Um dos principais aliados do agora ex-ministro Carlos Lupi, o secretário-geral do PDT, Manoel Dias, ainda não digeriu a queda do colega da pasta do Trabalho. Para Manoel Dias, a Comissão de Ética Pública da Presidência “atropelou” o ex-ministro e deu um “xeque-mate” na presidenta Dilma. “Ele foi vítima de uma grande sacanagem, porque o denunciaram, mas não lhe deram direito a defesa”, afirma.
Em entrevista exclusiva ao Congresso em Foco, Manoel minimiza os efeitos da crise no partido e na relação dos pedetistas com o PT e o governo Dilma. Segundo ele, o apoio à presidenta nunca foi incondicional, mas o partido ainda se sente no “dever” de dar uma “contribuição efetiva” ao atual governo.
Leia também
Maneca, como é conhecido pelos colegas, também não poupa a “grande mídia”. “Ou construímos quadros ideologicamente comprometidos ou vamos ser manipulados permanentemente por esse grande partido que é a grande mídia. Hoje, ela está pautando todo mundo”.
Congresso em Foco – Como fica o PDT agora no governo Lula?
Manoel Dias – Nosso apoio a Lula e Dilma não é incondicional. A carta que nos levou ao governo Lula ressalvava que o partido não votaria propostas que contrariassem seus princípios ideológicos. Não temos de aprovar tudo. Nos governos Lula e Dilma, houve avanço, mas precisamos alterar muita coisa ainda. A Dilma tem uma formação ideológica muito ligada ao nosso partido. Ela já foi do PDT. Ela pode fazer um governo excepcional porque conhece os problemas, sabe dos gargalos e, com sua formação, tem condições de tomar medidas que vão melhorar a situação dos trabalhadores.
Esse apoio não estará condicionado a cargos?
Estamos acostumados a ficar fora do governo. Sempre nos organizamos fora do poder. É a primeira vez que estamos no governo. Nossa natureza é de quem sabe das dificuldades de organizar um partido, principalmente, neste momento de apatia, de uma geração muito arredia a qualquer questão política. Mas é a nossa sina. Temos de tentar construir um partido que seja ferramenta da revolução. E a revolução moderna se faz pela educação, pelo conhecimento. É assim que se melhora a qualidade de vida de milhões de brasileiros.
A crise deflagrada pelo caso Lupi expôs um racha no PDT, com troca de acusações entre parlamentares. Como o partido contorna isso?
Não há racha no PDT. A mídia tem métodos. Eles ouviram alguns parlamentares que tinham discordância. É natural: 30% votaram contra a ida do PDT ao governo já naquela oportunidade. Alguns acham que temos de apoiar o governo sem cargos. E outros acham que, pelo fato de apoiarmos a presidenta, temos o dever de possuir cargos. Embora não seja um governo ideal, naquelas áreas em que temos uma visão estratégica e ideológica, devemos ajudá-lo. Não é só cobrar. É dar contribuição efetiva participando.
Alguns parlamentares pedetistas atribuíram ao PT o agravamento da crise que derrubou Lupi. Como fica esse atrito a partir de agora?
Não há atrito com o PT. Há uma especulação. A grande mídia pega questões pontuais. Não estamos brigando com o PT. Claro que tem uma disputa sindical. Hoje o presidente da Força Sindical é nosso filiado. Mas isso é outro departamento, não é a direção do partido. Somos um partido que respeita as divergências. Temos nossos fóruns, a maioria decide, e a gente acata e implanta.
O ex-ministro Carlos Lupi volta enfraquecido ao comando do partido?
Temos a plena consciência de que Lupi não praticou nenhum ato ilegal. Não conseguiram provar nada. Ele foi vítima de uma grande sacanagem, porque o denunciaram, mas não lhe deram direito a defesa.
Mas ele não teve condições de se defender na Comissão de Ética Pública da Presidência da República?
Quando o chamaram para se defender na Comissão de Ética?
A comissão considerou insuficientes as explicações dadas por ele por escrito…
Ele mandou depois. Mas a comissão deveria resguardar a ele o amplo direito de defesa. Isso não foi dado ao Lupi. Não o chamaram para se explicar. Foram atropelando. Com 50 pessoas falando contra ele nas TVs e nas rádios, por que não o chamaram lá?
Na sua avaliação, por que a Comissão de Ética decidiu pela primeira vez recomendar a exoneração de um ministro justamente nesse caso?
Porque há uma luta ideológica. Como uma Comissão de Ética da Presidência se reúne sem que a presidenta soubesse, e divulga para a imprensa sem divulgar antes à própria presidenta? Ela que tinha de saber se deveria dar publicidade a isso ou não. Eles divulgaram para a imprensa e depois mandaram pra ela, dando um xeque-mate na Dilma.
Quais são as metas do PDT hoje?
Tivemos mais de 120 mil novos filiados nos últimos três meses. Estamos com 1,2 milhão de filiados. Somos o quinto maior partido em termos de filiados. Já passamos o DEM e o PTB. Nossa página na internet é a mais acessada do país entre os partidos políticos. Vamos crescer. Não só no numero, mas também em qualidade. Ou construímos quadros ideologicamente comprometidos ou vamos ser manipulados permanentemente por esse grande partido que é a grande mídia. Hoje ela está pautando todo mundo. A história se repete. O que acontece agora é o mesmo que aconteceu com Vargas e Jango (o ex-presidente João Goulart). Tentaram desconstruir Leonel Brizola. Nossa grande tarefa agora é preparar o partido ideologicamente. Brizola, por exemplo, nunca falou de corrupção. Honestidade é dever, não precisa fazer discurso. Você vê muita gente fazendo discurso contra a corrupção de maneira hipócrita. É tudo hipocrisia. Pra mim, essa turma que dilapidou o Brasil por 500 anos não tem memória.
Leia também:
Deixe um comentário