“Não tem nada de errado na economia brasileira. As famílias e as empresas brasileiras não têm grande alavancagem. O governo tem um pouquinho, mas está se cuidando. Então, quando você conserta, a resposta é rápida”, declarou Levy, no balneário turco de Antália, a mais de dez mil quilômetros de Brasília.
Ao dizer que “o folhetim não é muito importante”, Levy fazia crítica declarada ao tratamento que a imprensa tem dado à possibilidade de sua substituição pelo ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, suposta preferência de Lula. “Estou aqui, tenho respaldo da presidente Dilma e não vim a passeio”, afirmou o ministro, garantindo não se sentir ameaçado à frente da Fazenda.
O ministro refutou a tese de que a oferta de crédito, fórmula usada por Lula em 2008, seja a solução para a recessão e criticou a comparação entre crescimento econômico gerado pelo “boom” das commodities (produtos in natura, com baixo valor agregado) e o trabalho de austeridade fiscal para “botar a casa em ordem” – o modelo que ele, com respaldo da presidenta Dilma Rousseff, tenta colocar em campo mesmo com a resistência de petistas e face à chamada “pauta-bomba” patrocinada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por meio de projetos que aumentam os gastos do governo.
Secretário do Tesouro Nacional no governo Lula, entre 2003 e 2006, Levy é um dos defensores do chamado “Plano 123”, que consiste basicamente em três pilares macroeconômicos: mais reservas orçamentárias; retomada da demanda de consumo e produção; e expansão controlada da oferta. Acusado de ministrar um medicamento pesado para a economia, com ônus excessivo para a classe trabalhadora, o ministro preferiu elogiar seu ex-chefe – a quem parte da imprensa atribui as críticas.
“Nunca tive grandes diferenças com o presidente Lula. Uma das grandes sabedorias [do cacique petista] foi ter paciência, ao contrário de outras pessoas que querem fazer tudo ao mesmo tempo. A grande lição dele foi fazer as coisas no seu tempo”, observou Levy, que rejeita a fórmula do aumento gradual do crédito para empresas e, em seguida, para o consumo familiar. Foi com esse modelo que Lula superou a crise de 2008.
O ministro fez questão de destacar a diferença entre os contextos econômicos de hoje e do período compreendido entre outubro de 2008 e início de 2009, quando da estagnação do mercado de crédito mesmo diante do corte de juros em diversos países. “A situação de hoje é distinta da de 2008. Não há problema de oferta de crédito; o problema é a normalização da economia”, arrematou Levy, para quem a retomada do crescimento é necessariamente precedida do equilíbrio fiscal.
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