Congresso em Foco – Por que a senhora assinou a CPI da Petrobras?
Shéridan – Há uma necessidade de não só investigar, mas fiscalizarmos e apurarmos. Assinei, e foi uma das minhas primeiras, principais ações do primeiro dia de trabalho. Sob o comando do nosso líder, Carlos Sampaio [PSDB-SP], protocolamos juntos essa CPI, como iniciativa de nossa bancada. Mas não é só a CPI da Petrobras, mas a do sistema energético… Eu vou fazer parte de todas as outras ações e providências que vierem a ser tomadas a fim de apurar, de fiscalizar tudo o que está acontecendo, esse contraste que, infelizmente, estamos vivendo no Brasil. Até porque diz respeito aos interesses da maioria da população brasileira. Por essa população e, especialmente, pela população do lugar que eu venho, do estado que eu represento, é que eu vou trabalhar.
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Há quem diga que as CPIs funcionam apenas como palco para alguns parlamentares. Com as investigações da Lava Jato já avançadas, isso não pode se confirmar? A nova CPI da Petrobras é, de fato, necessária?
Discordo [da tese do palco]. Acredito que há fatos que ainda devem ser apurados, acompanhados e fiscalizados pelo nosso trabalho de legisladores. Acredito que quanto mais pessoas envolvidas, quanto mais representatividade nós tivermos, com todo o Brasil imbuído desse sentimento de querer acompanhar e esclarecer o que houve, o que existe, o que ainda não foi esclarecido, é necessário. Discordo, não acho que é palco. Há políticos e políticos. Realmente, há políticos que usam ocasiões como essa como plataforma política. Mas isso se limita a poucos. Nós, do PSDB, temos esse compromisso e a vontade de irmos além, de investigar.
Como membro da oposição, como a senhora responde a quem diz estar em curso um golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, com as manifestações a favor do impeachment? A oposição está contestando o resultado das urnas?
Não acho que seja a oposição, mas a maioria da população brasileira. Nossa manifestação não é partidária, é um clamor social que nós aqui, pelo PSDB, traduzimos. Não temos aqui uma frente que se limita pela conveniência política, pelo interesse de um grupo, de um partido. O que nós trazemos para cá é o que estamos vendo em todo o Brasil. É o que movimentos sociais, os grupos de representatividade dos mais diversos segmentos sociais, das mais diversas orientações, apresentam em todo o Brasil. Estamos aqui para representar a população. O que traduzimos aqui é a vontade, o clamor da população.
O impeachment é a solução?
Talvez não seja a solução. E talvez não seja o momento em que a gente vai chegar a isso. É um processo, mas ele não nasce aqui [no Congresso]. Nós aqui traduzimos e defendemos os interesses da população que está lá fora. Nós aqui trazemos as demandas, protegemos os direitos da população. E também buscamos esclarecimentos, queremos saber o que está acontecendo. Traduzimos esse clamor, esse momento. E, talvez, quem sabe, chegamos a esse ponto [impeachment]? Ninguém sabe. Mas, se chegarmos, não é uma decisão unilateral do PSDB, mas a vontade da maioria da população.
Esse clamor social está dividido? Tendo como parâmetro as manifestações de junho de 2013, a senhora acha que as mobilizações que estão por vir são voltadas exclusivamente contra a presidenta da República?
Acho que é, mais uma vez, o grito de indignação sobre tudo o que está acontecendo. É acho que é sobre um todo, mas especialmente sobre quem controla, que gere tudo isso, quem está no comando de todos esses escândalos. São o contexto e os fatos que estamos vivendo, testemunhando. Realmente, não há fatos concretos que justifiquem a questão do impeachment agora. Mas há um contexto que, inegavelmente, expõe muito [Dilma] pelos fatos em si, condenam muito. E apontam um total desgoverno, uma desqualificação de preparo, de competência, de compromisso desse governo que hoje está aí.
A senhora chega ao Parlamento em meio a uma crise política grave, o que gera debates virulentos entre os parlamentares? A senhora estranhou a temperatura elevada das discussões de plenário?
Absolutamente. O debate, quando é pautado por inteligência, por conhecimento, por orientações, vários prismas distintos de avaliação, é sempre muito saudável – desde que o que seja priorizado neste debate, nesse embate e nessas divergências seja o interesse comum da população, e não o interesse político limitado. A questão do orçamento impositivo, por exemplo – sobretudo para nós, que estamos chegando – é um grito de liberdade. É a condição, de fato, de poder trabalhar sem depender da conveniência política de ninguém. É acabar com a perspectiva dos que agem de má-fé, utilizam seus mandatos como moeda de barganha. É não permitir que determinados parlamentares, por fazerem parte de outros grupos, tenham seus mandatos engessados. Eu não só apoio como aplaudo essa dinâmica nova que esse presidente [da Câmara] está dando, trazendo mais pautas para dentro da Casa, com mais sessões deliberativas, mais votações nominais. A população espera que a gente trabalhe, e é para isso que a gente está aqui, para otimizar o tempo em que estivermos aqui em Brasília. Há, sim, pessoas dentro dessa Casa comprometidas, querendo trabalhar, querendo representar bem todos os que estão lá fora.
Quais são suas bandeiras principais na câmara?
Busco neste mandato a oportunidade de dar continuidade ao trabalho que iniciei em meu estado. Nos últimos seis anos, eu desenvolvi em Roraima uma nova perspectiva, uma nova forma de se ver e de se fazer ação social, e trabalhar pelas pessoas, sobretudo as minorias. Nós tivemos a condição de humanizar os serviços sociais de todo o estado e, dessa forma, garantir o respeito, a atenção, um olhar mais cuidadoso e respeitoso para população.
A senhora foi secretária de Promoção Humana e Desenvolvimento. Como passou a ver seu estado ao exercer essa função?
O Estado de Roraima, em termos populacionais, é muito pequeno, e nós temos condição de imprimir a nossa forma bem particular na gestão de nossos programas, das nossas ações. Eu pude trabalhar, desde a nossa capital aos municípios do interior, pessoalmente com as mulheres produtoras, com as comunidades indígenas, e isso estabeleceu uma relação muito próxima com as pessoas. Essa relação me rendeu um reconhecimento e um compromisso diferenciado – muito embora eu seja roraimense, minha família é toda de lá, eu tive essa sensação de missão. Isso me fez experimentar esse compromisso, e vou buscar aqui a oportunidade de continuar trabalhando, representando e defendendo os interesses do meu estado, da Amazônia e, por que não?, do Brasil também, tendo em vista que nossa população de Roraima vem de todos os lugares. É um estado que recebe todo o Brasil.
A senhora recebeu críticas por ter sido indicada para uma função política no governo do próprio marido, à luz da Lei Antinepotismo…
Realmente, existem limitações [na legislação]. Mas cada situação é uma situação diferenciada. Eu tinha condição de ser só uma primeira-dama protocolar – primeira-dama não é cargo, é título – e me limitar somente a fazer a arte das ações pontuais e sociais no governo. Só que eu sei que, pela minha capacidade, pelo meu compromisso, pela minha competência, eu podia fazer muito mais. E essas atividades que eu desenvolvi, eu não poderia desenvolver sem fazer parte do staff governo. Quando assumi o cargo de secretária, assumi para trabalhar, de acordo com minha competência, minha capacidade, meu compromisso pessoal e social em ajudar, em trabalhar por Roraima. Acredito que, se houve críticas, surgiu de pessoas que desconheciam meu trabalho. Porque o mais importante dessa experiência – e eu sempre disse que nunca fui a pessoa mais indicada para falar de meu trabalho – foram as pessoas que usufruíram, foram beneficiadas pelo meu trabalho. Até hoje discorrem sobre o que foi a experiência de ser assistido, de ser tratado, cuidado, por algum programa social que eu tenha implantado durante seis anos de trabalho no governo.
Como agiu diante das carências do estado?
Na oportunidade, em 2008, recebi essa missão com uma perspectiva de fazer diferente. Tive condições de preconizar, em Roraima, essa forma diferenciada de fazer política social. Fui, dentro das lacunas que existiam na sociedade, prestar atenção à pessoa com deficiência, à pessoa idosa, à mulher produtora rural. Então, em cima dessas lacunas, dessas demandas, fui construindo meu trabalho e mostrando que, com competência, dedicação, a gente consegue fazer a coisa diferente. Criei um programa que virou referência no Brasil, de atenção à a pessoa com deficiência, chamado Viva Comunidade. Foi premiado várias vezes, no Brasil e fora do Brasil, como modelo de gestão pública, porque assistíamos ele desde a saúde à captação; desde a captação profissional à inserção no mercado de trabalho. Conseguimos resgatar isso na sociedade, essa forma respeitosa, cuidadosa, de trabalhar com a pessoa com deficiência e inseri-la na sociedade. Sem dúvida alguma, foi uma de minhas principais ações, meu primeiro programa da Rede Viva. Depois, com o sucesso do programa, vieram outras unidades – daí a Rede Viva. Em seguida, veio o Viva Criança, que atendia às crianças vítimas de maus tratos; depois criei o Viva Melhor Idade, que atende à pessoa idosa – 600, 800, mil famílias respectivamente atendidas em cada programa. O primeiro, Viva Comunidade, rendeu todo esse reconhecimento. Pela primeira vez Roraima, um estado tão pequeno, tão carente do extremo norte, presenciou outras pessoas de grandes centros do Brasil indo a Roraima conhecer nossa forma de trabalhar.
Nesse trabalho, a Shéridan psicóloga se sobrepôs à Shéridan política?
Existe uma máxima que diz que, quando a gente toca a alma humana, a gente tem que ser apenas uma outra alma humana. Esse preceito sempre me embasou, sempre me respaldou. Segundo meu conhecimento da ciência, olhar as pessoas dessa forma – não como gestora, não como primeira dama, não como uma secretária de estado, mas como uma mulher, que também era mãe, que também tinha filho, que poderia também viver aquelas experiências que aquelas pessoas experimentavam; que também tinha avó que poderia estar naquela situação e precisar [da assistência do estado]… Acredito muito que, quando a gente tenta se colocar no lugar, pelo menos por um instante pequeno, a gente consegue experimentar a situação, viver a sensação. De um jeito diferente, trabalhar com um olhar diferenciado. Eu não posso querer discutir de longe, distante, os lugares, as condições, as pessoas, os problemas sociais. Lógico que isso não significa, necessariamente, ter vivido, experimentado. Mas essa aproximação, essa tentativa de imaginar, de se projetar naquela condição nos dá, por meio da sensibilidade, a condição de tentar trabalhar da maneira, com o melhor alcance possível, o que a gente vai fazer.
Vai repetir esse estilo na Câmara?
Aqui, eu sou só parlamentar. Mas eu não falo só como uma deputada. Falo como mulher, como mãe, como uma pessoa que veio do norte, que tem raízes dentro das comunidades indígenas, que viveu as mazelas de um estado que está longe, carente, que foi desassistido pelo governo federal. A gente não vem para cá, única e exclusivamente, com um mandato. A gente também vem com nossa herança – no que serviu como base, tentar construir o que nós somos, o que nós representamos de verdade. É dessa forma que eu sempre me comportei, e que eu pretendo me comportar aqui, nessa nova atividade de minha vida, agora como parlamentar.
Já pensou em que tipo de projeto vai apresentar na Câmara?
Tenho alguma experiência que, acredito, a gente possa levar para outros estados, outras populações do nosso país, de acordo com a referência de sucesso que houve em Roraima. É óbvio que temos algumas frentes específicas que vêm da experiência específica do meu estado – questões de fronteira, de vulnerabilidade das pessoas. Algumas questões mais fortes e extremamente emergenciais, como o tráfico de pessoas. E até as questões previdenciárias das famílias de pessoas com deficiência. Vem [ao Congresso] um pouco do que eu trabalhei, da minha experiência como secretária. Mas também vêm, agora, tentando ampliar meu leque de atuação, algumas questões referentes a Roraima, mas que podem contribuir para o resto do Brasil, sem dúvida alguma.
Como a senhora pretende se impor, como novata, para conseguir aprovar seus projetos?
Estou começando agora, então acho que é muito cedo para fazer qualquer avaliação. Existe, obviamente, um caminho mais fácil para os que estão aqui há mais tempo. Além do know-how, eles já têm uma experiência bem mais ampla. Então, é natural que os que chegam agora tenham um caminho mais árduo a percorrer, desde a perspectiva do andamento e do funcionamento da Casa, como também por uma condição natural de se familiarizar com a rotina. Competência para estar aqui todos nós temos. Minha forma de me comportar é tentando fazer o melhor. Eu não sei quantos muros vão vir pela frente, quantas barreiras vão surgir com o tempo, mas minha disposição e meu empenho é de que eu possa pular todas as barreiras, derrubar todas as muralhas e conseguir alcançar meus objetivos. Daqui a um tempo posso te responder a essa pergunta com mais precisão, e te dizer se foi complicado, se atrapalharam. Mas, toda vez em que tentarem me prejudicar, seja por uma questão de partido ou uma questão política, eu terei voz e disposição para lutar pelos meus direitos aqui dentro, e das pessoas que estarei defendendo com meus projetos, com minhas emendas, com a pauta que trarei para esta Casa.
A Câmara tem mordomias demais? O custo-benefício da Casa é satisfatório para o Brasil?
Ela oferece condições para que os parlamentares tenham condições de trabalhar, se deslocar, manter estrutura para trabalhar aqui dentro. Então, acho que existe um pouco de sensacionalismo a respeito de determinados temas. Os parlamentares trabalham. Se existem alguns que não trabalham, ou fazem má utilização de suas verbas, aí é uma questão de desvirtuamento da verba e da missão e do papel de cada um aqui. Mas a remuneração é de acordo com as demandas que cada um tem. Por exemplo: eu moro em Roraima. Tenho de vir pra cá, manter uma estrutura aqui, eu tenho de manter a minha casa lá, com minha família lá. Tenho filhos, o mesmo que qualquer outra mulher e mãe de família tem. E eu sou responsável pelas despesas da minha família. Então, existe um pouco desse sensacionalismo dessas situações pontuais [de desvirtuamento da verba] de alguns parlamentares que se excedem. Eles abusam, realmente, do dinheiro público. Mas há, paralelamente, os que seguem à risca o que é estabelecido e oferecido a eles para cumprir o seu mandato, estarem aqui no Parlamento toda semana, para realmente trabalhar e respeitar o dinheiro público. Como em toda profissão, existem os dois lados da moeda.
A senhora parece se incomodar em ser chamada de musa. Que recado dá a quem insiste nesse rótulo?
Quem falou que não falaria nesse negócio de musa? (risos)
Mas estamos justamente dando a oportunidade para que a senhora reclame disso…
Eu não fui eleita por qualquer característica física, por nenhum tipo de conveniência ou condição de aparência. Fui eleita pelo meu trabalho. Como mulher, que eu também sou, vou considerar seu elogio…
Mas eu não fiz elogio. Pedi que a senhora desse um recado a quem o faz.
Então vou desconsiderar seu elogio. (risos) Tira o elogio. Deixe-me concluir. Não fui eleita por qualquer condição física, nenhuma questão de aparência. Fui eleita pela minha capacidade de trabalhar, e esse fator [beleza] em nada implica, em nada contribui ou altera a minha forma e o meu compromisso, minha vontade. Isso não é regalia, benefício, fator de vantagem. Isso não me impressiona, tampouco proporciona mais ou menos. Beleza, para mim, é definitivamente uma questão passageira. Hoje, essa é a forma que me veem. Mas amanhã, se eu vier em uma outra condição, de uma outra forma, sem qualquer tipo de clichê, o que está realmente estabelecido como regra geral, como condição elementar em tudo o que vai me pautar, é o que transcende isso aqui que estás vendo: é minha vontade de honrar, primeiro, a oportunidade, o voto de confiança que milhares de pessoas me deram; e a capacidade de mostrar que a mulher vai muito além. A mulher tem a capacidade de, com maestria e sensibilidade, de representar o todo. A mulher não só representa a mulher. É o único elemento da família que pode representar o filho, o homem, a mãe, o idoso, o deficiente… Todos os membros da família, porque ela tem essa condição e essa capacidade de compreender o todo, com habilidade e até com graça. Por que não com graça, também? Faz parte. Mas as mulheres têm que ser vista com esse olhar: como uma força grandiosa, e muitas vezes silenciosa, mas capaz de mudar muita coisa, inclusive esse Brasil.