Fabiano Angélico*
As eleições municipais de 2012 marcam o primeiro pleito em que a Lei Complementar 135/2010, conhecida como Lei da Ficha Limpa, é colocada à prova.
Como, na prática, a teoria costuma ser outra – e as leis podem pegar ou não –, convém analisar o comportamento dos partidos políticos e tribunais eleitorais para verificar se eles de fato estão afastando da competição política os que não se enquadram na legislação.
Nesse sentido, minha ideia era fazer um levantamento a respeito dos candidatos a prefeitos impugnados com base na Lei da Ficha Limpa nos dez maiores colégios eleitorais do Brasil a partir das informações publicadas pelo Congresso em Foco.
Mas os Tribunais Regionais Eleitorais de Rio de Janeiro, Bahia e Paraná não colaboraram. Felizmente, o Congresso em Foco obteve os dados do Rio junto ao Ministério Público eleitoral daquele estado.
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Os números abaixo, portanto, abrangem São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Ceará, Pará e Santa Catarina.
Nesses oito estados, que somam pouco mais de 89 milhões de eleitores, foram 306 candidatos a prefeito impugnados, até 5 de outubro. Isso dá uma média de 3,4 políticos impedidos de concorrer para cada grupo de um milhão de eleitores.
Disparidade entre tribunais e entre partidos
O dado geral que mais se destaca é a disparidade nas quantidades de impugnações em cada estado.
Observe que o Ceará tem uma taxa de impugnação de 9,2 candidatos a prefeito para um milhão de eleitores, quase o triplo da média. O Pará tem uma taxa de 5,1, também bastante acima da média.
Na outra ponta, o TRE do Rio de Janeiro barrou apenas 1,2 candidato a prefeito para cada milhão de eleitores. Rio Grande do Sul e Pernambuco também têm taxas abaixo da média.
UF |
Impugnados |
Eleitores |
Taxa de impugnação* |
SP |
112 |
31.253.317 |
3,6 |
MG |
50 |
15.019.136 |
3,3 |
RJ |
14 |
11.893.309 |
1,2 |
RS |
19 |
8.328.413 |
2,3 |
PE |
14 |
6.498.122 |
2,2 |
CE |
57 |
6.192.371 |
9,2 |
PA |
26 |
5.100.797 |
5,1 |
SC |
14 |
4.739.345 |
3,0 |
TOTAL |
306 |
89.024.810 |
3,4 |
Fonte: Congresso em Foco e TSE
(*) número de impugnados dividido pelo total de eleitores e multiplicado por um milhão
Ou os Tribunais Regionais Eleitorais do Ceará e do Pará estão sendo mais eficientes do que os demais, ou os partidos dessas duas Unidades da Federação estão pouco rigorosos na seleção de seus candidatos.
Nessa mesma linha: ou os Tribunais fluminense, gaúcho e pernambucano estão muito pouco eficientes, ou os partidos estão mais cuidadosos nesses três estados.
PMDB + PSDB = quase um terço dos impugnados
No recorte por partidos, o PMDB lidera seguido de perto pelo PSDB. Juntos, esses dois partidos representam 31,7% dos impugnados. O PTB de Roberto Jefferson, o PSB de Eduardo Campos e o PP de Paulo Maluf completam a lista dos cinco primeiros do ranking.
O PSDB lidera nos dois principais colégios eleitorais do país: São Paulo de Alckmin e Serra e Minas Gerais de Aécio; enquanto o PMDB tem o maior número de impugnados nos outros seis estados (em Pernambuco, o PMDB divide a liderança com o PSB; no Rio, com o PDT).
Partido |
SP |
MG |
RJ |
RS |
PE |
CE |
PA |
SC |
Totais |
% |
PMDB |
12 |
4 |
4 |
6 |
2 |
10 |
6 |
5 |
49 |
16,0% |
PSDB |
29 |
9 |
0 |
0 |
1 |
4 |
4 |
1 |
48 |
15,7% |
PTB |
17 |
4 |
0 |
0 |
0 |
5 |
2 |
0 |
28 |
9,2% |
PP |
5 |
5 |
2 |
5 |
1 |
3 |
1 |
3 |
25 |
8,2% |
PR |
5 |
4 |
3 |
0 |
1 |
5 |
5 |
1 |
24 |
7,8% |
PSB |
4 |
6 |
0 |
0 |
2 |
8 |
1 |
0 |
21 |
6,9% |
PSD |
5 |
1 |
0 |
0 |
1 |
9 |
2 |
2 |
20 |
6,5% |
PT |
8 |
0 |
0 |
5 |
0 |
3 |
2 |
2 |
20 |
6,5% |
PDT |
6 |
3 |
4 |
3 |
1 |
1 |
0 |
0 |
18 |
5,9% |
DEM |
8 |
3 |
0 |
0 |
1 |
0 |
0 |
0 |
12 |
3,9% |
PPS |
4 |
4 |
0 |
0 |
1 |
1 |
0 |
0 |
10 |
3,3% |
PV |
5 |
3 |
0 |
0 |
1 |
0 |
1 |
0 |
10 |
3,3% |
PRB |
1 |
0 |
1 |
0 |
0 |
3 |
1 |
0 |
6 |
2,0% |
PCdoB |
0 |
0 |
0 |
0 |
1 |
3 |
0 |
0 |
4 |
1,3% |
PRTB |
0 |
0 |
0 |
0 |
1 |
0 |
1 |
0 |
2 |
0,7% |
PSC |
1 |
0 |
0 |
0 |
0 |
1 |
0 |
0 |
2 |
0,7% |
PSL |
0 |
2 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
2 |
0,7% |
PTN |
2 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
2 |
0,7% |
PMN |
0 |
1 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
1 |
0,3% |
PSDC |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
1 |
0 |
0 |
1 |
0,3% |
PSOL |
0 |
1 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
1 |
0,3% |
Totais |
112 |
50 |
14 |
19 |
14 |
57 |
26 |
14 |
306 |
100,0% |
Esses quadros* apresentam o ponto de partida para várias perguntas. São necessárias incursões nos dados e na realidade de cada estado para que possamos verificar os efeitos práticos da Lei da Ficha Limpa e como estão se comportando as instituições em relação a ela.
Mas os números acima já colocam certos partidos políticos e alguns Tribunais Regionais Eleitorais em situação desconfortável. Eles darão explicações? Ou, ao menos, se abrirão mais, para que possamos verificar melhor o que se passa lá dentro? Veremos (ou não?).
(*) A lista completa dos 306 nomes, com os respectivos partidos, cidades e estados, está aqui
*Pesquisador do Centro de Estudos em Administração Pública e Governo (CEAPG) da FGV-SP
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