Celso Lungaretti *
Aloysio Nunes Ferreira Filho participou da luta armada na ALN de Carlos Marighella, foi condenado com base na Lei da Segurança Nacional, amargou o exílio e só pôde voltar com a anistia de 1979.
Mesmo assim, fez coro à demagogia direitista da última campanha presidencial de José Serra, acusando Lula de haver montado “uma máquina mortífera” e repetindo chichês alarmistas como estes:
“Tem o PT com seu velho radicalismo, com as velhas idéias de amordaçar a imprensa (…), outra ponta dessa engrenagem é o sindicalismo comprado (…). Temos o Incra entregue ao MST, temos o desrespeito à lei de uma política externa que corteja os ditadores mais sanguinários da face da Terra. E é contra esse sistema de poder que nós vamos eleger o Serra e o Geraldo”.
É cogitado para a função de relator da Comissão da Verdade.
E o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso já se candidatou a uma das sete vagas, assim como o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
Considero inadequadas tais postulações.
Aloysio, porque pende para a esquerda ou para a direita ao sabor dos ventos políticos.
Dirceu por ser alvo preferencial das campanhas de desqualificação da mídia — vide a capa recente da revista Veja. Por que oferecer novos trunfos ao inimigo, que, é óbvio, torpedeará incessantemente a comissão? Ele seria o homem errado no lugar errado.
FHC, por tudo que deixou de fazer, ao longo de dois mandatos, para que os torturadores respondessem por seus crimes. É um dos responsáveis por não se terem tomado providências efetivas na hora certa, de forma que as tentativas acabaram sendo tardias e, por isso mesmo, mais facilmente anuladas.
Quanto à CNBB, não tendo o catolicismo se apresentado unido contra o golpe e o terrorismo de Estado, eu consideraria mais apropriada a inclusão de um representante do Tortura Nunca Mais – até como tributo à figura exponencial da resistência ao arbítrio que foi d. Paulo Evaristo Arns.
De resto, eu também apresento minha (anti)candidatura.
Porque é preciso evidenciar sempre e a cada instante que existe um abismo entre o sistema, a política oficial, a imprensa burguesa e o universo alternativo, trepidante, da internet, que vem sendo minha trincheira nos últimos anos.
Então, embora eu domine o tema em questão como poucos e tenha uma credibilidade virtual conquistada com muito trabalho, coerência e lutas vitoriosas, hoje estou reduzido à quase inexistência pela grande mídia e nunca sou cogitado para absolutamente nada em Brasília.
Mas, avalio que tenho uma importante contribuição a dar à comissão. Daí, pleitear um lugar nela, embora saiba que é uma hipótese das mais improváveis.
Assim como um sem-número de vezes pedi justificados direitos de resposta aos jornalões, mesmo ciente de que as boas práticas jornalísticas não seriam respeitadas.
Porque jamais devemos nos conformar com a privação de direitos; marcar posição é uma forma de resistirmos.
Há, claro, a ínfima possibilidade de que companheiros encampem tal bandeira e a tornem uma opção concreta – para contarem, na comissão, com um ex-preso político que jamais se vergará a conveniências nem vai descurar da missão de trazer à tona a verdade histórica sobre os anos de chumbo, custe o que custar.
Nessa eventualidade remota – afinal, não faço parte de nenhum esquema influente -, a anticandidatura poderá até virar candidatura.
* Jornalista, escritor e ex-preso político, Celso Lungaretti mantém o blog Náufrago da Utopia.
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