Os indicadores da economia brasileira em 2023 não foram ruins. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deve bater nos 3%. A divulgação oficial do resultado pelo IBGE será no próximo dia 1º. de março. As projeções iniciais eram bem mais modestas, em torno de 0,7%. O mercado de trabalho está aquecido com taxas baixas de desemprego, crescimento da massa salarial e dos salários reais. Ainda nos desafiam o grande contingente de trabalhadores informais e o não desprezível número de desalentados, que são aqueles que desistiram de procurar emprego.
A inflação, medida pelo IPCA, registrou queda, fechando ano em 4,62%, batendo na trave do limite superior do intervalo de tolerância
do sistema de metas inflacionárias. Para 2024, se espera uma inflação em torno de 3,9%, ainda acima da meta de 3% traçada pelo Conselho
Monetário Nacional. Os juros reais continuam altos, a taxa básica está em 11,25%, muito acima da inflação estimada, mas o Banco Central sinaliza a continuidade de quedas contínuas nas próximas reuniões do COPOM.
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O setor externo também permaneceu com desempenho favorável. Hoje a dívida externa é irrelevante, não é fonte de preocupação como nos anos de 1980. As reservas internacionais se encontram em patamar extremamente confortável somando US$ 355,0 bilhões, um colchão de amortecimento sólido contra volatilidades do cenário global, que está mais favorável, mas com incertezas presentes introduzidas pelas guerras envolvendo Ucrânia e Israel, e as expectativas em torno da eleição americana. As exportações bateram recorde histórico em 2023 chegando ao montante de US$ 344 bilhões, mesmo com a queda dos preços das comodities, compensada com aumento dos quantitativos. As importações caíram para US$ 264 bilhões, o que não é um bom sinal em termos de dinâmica econômica. Com isso produziu-se um saldo positivo na balança comercial de US$ 80,5 bilhões. E ainda que a conta de transações correntes tenha sido deficitária em US$ 28,6 bilhões, o déficit foi facilmente financiado pelo ingresso do Investimento Direto no País (IDP) de US$ 62 bilhões.
Portanto, nos planos da política monetária e cambial não há ameaças graves presentes no horizonte para 2024. A ameaça se situa essencialmente na situação fiscal.
O desequilíbrio nas contas do governo provoca aumento do endividamento, da inflação, da taxa de juros e a desaceleração da economia. Desde 2014, o governo brasileiro tem registrado déficits primários (que não levam em conta as despesas financeiras), com exceção do pequeno superávit em 2022. Ano passado tivemos o segundo pior resultado da história, com um resultado primário negativo em R$ 230,5 bilhões ou 2,12% do PIB. Para estabilizar a relação entre a dívida pública e o PIB, precisaríamos de um resultado positivo de 1,4% do PIB. A Lei de Diretrizes Orçamentária/2024 fixou a meta de déficit zero. Há grande ceticismo quanto o alcance deste resultado e as projeções são de um déficit em torno de 0,9% do PIB. Ou seja, a tendencia é a dívida brasileira continuar crescendo.
A estratégia do atual governo mudou em relação ao antigo teto de gastos, que centrava o ajuste no controle das despesas. Agora, o foco é o aumento da arrecadação e várias medidas foram tomadas. A arrecadação de janeiro de 2024 foi recorde. Mas ainda é cedo para visualizarmos aonde chegará a economia brasileira ao final do ano.
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