Na “Carta a Temer” (leia íntegra abaixo), Pimenta se diz surpreso com a iniciativa do peemedebista e afirma que o conteúdo da carta de Temer veio a público “de uma forma ainda não compreendida”. Ele também recorre ao latim para dar recado ao vice-presidente (“O choro do herdeiro é, sob a máscara, riso”).
Depois de mencionar o papel de Temer na aprovação de matéria de interesses do governo e até elogiar a postura do vice-presidente, o deputado petista chega à mensagem desejada. “Meia aliança é meia traição. Como se viu, a carta de vossa excelência serviu para alimentar especulações, em um momento que o país necessita de líderes que reafirmem e defendam a legalidade”, provoca o parlamentar, para em seguida colocar o peemedebista contra a parede.
“A posteridade indaga-nos, hoje, qual terá sido nosso papel na história: teremos ficado ao lado daqueles que ainda não se conformaram com a derrota nas eleições de 2014, que vossa excelência ajudou a construir, e ao lado do presidente da Câmara dos Deputados, com sua legitimidade arruinada e que abusa do cargo para sua própria defesa contra acusações criminais e de falta de decoro parlamentar; ou ao lado do Estado de Direito, da Democracia e da soberania popular que conferiu à Presidenta Dilma e à Vossa Excelência mais um mandato de quatro anos para governar nosso país?”, conclui o petista, referindo-se a Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que colocou o processo de impeachment de Dilma em andamento na última quarta-feira (2).
Como este site mostrou mais cedo, Temer carregou no tom de lamento e decepção em sua carta, e afirmou que foi desprestigiado várias vezes pelo Palácio do Planalto. Apontando como articulador do impeachment de Dilma, ele reclamou de “desrespeito” em relação às suas indicações para cargos, lista 11 episódios em que se sentiu desprestigiado pelo governo e escreve, com todas as letras, que tem sempre teve a “convicção” de que não goza da confiança de Dilma e de que nunca a terá.
Leia a íntegra da carta de Paulo Pimenta:
“CARTA A TEMER
Heredis fletus sub persona risus est
Escrevo para falar de minha surpresa sobre sua carta dirigida a Excelentíssima Senhora Presidenta Dilma Rousseff, e tornada pública na noite de ontem (7), de uma forma ainda não compreendida.
Dirijo-me, de forma muito respeitosa e na esperança de que não se tenha despido o manto da institucionalidade e da reconhecida postura discreta e republicana de V. Exa., pecando, “ao trair sangue inocente”.
Como Líder do Governo na Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional sei da importância do papel que V. Exa. desempenhou, neste último ano, para que as relações fossem amplamente facilitadas na Câmara e no Senado.
Aliás, postura que V. Exa. sempre adotou ao longo de sua vida pública, pautando-se sempre pelos interesses nacionais, como por exemplo, a defesa intransigente da Constituição Federal e o fortalecimento da nossa democracia acima de qualquer outro interesse.
No entanto, tal carta permite a interpretação de que se constitui em tática política integrante de estratégia de rompimento da aliança político-institucional entre PT e PMDB. Relação essa que é forte elemento da coalisão que, nos últimos anos, promoveu significativas mudanças em nosso País, promovendo o desenvolvimento social e contribuindo sobremaneira para nossa democracia em consolidação.
A convivência política é ofício de artista. Não prescinde do diálogo e da tolerância, bem sabemos. Mas também é o exercício de comprometer-se e, ao cabo, de dar e receber confiança. As divergências, são abordadas, espera-se, no âmbito dessa relação calcada na lealdade.
Por mais que tenham ocorrido fatos que possam tê-lo desagradado, confiamos que Vossa Excelência, sendo o Estadista que é, terá a grandeza de colocar-se acima desses fatos em respeito ao momento que estamos vivendo.
Assim, diante do acirramento político que o Brasil vive e dos efeitos da retração econômica mundial, a Presidenta “alardear publicamente a necessidade” da lealdade de V. Exa. pode parecer tão inoportuno quanto o registro de sua lealdade, por carta, ao governo Dilma ao afirmar que “tenho-a revelado ao longo destes cinco anos”.
Nesse momento delicado da vida política nacional em que enfrentamos uma crise econômica, e que o governo está buscando a construção de soluções que envolvem a maior base possível, a história exige ações que estão acima de qualquer vaidade pessoal.
Todos nós sabemos que está em jogo algo muito maior. Estamos enfrentando forças que colocam em risco o projeto de País, iniciado com o presidente Lula, e que realizou mudanças estruturais na vida de milhões de pessoas.
Meia aliança é meia traição. Como se viu, a carta de V. Exa. serviu para alimentar especulações, em um momento que o País necessita de líderes que reafirmem e defendam a Legalidade.
A posteridade indaga-nos, hoje, qual terá sido nosso papel na história: teremos ficado ao lado daqueles que ainda não se conformaram com a derrota nas eleições de 2014, que V. Exa. ajudou a construir, e ao lado do presidente da Câmara dos Deputados, com sua legitimidade arruinada e que abusa do cargo para sua própria defesa contra acusações criminais e de falta de decoro parlamentar; ou ao lado do Estado de Direito, da Democracia e da soberania popular que conferiu à Presidenta Dilma e à Vossa Excelência mais um mandato de quatro anos para governar nosso país?”