Na próxima semana completam-se três anos sem Marielle e Anderson e sem respostas sobre quem foi o mandante do crime e o porquê.
A dor da ausência e o peso da violência de seu assassinato são marcas que não se apagam das experiências individuais de cada familiar, amigo, companheiro de partido ou militante que a conheceu pessoalmente. Marielle era brilhante! Há também a dor coletiva, aquela gerada pelo ferimento que constitui o covarde assassinato de uma parlamentar democraticamente eleita, ao fim do exercício de mais um dia de trabalho.
Acontece que Marielle se tornou ancestral. Seu mandato, que tinha um limite determinado pela Constituição, hoje é ilimitado. Não está mais concentrado nas ações locais da capital fluminense, nas atividades desenvolvidas pela sua antiga equipe ou disponível somente para seus mais de 46 mil eleitores. Hoje inspira e norteai lutas por direitos humanos em todo mundo! E essa inspiração, que é uma fonte inesgotável de propostas para enfrentarmos os retrocessos de uma política genocida, é fruto do trabalho concreto e das ações, alianças e escolhas da parlamentar negra, cria da favela da Maré, ativista pelos direitos humanos e militante do Partido Socialismo e Liberdade.
A pergunta sobre quem mandou matar Marielle Franco e Anderson Gomes incitou outras perguntas e formulações. Um país que foi estruturado a partir do ódio contra os homes e mulheres negras, contra as mulheres e os lgbts, encontra-se marcado por um crime político que, ainda sem respostas, arregimenta posturas de combate às estruturas de violência no Brasil.
Por entre caminhos políticos cada vez mais desastrosos, de negação de direitos ao povo, silenciamentos e instituições viciadas por práticas e pessoas que evitam o encontro com o que somos -uma sociedade racista, misógina, lgbtfóbica, de classes, nesses últimos três anos houve um trabalho continuado, conduzido pela própria família de Marielle, mas também por cada mulher e homem brasileiro que se insurge contra os ataques ao povo brasileiro, e que hoje se materializa na luta contra a fome, contra a abertura de novas covas rasas e pela vacina.
Desde seu assassinato não pararam de brotar “sementes”, em tantos espaços quanto pudermos olhar. A ancestralidade nos ensina sobre um conhecimento que torna-se coletivo e que acompanha as ações, as dúvidas, os espinhos e o desabrochar de sucessos.
PublicidadeHá três anos girassóis se espalhavam pelas ruas, nas escadarias da Câmara Municipal do Rio de Janeiro e da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, simbolizando a marca de quem ali brilhou e compartilhando a mensagem de que outras viriam – e vieram, sem que nos esquecêssemos de quem Marielle Franco foi -e pela ancestralidade, é.
Os girassóis, desde então, nunca pararam de ser lançados na política nacional através de pronunciamentos, projetos de lei, ideais políticos e novos corpos – cada vez mais coletivos.
Sem dúvida, o que mais queríamos era um Delorean que voltasse no tempo, que o assassinato não passasse de um atentado infrutífero, e que Marielle, com sua voz maviosa repetisse no dia seguinte, do púlpito da Câmara de Vereadores, que não iriam calá-la novamente.
Mas na impossibilidade de fazer no presente o passado desejado, hoje projetamos o futuro com o que ela fez. Acompanhamos o florescer de suas palavras por onde quer que esteja um defensor de direitos humanos, um parlamentar que paute a política de forma interseccional e responsiva ao genocídio da população negra, no enfrentamento à violência contra mulheres e LGBTQIs, na reivindicação por auxílio emergencial, isolamento e vacina para todos.
Marielle está (e permanecerá) presente nas lutas e vidas de cada um de nós.
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