Leonardo Volpatti e Fábio Monteiro Lima*
O surgimento de novas mídias sempre teve a atenção e o interesse direto de autoridades e políticos. O rádio, por exemplo, teve um enorme avanço e expansão no governo de Getúlio Vargas. A televisão, por outro lado, também teve um enorme crescimento e auxiliou a comunicação nos governos militares. Hoje, nós temos um presidente que foi eleito através do uso eficiente das redes sociais.
Durante toda a campanha eleitoral, Bolsonaro teve um engajamento e audiência de mais de 40 milhões de pessoas. Para se ter uma ideia, esse número significa quase que o triplo de engajamento de todos os candidatos à presidência ao longo de toda a campanha.
Bolsonaro utilizou a estratégia que é conhecida pelos teóricos americanos de going public (“indo a público”, em tradução livre), ou seja, fazer uso de uma comunicação direta com a sua rede de contatos pelas redes sociais. A relação direta com os eleitores pode ser configurada via mensagens exclusivas enviadas pelo próprio político ou através de transmissões ao vivo (lives) no Facebook e Instagram.
O que notamos nessas eleições é a força da interatividade como mecanismo de ganho de confiança dos apoiadores e eleitores.
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Há evidências claras de um processo de transformação da maneira como os políticos devem se relacionar, gerar empatia e convencer as pessoas. O presidente eleito Bolsonaro, goste dele ou não, conseguiu conquistar uma gama enorme de seguidores, se tornando o candidato mais popular nas eleições de 2018.
PublicidadeAntigamente os marqueteiros acreditavam que, quando começava a propaganda eleitoral, quem tivesse o maior tempo de TV, teria maiores chances de crescimento no jogo eleitoral. Dessa vez, mesmo com o maior tempo de TV (46%), Geraldo Alckmin não conseguiu sair dos 5%. Haddad teve 20% de tempo de TV e Meirelles teve 12%, ambos não saíram de 29% e 2% nas pesquisas no primeiro turno, respectivamente.
Bolsonaro, por outro lado, teve 0,5% do tempo de TV e obteve pouco mais de 46% dos votos válidos no primeiro turno. No segundo turno, obteve cerca de 54% dos votos válidos e suas lives no Facebook geraram mais de 10 milhão de interações ou engajamento.
A tradição política dizia que líderes estaduais e locais (prefeitos e deputados) seriam fatores determinantes para o que a campanha ganhasse envergadura e capilaridade. Alckmin teve o apoio partidário de 5 governadores, 49 deputados, 6 Senadores, e 1.757 Prefeitos. Haddad teve o apoio de 5 governadores, 61 deputados, 8 Senadores e 1.004 prefeitos. Meirelles (PMDB) teve o apoio de, 6 Governadores, Senadores e 2.382 Prefeitos(as)
O presidente eleito, por outro lado, contava apenas com 8 deputados e 151 prefeitos até chegar ao primeiro turno, fator que foi modificado ao final da campanha com a aderência direta de mais de 3 mil prefeitos.
Outro fator que os marqueteiros apontavam como variável determinante para uma vitória eleitoral é a quantidade de receita de campanha. Nessa perspectiva, Alckmin gastou 51 milhões na campanha. Meirelles 45 milhões e Haddad 12 milhões. Já Bolsonaro gastou R$1,5 milhões, com um reduzido acesso ao fundo eleitoral.
A verdade é que Bolsonaro está em campanha há 4 anos, estando comunicando diretamente com as pessoas desde de 2014. Tem dominado a cena nas redes sociais e na mídia nacional. Tem criado fatos políticos sobre princípios e valores que tocam as pessoas e alvo de críticas de diversos setores com amplo acesso às mídias tradicionais. Apesar de tudo isso, Bolsonaro se consolidou no imaginário popular sendo visto como o político mais autêntico e sem filtro, ou seja, as pessoas sabem de seus defeitos e “virtudes” e mesmo assim o apoiam, modificando a ideia de moldagem de imagem que era feita e defendida por marqueteiros do passado.
O atual presidente se consolidou como o candidato que denuncia a perseguição da imprensa tradicional. Que diz ser alvo de “Fake News”, apesar de ser acusado de ser o maior criador das mesmas. Que fala direto com “o povo” pelas redes sociais. O político que não tem receio de ser autêntico enquanto outros escondem a verdadeira face. Esse é o imaginário criado por Bolsonaro e que venceu as eleições presidenciais.
Em um momento de absoluta descrença em relação ao futuro do país, descrédito da classe política e de fake news institucionalizadas, Bolsonaro se vendeu (e convenceu) como combatente patriota, com valores conservadores e que trará de volta o “Brasil Potência” dos militares.
Vários fatores desse imaginário serão colocados a prova a partir de 1 de janeiro, no entanto, o que nos resta é verificar quais foram os ensinamentos que essas eleições trouxeram para o país. Realmente estamos em uma tendência de transformação, e essa mudança passa pela maneira como as pessoas consomem e consumiram conteúdos de política.
Essa eleição rechaçou os candidatos da política tradicional e deu audiência e confiança para quem fez uma comunicação mais direta com as pessoas mediante o uso das redes sociais.
Para quem entendeu essa mudança, com certeza, compreenderá a transformação que ocorrerá na forma dos políticos se relacionarem com a população. Novas práticas serão adotadas por esses novos políticos, e essas práticas perpassam por uma tentativa de manutenção da confiança com a base eleitoral e busca por uma reeleição em 2022.
* Leonardo Volpatti é advogado e cientista político com MBA Executivo – Relações Governamentais (FGV). Ex-chefe de gabinete no Senado Federal. Sócio-Fundador da Levels – Inteligência em Relações Governamentais.
* Fábio Monteiro Lima é advogado (UnB) especialista em direito eleitoral (OAB/DF) administrativo e constitucional
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