No dia em que Brasília completa 55 anos como a capital do país, um grupo de artistas brasilienses comemora 20 anos de carreira. Com muito humor, sem concessões. Desde 1995, a companhia “Os melhores do mundo” já levou aos palcos 22 espetáculos e atraiu mais de 2 milhões de pessoas. Além de se firmar como um dos grupos teatrais de maior público do Brasil, abriu caminho para outras trupes que fazem da capital uma das referências na arte de arrancar risadas. Uma Brasília cuja graça vai bem além dos monumentos e eixos da Esplanada.
“Essa história de sermos de Brasília sempre foi vista como algo exótico. Porque para quem não é da cidade, Brasília é só o mundo oficial, governamental. Levamos para outros lugares o nome da cidade de uma forma diferente. E, sem dúvida, o lado político de Brasília é fonte inesgotável de piadas”, diz Victor Leal, um dos integrantes da companhia que faz sucesso com seu lado “meio besteirol”, “meio cult”, como ele mesmo define.
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Fiéis à liberdade de zombar de tudo e de todos, Victor Leal e Adriano Siri conversaram com a Revista Congresso em Foco. Cariocas, os dois formam com o goiano Jovane Nunes e os brasilienses Adriana Nunes, Welder Rodrigues e Ricardo Pipo um grupo que tem no escracho sua maior marca. Desdenham da ditadura do politicamente correto e zombam de tudo e todos – de políticos a empresas, sem falar de temas mais delicados como religião, futebol, deficiência física e símbolos nacionais. “O nosso rabo é soltíssimo”, avisa Siri.
Nesta terça-feira (21), às 21h, o canal Multishow transmite ao vivo, do Rio de Janeiro, a montagem de um dos “clássicos” do grupo – Hermanoteu na Terra de Godah. A apresentação faz parte da comemoração das duas décadas de carreira de “Os melhores do mundo”. Em junho, eles gravam o próximo DVD, Misticismo.
Veja trechos da entrevista concedida pelos dois a Sylvio Costa e Sergio Bazi na quinta edição da Revista Congresso em Foco:
Revista Congresso em Foco – A que vocês atribuem o sucesso que fazem?
Victor Leal – Sem falsa modéstia, a gente faz um humor inteligente com linguagem acessível. O menino de oito anos e a senhora de 80 riem da gente, independente de classe social. Ficamos muito conhecidos na classe C.
Adriano Siri – Uma coisa boa foi que demoramos a explodir. Houve tempo para conquistar as pessoas e, principalmente, ganhar maturidade. Maturidade cênica, profissional, de vida. O sucesso nacional veio com o grupo maduro. Todos passamos pela televisão, e ninguém ficou tentado a deixar tudo para se dedicar só à TV.
Vocês fizeram escola no teatro de Brasília, né?
Victor – Isso é ótimo pra gente, que começou a fazer teatro na década de 90 batalhando pra levar o público, a gente mesmo distribuía filipetas, construía cenários etc. É ótimo ver que hoje não só existem vários grupos como esses grupos conseguem encher teatros. Criou-se em Brasília uma cultura muito forte das companhias de comédia, como G7, De 4 é Melhor, 7 Belos… existem uns 15 grupos trilhando o caminho da comédia. A ponto de termos num fim de semana quatro teatros lotados com companhias de comédia brasilienses. É uma vitória que a gente levou muito tempo para conseguir.
Brasília, por ser a capital do poder e ter todas essas coisas estranhas que acontecem aqui, é um cenário propício para a comédia?
Victor – Acho que sim. É uma fonte de inspiração, estamos no olho do furacão. Todo mundo fala de política, mas a gente acompanha, conhece, fala com embasamento. Humor é lastro, tanto para quem assiste quanto para quem faz. Se há inteligência, a piada é multiplicada por dez. Essa história de sermos de Brasília sempre foi vista como algo exótico. Porque para quem não é da cidade, Brasília é só o mundo oficial, governamental. Levamos para outros lugares o nome da cidade de uma forma diferente. E, sem dúvida, o lado político de Brasília é fonte inesgotável de piadas.
Alguns grupos culturais não dependem demais do dinheiro do Estado para produzir?
Siri – Isso cria uma prisão de rabo, e você fica então muito limitado. Sem subsídio, o nosso rabo continua soltíssimo. (risos)
Vocês já tiveram confronto com a plateia por causa de críticas feitas no palco?
Victor – Várias vezes. Falar mal de Lula no Nordeste é complicado, e a gente não deixa de falar mal por isso. A gente fala mal de quem a gente gosta e de quem não gosta. E lá às vezes é um problema. Tem gente que grita: “Preconceituoso, não sei o quê…” A gente vai no Rio, sacaneia o Flamengo. As pessoas sabem que é brincadeira. Alguns aplaudem, outros vaiam. A gente percebe o confronto, mas não sente hostilidade. Pelo contrário. Em São Luís, toda vez que a gente fala do Sarney, as pessoas se levantam e aplaudem de pé, em cena aberta. Porque o governo é dele, o jornal é dele, a televisão é dele, então sobrou o teatro. É impressionante. Mil pessoas de pé, aplaudindo com emoção. É esse o lado político do nosso trabalho. E a gente sacaneia o forte, não o fraco. Queremos criticar o poder, quem está por cima. A gente não é cult, e também não é popularesco. A gente transita aí no meio. Nosso reconhecimento se deve muito à internet. Como ninguém mostra esse fenômeno, a gente mesmo se divulga pelas redes sociais, pelos blogs.
Veja a entrevista completa na quinta edição da Revista Congresso em Foco
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