Há exatos 4 anos, em junho de 2013, milhares de jovens saíram às ruas pedindo mudanças na política brasileira. Eles reivindicavam melhorias nos bens públicos oferecidos pelo Estado e o fim do sistema político corrupto. Suas reivindicações surtiram efeito imediato? Certamente não, é só ver os noticiários.
Ainda assim, valeu a pena a mobilização? De modo antecipado, posso dizer que sim. Essas manifestações foram simbólicas por terem sido protagonizadas por jovens nascidos no período da redemocratização do país, e por replicarem onda de protestos semelhantes que ocorriam pelo planeta, a exemplos do Occupy Wall Street e da Primavera Árabe.
Além disso, elas serviram para evidenciar a internet como elemento importante de promoção da cidadania e da participação política, haja vista que a mobilização foi iniciada nas redes sociais, em especial no Facebook e no Twitter.
Segundo a pesquisa “Sonho Brasileiro da Política” – desenvolvida em 2014, com a finalidade de aferir o que mudou de fato na participação política dos jovens – 61% dos jovens estão mais dispostos à participarem da política, seja se mobilizando ou se informando do que está ocorrendo.
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A pesquisa igualmente apresenta que as manifestações trouxeram como mudança concreta a conexão em rede dos jovens, que passaram a criar iniciativas de engajamento voltadas para a produção de conteúdo político educativo e para a criação de plataformas de debate, que sirvam para a troca de experiências cidadãs e para o fomento de ideias de impacto positivo na política brasileira. São exemplos claros disso o projeto Politize! e o Café com Política, ao qual eu tenho o prazer de coordenar.
Não obstante a estas mudanças, no ano seguinte (2014), período de eleições federais e estaduais, vimos alguns vícios políticos se repetirem. Como ilustração, na Câmara dos Deputados ainda mandam os caciques políticos, que são representados por eles próprios e pela bancada dos parentes, formada por familiares dos políticos mais antigos, em especial os filhos. Com isso, seguem sub-representados as mulheres, os negros e os jovens que não são herdeiros de legado político. Presentes ainda estão, infelizmente, as mesmas práticas políticas que aqueles milhares de jovens diziam ser contra.
Pergunta recorrente em debates: “E para as eleições de 2018, o que esperar?”
As mudanças na política são constituídas por processos mais demorados, que precisam envolver também os cidadãos de baixa renda e com menor escolaridade e interesse pela política. Afinal, são eles que constituem, em termos percentuais, o maior número de eleitores do país. Para tanto, promover o senso de participação política demanda ainda mais fomento de iniciativas de engajamento, centradas em facilitar a interpretação do que está acontecendo no cenário político.
E para as eleições de 2018, o que esperar?
Esses últimos quatro anos trouxeram mais maturidade à participação política dos cidadãos brasileiros. Hoje, não são apenas as manifestações de rua que marcam essa participação, estão presentes também inúmeras iniciativas de educação política e de promoção de plataformas de debate, recheadas de propostas que podem auxiliar na transformação do cenário político. Ou seja, os meios de ação política dos jovens estão mais difusos e pautados pela cultura hacker, com enfoque na criação de soluções para os problemas políticos presentes.
Mesmo assim, é arriscado afirmar que as eleições de 2018 será um sucesso em termos de renovação política. Contudo, me arrisco a dizer que faremos melhor do que fizemos em 2014 – e assim sucessivamente nas próximas eleições. Conforme o título deste artigo, o legado de 2013 não está perdido e as mudanças que queremos virá de forma paulatina, porém progressiva.
Ademais, estive na semana passada em dois eventos que considero serem respostas democráticas às manifestações de 2013. No dia 20/06, participei de reunião na Comissão Especial de Reforma Política da Câmara dos Deputados. Estive lá para prestigiar o movimento Por uma Nova Democracia, que estava na Comissão para apresentar sua proposta de reforma política. O movimento reúne diversas entidades da sociedade civil, como o projeto Acredito, e defende uma pauta conjunta de propostas de renovação do cenário político.
Vinícius Sousa, após debates: “Saí de ambos os eventos esperançoso”
Saí de ambos os eventos esperançoso, pois vi reunidas gerações diversas, juntas com a finalidade de pensar o país. Como diz o amigo Everardo Aguiar, no excelente livro Redes Sociais Locais, política é afetividade e participação. Portanto, é bom ver que estas mobilizações em redes têm sido amadurecidas com vigor, ainda que seus frutos não sejam percebidos de forma instantânea.
Não podemos viver reféns do imediatismo.
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