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“Saiba que o presidente da Câmara agora é oposição ao governo. A partir de hoje, me considero em um rompimento pessoal com o governo”, sentenciou o peemedebista, adiantando que vai defender o rompimento formal do PMDB com o governo no congresso nacional do partido, em outubro. Na ocasião, Cunha disse ainda que ministérios ocupados pela legenda, como as pastas de Minas e Energia e da Agricultura, devem ser devolvidos ao Planalto.
Ontem (quinta, 16), Cunha disse ao Congresso em Foco que o depoimento do lobista Julio Camargo, um dos delatores do esquema de corrupção na Petrobras, foi uma “mentira” proferida aos investigadores da Justiça Federal “a mando” de Janot. Na declaração a este site, o deputado negou ter pedido propina de US$ 5 milhões em um contrato de compra de navios-sonda da Petrobras, como relatou Camargo, em declaração feita sob regime de delação premiada. Em coletiva de imprensa na Câmara, ele voltou a acusar Camargo, a quem chamou de “pilantra”, e disse que não respeita delações sem provas.
Além da propina de US$ 5 milhões, outra denúncia foi lançada contra Cunha ontem. Também em depoimento sob delação premiada, desta vez prestado pelo doleiro Alberto Youssef, um dos principais delatores da Lava Jato, registrou-se que um deputado ligado a Cunha e membro da CPI da Petrobras faz intimidação a Youssef e sua família para blindar o cacique peemedebista. “Como réu colaborador, quero deixar claro que estou sendo intimidado pela CPI da Petrobras por um deputado pau mandado do senhor Eduardo Cunha”, declarou Youssef (leia mais aqui).
“Lama”
Cunha iniciou a entrevista coletiva lendo trechos do depoimento de Julio Camargo, desqualificando seu conteúdo e dizendo que, por ter foro privilegiado, não poderia ver seu nome envolvido em depoimento prestado em primeira instância. O deputado disse que recorrerá ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que seu inquérito saia da 1ª instância da Justiça em Curitiba, onde foi colhido o depoimento de Camargo, e fique restrito à corte. Para o deputado, os trabalhos foram irregularmente conduzidos por um juiz, Sérgio Moro, que “acha que é dono do mundo”.
PublicidadePara o deputado, a intenção do governo é evidente. “Está muito claro para mim que esta operação é uma orquestração do governo. Esta lama, eu não vou aceitar estar junto dela. Eu não sou como eles [adversários governistas]”, fustigou Cunha, para quem o governo reúne “aloprados” em sua cúpula, e que eles é que deveriam ser investigados.
O parlamentar fluminense disse ter comunicado sua decisão ao vice-presidente da República e companheiro de partido, Michel Temer, e ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), também investigado na Lava Jato. Segundo Cunha, ambos respeitam seu posicionamento. Lideranças peemedebistas no Congresso têm evitado polemizar o assunto e se limitado a dizer que também respeitam a reação do deputado.
A decisão de Cunha remeteu à disputa pela Presidência da Câmara, no começo do ano, quando o Planalto tentou inviabilizar a vitória do peemedebista com o lançamento da candidatura de Arlindo Chinaglia (PT-SP). Na ocasião, ministros de Dilma foram despachados para o Congresso para tentar convencer membros da base a votar no petista. O mobilização, em vão, serviu apenas para irritar Cunha e azedar ainda mais a relação com o Planalto.
“O governo sempre me viu como pedras no sapato. Não sei se é medo de mim, mas o governo não me queria, nunca me quis e não me quer no governo. O governo não me engole”, resumiu o deputado.
O Planalto se mantém em silêncio diante das movimentações relativas à Lava Jato. Por meio de nota divulgado ontem (quinta, 16), a PGR reagiu às declarações de Cunha sobre a suposta ingerência do órgão nas investigações e delações premiadas em curso. Para a PGR, “o depoimento prestado […] por Júlio Camargo à Justiça Federal do Paraná não tem qualquer relação com as investigações (inquéritos) em trâmite no âmbito do Supremo Tribunal Federal”, referindo-se aos inquéritos contra figuras com foro privilegiado no STF, caso de Cunha.