Escrevo este artigo logo após assistir, pela TV Senado, a presidenta Dilma Rousseff fazendo sua defesa contra o presumível golpe.
Registro que fiquei contente ao ver Chico Buarque de Holanda sentado ao lado do Lula, acompanhando a sessão. A presença de ambos significa a luta contra um golpe de Estado e o apoio à democracia.
Há que se registrar que, na sessão , também estava o outro Buarque, o Cristovam, que tanto admirei até “ontem”.
Assistia à exposição da presidenta (ministra Cármen Lúcia, este português é correto) com uma estranha sensação no peito. Posso afirmar que senti inclusive dor. Claro que cardíaco com dor no peito fica preocupado. Assisti com uma mistura de preocupação, apreensão, tristeza e alegria. Sim , tristeza e alegria.
Tristeza em ver para onde elite e parte importante da mídia brasileira, com o apoio de muitos idiotas, levaram o Brasil. Estão dispostos a conduzi-lo ao abismo da intolerância e do ódio de classe. Alegria em ver a Dilma forte e respondendo com olho no olho a seus acusadores. Lamento que parte dos idiotas não assistiu e que aqueles que assistiram, provavelmente, pouco entenderam. Não pensam por eles.
Desde a tarde-noite do domingo do dia 17 de abril de 2016 , em que assisti a histórica sessão da vergonha da Câmara dos Deputados , quando abriu o processo de (impeachment) golpe, não havia mais assistido nenhuma outra sessão tanto da Câmara como do Senado. Foi tanta a vergonha que até o momento me sentia receoso em assistir outras sessões da Câmara ou do Senado. Tinha medo de ver o que vi naquele dia 17 de abril: hipocrisia, ignorância e burrice.
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Não assisti a toda a sessão da terça-feira (30), portanto não há como relatar a minha visão sobre o debate e a posição de cada um dos senadores e senadoras, mas não posso deixar de registrar a participação da senadora Ana Amélia (PP-RS). Comentar porque enquanto ela falava lembrei-me da nonna (avó , em italiano).
A senadora do PP estava vestida de verde e amarelo, segurando a Constituição, com as duas mãos junto ao peito, como se fosse uma bíblia. A cara e o comportamento dela me f zeram lembrar a minha nonna. A Nonna, quando uma pessoa – principalmente mulher – era considerada uma pecadora de acordo com os princípios e a ética da época dela e em qualquer conversa e/ou debate fazia cara de santa, ela chamava de “santona”.
Lembrou a “santona” da nonna. Lembrou-me principalmente porque a senadora é militante do PP, partido que tem o maior número de investigados, indiciados e condenados pela Lava Jato. E ela faz cara de santa para acusar a Dilma. Além disso, há em relação a senadora a própria história pessoal, revelada durante a campanha eleitoral para governadora do Rio Grande do Sul, em 2014.
Além da “santona”, havia e há também os “santões”, como Cássio Cunha Lima, Aloysio Nunes, Anastasia, Caiado, Agripino e outros que aguardam o momento oportuno para entrar no paraíso prometido pelo Temer. O paraíso do Temer é o local dos “santões” e “santonas”.
Dilma manteve-se calma e respondeu todas as questões. No seu discurso, como não poderia deixar de ser, disse: “Como todos, tenho defeitos e cometo erros”. Mas acrescentou: “Entre os meus defeitos não está a deslealdade e a covardia. Não traio os compromissos que assumo, os princípios que defendo ou os que lutam ao meu lado”. Deu, com luvas de pelica, um tapa necessário na cara de quem merece. Alguns, pela posição que assumiram, sentiram não um tapa no rosto, mas um soco com uma luva de boxe.
Dilma também disse: “Tive medo da morte, das sequelas da tortura no meu corpo e na minha alma. Mas não cedi. Resisti. Resisti à tempestade de terror que começava a me engolir, na escuridão dos tempos amargos em que o país vivia. Não mudei de lado. Apesar de receber o peso da injustiça nos meus ombros, continuei lutando pela democracia”.
E continua recebendo o peso da injustiça nos ombros. E, independente do resultado do processo, continuará lutando pela democracia e pelos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras.
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