunidade que reina? Devemos nos manter calados diante dessa situação? A Parada LGBT nasceu em 1969, acima de tudo, como um protesto contra a arbitrariedade policial em Nova York e contra violência e discriminação enfrentadas pelas pessoas LGBT. A Parada LGBT é o lugar legítimo para manifestações contra as injustiças que nós sofremos.
Jesus Cristo também condenou os hipócritas. Para aqueles que criticam a utilização da simbologia do calvário, pergunto onde está o valor cristão do amor incondicional? Onde está o amor que acolheu os párias? Jesus Cristo é para todos e todas, e não apenas o privilégio daqueles que se autodenominam seus seguidores. O falso moralismo de certos setores está muito distante da essência do cristianismo. Uma hora nos tratam como pecadores, outra hora nos tratam como doentes e querem nos “curar”. Quando protestamos, querem nos criminalizar. Decidam! Somos pecadores? Doentes? Ou criminosos? A resposta é simples, somos cidadãos e cidadãs e queremos o direito à igualdade. Nem menos, nem mais, direitos iguais.
As pessoas LGBT não têm que pedir perdão. Quem tem que pedir perdão são os homofóbicos que afiam, com o discurso da intolerância e do ódio, a faca que fere e até mata milhares de pessoas LGBT todos os anos no Brasil.
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