Tempos atrás, tive uma audiência de conciliação com um médico que, através das redes sociais, me caluniou. Por ter me caluniado, eu o processei.
Na audiência, o doutor pediu desculpas e alegou que, ao me xingar, estava com a cabeça quente. Disse que ao escrever o que escreveu (a calúnia) o fez como se estivesse num campo de futebol e, nervoso, xingasse o juiz do jogo. Disse: “É como num desabafo chamar o juiz de ladrão ou filho da puta”.
Essa foi a justificativa e em função dela me pedia desculpas.
Claro que não aceitei e disse o porquê: “Doutor, não é possível fazer esta comparação. Na frente do computador, o senhor tranquilamente escreve, lê o que escreveu, corrige os erros e tem a oportunidade de pensar se vai ou não colocar na internet; portanto, o senhor sabe o que fez”.
Claro que chegamos a um acordo: ele se retratou da agressão e pagou um pequeno montante para uma entidade que atende crianças retiradas, por decisão judicial, do convívio familiar.
Lembrei-me dessa história ao tomar conhecimento de que o presidente da Empresa Brasileira de comunicação (EBC), Laerte Rimoli, entende que é correto fazer piadas racistas e, no Facebook, postar memes ironizando a atriz Taís Araújo.
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Como a repercussão foi péssima e seu ato foi crime, no dia seguinte recuou e pediu desculpas.
Ele fez as postagens e o comentário após a atriz Taís Araújo falar no TEDXSão Paulo: “A cor do meu filho faz com que as pessoas mudem de calçada”.
Assim como o médico que me caluniou, Rimoli, antes de postar, teve tempo para pensar e decidir. Decidiu pelo ato de atacar a atriz. O pedido de desculpas de pouco adianta; a marca do racismo está tatuada no seu pensamento, na sua cultura.
O mês passado foi repleto de denúncias de racismo e repleto de manifestações racistas. Antes de Rimoli, foi o secretário de Educação do Rio de Janeiro, Cesar Benjamin.
Tenho comigo que o envelhecimento traz, junto com a experiência, a sabedoria. Com Benjamin e alguns poucos, parece o inverso. Conheci e admirei outro Cesar Benjamin: pensador, elaborador, debatedor e com grande capacidade de convencimento, tudo com o objetivo de construir um mundo sem exploração, opressão, repressão e preconceitos. O que aconteceu?
Quem te conheceu no passado e quem te viu hoje se decepciona com você.
Benjamin foi um dos que comentaram a fala de Taís Araújo. Reagiu a ela escrevendo que: “Qualquer idiotice racial prospera. A última delas é uma linda e cheirosa atriz global dizer que as pessoas mudam de calçada quando enxergam o filho dela, que também deve ser lindo e cheiroso”.
E não parou por aí. Continuou afirmando que: “Por sorte, o conceito de povo brasileiro ainda não desapareceu ali onde importa: em nosso próprio povo. Luto para preservá-lo. Contra a grande maioria de vocês. Quero que as raças se fodam”. Que educação tem o secretário de Educação?
Esse é o pensamento atual do secretário de Educação do Rio de Janeiro, cidade com alto percentual de afrodescendentes. Que decepção! Que involução! Só posso crer que antes era um infiltrado (ideológico) da casa grande na senzala.
A elite brasileira sempre executou uma politica educacional, cultural e racial mesquinha. Nunca colocou em prática a construção de uma política de superação do racismo. A posição do secretário de Educação do Rio de Janeiro reflete e mantém a construção da mesquinhez da casa grande. E, como ele mesmo afirma, “que as raças se fodam”. Todas, sem exceção.
Se houvesse decência na política executada no município do Rio de Janeiro, Benjamin seria demitido. Como isto não ocorreu, é assim que pensa o prefeito.
Outra postura racista que chamou a atenção foi a de William Waack, jornalista da Globo. Waack se preparava para entrar ao vivo quando alguém buzinou o carro. Incomodado com a buzina, fez um comentário racista: “É coisa de preto”. Isto vazou na web e fez com que a Globo fosse obrigada a afastá-lo.
Além deste fato, muitas outras denúncias de racismo foram feitas. E a reação da casa grande a elas foi mais racismo. Algumas dessas reações foram completamente idiotas, como a da autoconsiderada socialite Day McCarthy, que chamou a Titi de “macaca”. Titi é filha da atriz Giovanna Ewbank e do ator Bruno Gagliasso. Apesar de Day McCarthy se comportar como uma idiota, não deve ser perdoada ou tratada como tal: tem que ser processada.
E para nenhum desses casos serve a desculpa de que foi como um desabafo no campo de futebol.
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