Homem, branco, na faixa dos 50 anos, com formação superior, empresário e dono de patrimônio superior a R$ 1 milhão. Essas são algumas das características predominantes entre os novos parlamentares. Um perfil que não reflete a maioria da sociedade, mas que repete a histórica distorção das representações no Parlamento brasileiro. O problema é agravado pelos elevados custos de campanha. Em geral, elege-se quem arrecada e gasta mais.
Veja o perfil do novo Congresso:
O velho e o novo
Eleito aos 22 anos, o estudante Uldurico Júnior (PTC-BA), filho do ex-deputado Uldurico Pinto, é o mais jovem entre os novos parlamentares: completou 23 no último dia 30 de janeiro. No seu primeiro mandato eletivo, dividirá o plenário com o mineiro Bonifácio de Andrada (PSDB), de 84 anos, reeleito para o décimo mandato. Descendente de José Bonifácio, o Patriarca da Independência, o veterano mantém a tradição da família de ter um representante no Congresso ininterruptamente desde 1894.
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Os deputados eleitos, por faixa etária
De cada dez parlamentares, quase sete têm mais de 45 anos de idade
Até 25 anos – 8 (1,5%)
De 26 a 45 – 159 (31%)
De 46 a 65 – 302 (58,9%)
Acima de 65 – 44 (8,6%)
Os senadores eleitos, por faixa etária
Mais da metade dos recém-eleitos têm entre 46 e 65 anos
De 35 a 45 anos – 4 (14,8%)
De 46 a 65 – 15 (55,6%)
Acima de 65 – 8 (29,6%)
O mais e o menos votado
De volta ao Senado após 12 anos, o ex-governador José Serra (PSDB-SP) alcançou a maior votação entre todos os congressistas eleitos. Foram mais de 11,1 milhões de votos no maior colégio eleitoral do país. Carlos Andrade (PHS-RR) é o deputado eleito com a menor votação do Brasil. Recebeu apenas 6.733 votos no estado com menor eleitorado do Brasil.Roraima tinha neste ano menos de 300 mil eleitores aptos para votar.
Negros sub-representados
Apesar de serem mais da metade da população, pretos e pardos elegeram apenas 20% dos parlamentares. Entre os novatos, está o baiano Bebeto Galvão (PSB), apoiado por lideranças do movimento negro. Ele também é sindicalista, bancada reduzida de 83 para 46 integrantes na próxima legislatura, conforme levantamento do Diap. Só 3% de todos os eleitos no Brasil em 2014 se declararam negros, como revelou a Revista Congresso em Foco.
Uma Câmara de brancosMesmo representando mais da metade da população brasileira, negros e pretos são apenas 20% dos deputados eleitos
410 brancos (79,9%)
81 pardos (15,8%)
22 pretos (4,3%)
Mulheres continuam sendo exceção
A apresentadora de TV Brunny (PTC-MG), de 25 anos, é a mais jovem entre as 51 mulheres eleitas para a Câmara. Casada com um deputado estadual,ela engrossa a bancada dos parentes de políticos eleitos no Congresso.A representação feminina cresceu ligeiramente em relação à eleição de 2010, mas as mulheres continuarão ocupando menos de um décimo dos cargos legislativos federais.
Os reis da granaDos 513 deputados eleitos, 248 declararam à Justiça eleitoral possuir patrimônio superior a R$ 1 milhão. Na Câmara, o mais rico é o reeleito Alfredo Kaefer (PSDB-PR), que declarou possuir bens no valor de R$ 108 milhões. A maior fortuna do novo Congresso é de Tasso Jereissati (PSDB-CE), que volta ao Senado. O empresário informou ter R$ 389 milhões, o que representa mais de 80% do declarado por todos os 27 eleitos. Por outro lado, 11 disseram não possuir nenhum bem em seu nome, como a empresária Jozi Rocha (PTB-AP).
A bancada dos mais ricos
Dez partidos concentram 206 dos 248 deputados com patrimônio declarado à Justiça eleitoral superior a R$ 1 milhão
PMDB – 39
PSDB – 32
PSD – 24
PP – 23
PR – 18
PTB – 16
DEM – 15
PSB – 15
PT – 13
PDT – 11
Fonte: G1
Os mais ricos no Senado
Mais de 80% dos R$ 479,6 milhões declarados pelos 27 eleitos pertencem ao ex-senador Tasso Jereissati, que volta à Casa. Veja quais são os cinco mais ricos dentre eles
Tasso Jereissati (PSDB-CE) – R$ 389 milhões
Fernando Collor (PTB-AL) – R$ 20,3 milhões
Acir Gurgacz (PDT-RO) – R$ 10,9 milhões
José Maranhão (PMDB-PB) – R$ 8,8 milhões
Wellington Fagundes (PR-MT) – R$ 8,6 milhões
Tiririca e os letrados
Mais de 80% dos parlamentares eleitos concluíram a faculdade, média muito superior à nacional. Segundo o TSE, menos de 4% dos eleitores têm curso superior completo. No Congresso de letrados, há pouco espaço para quem estudou pouco: somente quatro não terminaram o ensino fundamental. Só Tiririca (PR-SP) informou saber apenas ler e escrever. Único parlamentar da última legislatura a ter pós-doutorado, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) não conseguiu se reeleger. Primeiro senador da história do PT, ele deixa a Casa que ocupou nos últimos 24 anos.
A escolaridade dos deputados
De cada dez parlamentares eleitos, oito têm curso superior completo. Dos 513, somente Tiririca declarou saber apenas ler e escrever
Ensino superior completo – 411 (80,1%)
Ensino médio completo – 45 (8,8%)
Superior incompleto – 38 (7,4%)
Fundamental completo – 10 (1,9%)
Fundamental incompleto – 4 (0,8%)
Ensino médio incompleto – 4 (0,8%)
Só lê e escreve – 1 (0,2%)
Fonte: Revista Congresso em Foco/TSE
A escolaridade dos senadores
Entre os 27 eleitos, todos chegaram à faculdade e apenas cinco não concluíram o curso
Superior completo – 22 (81,5%)
Superior incompleto – 5 (18,5%)
A pauta LGBT Com votação dez vezes superior à obtida em 2010, Jean Wyllys (Psol-RJ) foi reeleito na condição de único parlamentar assumidamente homossexual. Segundo estimativa da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros (ABGLT), 126 deputados eleitos têm afinidade com a causa LGBT.
Outros 60 são reconhecidos como adversários. Entre os principais opositores, estão congressistas ligados a igrejas, policiais e militares. Com pelo menos 82 nomes na Câmara, os evangélicos seguem a tendência de crescimento. Em 2010, elegeram 78 deputados.
Um dos mais notórios deles é o Pastor Marco Feliciano (PSC-SP), cuja indicação para a presidência da Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Câmara desencadeou forte reação contrária de grupos ligados à defesa dos direitos humanos. Ele se reelegeu como o terceiro deputado mais votado em seu estado.
O ainda mais controverso Jair Bolsonaro (PP-RJ), militar da reserva que já causou polêmica por declarações ofensivas aos gays, renovou o mandato como o campeão de votos no Rio de Janeiro.
A origem dos parlamentares
Levantamento preliminar indica perfil dos deputados eleitos e a força de algumas das principais bancadas
Empresários – 190
Ruralistas – 139
Evangélicos – 82
Sindicalistas – 46
Policiais – 20
Fonte: Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap)
Como se definem os senadores eleitos
Maior parte dos recém-eleitos declarou apenas ser político à Justiça eleitoral
Políticos – 10
Advogados – 2
Economistas – 2
Médicos – 2
Administradores – 2
Empresários – 2
Servidor público – 1
Outros – 6
Fonte: Revista Congresso em Foco/TSE
O mais longevo
Entre os reeleitos, apenas Miro Teixeira (Pros-RJ) supera Bonifácio de Andrada em número de mandatos.
Na Casa desde 1971, o parlamentar fluminense participará de sua 11ª legislatura.
Ficará a uma do recorde do ex-deputado Manoel Cavalcanti (BA), que cumpriu 12 mandatos.
Ao todo, 198 parlamentares estrearão na Câmara em 2015.
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