Deysi Cioccarri * e Vanderlei de Castro Ezequiel **
Antonio Canelas Rubim, cientista político, afirma que a política perdeu o controle e o poder de se realizar como atividade pública para a comunicação midiada. As comunicações passaram a constituir um campo de relações sociais que valem como dimensão autônoma da sociabilidade contemporânea. A peculiaridade desse campo consiste em mediar nossa relação com a realidade por meio do agenciamento de uma série de imagens que, no limite, passam a se confundir com a própria realidade.
Aliado ao capitalismo da mídia entendemos as mensagens pelo jogo do poder e espetáculo de quem quer vender jornais. Porém, nosso entendimento avalia que ao mesmo tempo que tem um papel objetivo, percebemos também que é ela, a imprensa, ator político fundamental nesse processo. Não fosse pela grande mídia a população brasileira não teria acesso aos bastidores do Planalto, negociatas e corrupção que ganharam força nos últimos anos.
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A grande imprensa nacional tem sido capaz, com as exceções de praxe, de manter um jornalismo informativo e investigativo competitivo. Por vezes faz o papel da Justiça quando divulga, por exemplo, áudio de presidente sem as devidas checagens. Mas também funciona como um representante da sociedade.
No governo representativo, não há um representante direto do povo, e sim um representante autorizado pelo povo. A centralidade da mídia, como a nova esfera do espaço público e como canal principal para o debate e a opinião, marca esta nova fase da democracia representativa: a democracia de público, ou democracia de opinião, modelo último do governo representativo.
A mídia então faz a política. Midiatização e espetacularização, aqui entendidas como processos similares, amalgamados pela prevalência da mercadoria e do entretenimento, constituiriam uma poderosa, inevitável e indissociável lógica produtiva que, no limite, inviabilizaria o exercício de qualquer política não totalmente transtornada pelo espetáculo, nesse novo espaço, nessas novas linguagens, enfim, nessa nova dimensão pública da sociedade contemporânea.
A tendência do espetáculo de tudo absorver, potencializada pela mídia, esbarra, desse modo, em limites de realização. Como foi no caso da jornalista Vera Magalhães, no episódio do vazamento do áudio do presidente Michel Temer, que, percebendo o “efeito manada” nos comentários, logo fez um mea culpa. Digno. Nesse processo de mídia, política e espetáculo, entendemos que, com todo o jogo de poder e imagens, ainda cabe à imprensa brasileira um papel de destaque, de protagonismo no cenário político. Como diria Millôr Fernandes: “A imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados”.
* Doutora em Ciência Política pela PUC/SP;
** Mestre em Comunicação pela Cásper Líbero/SP.
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