Ouviram do Largo de São Francisco as vozes nada plácidas de um povo preocupado com o risco à sua democracia…
Pelo visto, a nova tentativa do presidente Jair Bolsonaro de estragar a festa dos 200 anos de independência do Brasil transformando-a em um ensaio de ruptura democrática tem grande chance de ser abafada com um outro brado retumbante 27 dias antes.
As leituras dos dois manifestos pela democracia na sede da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no Largo de São Francisco, são uma bela antecipação do nosso grito de independência. Especialmente porque reunirão os diversos segmentos da sociedade brasileiro em torno da defesa do estado democrático de direito. Com o manifesto da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), já não se trata mais somente de algo que pudesse ser imaginado como uma iniciativa de esquerda, de estudantes e acadêmicos.
Na verdade, o manifesto da USP há muito já não era isso. Uma vez que, entre as suas mais de 700 mil assinaturas a essa altura, já contava com a adesão de empresários e banqueiros, além dos professores e artistas.
Leia também
Assine aqui ao manifesto da UPS pela democracia
Veja abaixo o comentário em vídeo:
PublicidadeAinda que haja uma clara mudança de perfil no comando da Fiesp com a troca de Paulo Skaf por Josué Gomes, seria ingenuidade considerar que a produção do manifesto é somente consequência disso. Os dois já demonstraram pretensões políticas. Skaf andou se aproximando de Bolsonaro. Josué é filho de José Alencar, ex-vice presidente de Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2014, chegou a ser candidato a senador, pelo PMDB, na chapa de Fernando Pimentel, do PT, ao governo de Minas Gerais. Pimentel elegeu-se, ele não. Mas a Fiesp não é somente Skaf nem Josué. Reúne os principais industriais do país. E ambos os manifestos estão coalhados com a adesão de outros nomes conservadores da sociedade brasileira que em 2018 apoiaram Bolsonaro.
A explicação para essa adesão passa longe dessa mudança de perfil. É, na verdade, fruto de um mesmo tipo de percepção da união da sociedade que forjou a campanha pelas Diretas e a eleição de Tancredo Neves.
Às 10h do dia 11 de agosto, no Salão Nobre da faculdade, será lido o manifesto da Fiesp. Às 11h30, no pátio da faculdade, o manifesto da UPS. Agora, inicia-se uma mobilização para tornar este dia 11 de agosto um dia nacional de mobilização pela democracia, antecipando o chamado de Bolsonaro para o Sete de Setembro.
É uma estratégia inteligente, se for consolidada. Se fossem convocadas manifestações de oposição a Bolsonaro para o mesmo dia Sete de Setembro, isso transformaria as ruas do país em uma praça de guerra. E pode fazer parte do plano de Bolsonaro justamente isso. Daqui até as eleições em outubro, tentar gerar um clima de tensão e confusão que venha a justificar uma argumentação de que não há ambiente para realizar as eleições. Há algumas semanas, o jornalista Elio Gaspari chegou a alertar para essa hipótese.
Assim, evitar manifestações para os mesmos dias pode ser uma atitude prudente. E antecipar o que Bolsonaro pretendia outra atitude hábil.
Como diz o Hino da Independência, o Brasil tornou-se independente para se livrar dos “grilhões que nos forjavam”. Com os manifestos de 11 agosto, parcela significativa da sociedade brasileira dirá em alto e bom som que, duzentos anos depois, não está nem um pouco interessada em trocar tais grilhões por outros.
Deixe um comentário