Quando da invasão estadunidense ao Iraque escrevi aquela época que o maior legado que o general Bush deixaria para a história seria a sua obsessiva ideia de solucionar o conflito mundial através da violência de uma guerra. O general não enxergava, por exemplo, qualquer contradição em invadir o Iraque para exigir o cumprimento de Resoluções da ONU, ao mesmo tempo em que apoiava Israel no seu assumido desrespeito à própria ONU, quando manteve a insana política de massacrar palestinos e de praticar o terrorismo estatal. Não enxergava qualquer ironia no fato de possuir o maior armazém de armas químicas e de destruição em massa da história, mas querer justificar uma guerra porque aquele pequeno e pobre país supostamente possuía um “titica” dessas mesmas armas, outrora fornecidas pelos próprios estadunidenses, quando o inimigo morava no vizinho Irã.
Naquela época de nefasta memória, registrei a hipocrisia do império que sempre apoiou e ainda apoia ditaduras em todo o mundo, inclusive estimulando golpes de Estado, ter retirado o apoio ao seu ex-aliado Saddam Hussein, alegando que, repentinamente, deixara de ser um “bom mocinho”. Pouco importava se as pessoas se convenceram de suas proposições, o que apenas lhe interessava era fazer valer a sua ditatorial vontade, a sua incontrolável arrogância e o seu compromisso com o desenfreado lucro das indústrias bélicas. O tempo mostrou que os seus críticos estavam corretos, bem assim que a sua violência somente serviu para desestabilizar a região, provocando guerras civis, terrorismo em larga escala, genocídios generalizados, países destruídos e multidões de imigrantes vagando sem a esperança de um dia pousar em um porto seguro.
Os recentes e gravíssimos pronunciamentos dos generais Trump e Kim mostram que ambos foram reprovados em todas as disciplinas que falavam de paz, de humanismo, de amor à vida e de respeito às diferenças entre os povos. Não estudaram as consequências das recentes Guerras do Golfo sobre o planeta e as pessoas, tampouco das guerras mundiais, do Vietnã, da Coréia, Afeganistão e das incontáveis tragédias militarizadas que apenas geraram as mortes de milhões de pessoas, holocaustos, países desfigurados e histórias desaparecidas. Certamente esqueceram do crime contra a humanidade praticado nos dias 6 e 9 de agosto de 1945, quando os EUA utilizaram, pela primeira vez na história da humanidade, bombas atômicas, sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki.
No velho estilo Calígula, quando humilhou Roma nomeando seu cavalo Incitatus Cônsul de Roma, os generais Trump e Kim fazem do mundo uma insignificante baia, a abrigar garbosamente suas selas, suas ferraduras, suas esporas e seus domesticados animais. E cada um, como qualquer imperador que acredita ser possuidor do privilegiado e sacro dom da infalibilidade, criando a sua própria cruzada santa, uma guerra contra o eixo do mal ou mesmo uma guerra contra o terror. Não sem ambos, apenas em sotaques e vocábulos diferentes, dizem que as fardas estadunidenses ou norte-coreanas são superiores, impiedosas e indestrutíveis, ou, como dizem em propagandas nacionalistas e twiters incendiários, “quem não está com eles está contra eles”. E nós – os eles nesta história que não promete um final feliz – seguindo a vida sem olhar para o céu atômico ou misseis de hidrogênio que se gabam do poder de destruir toda a humanidade. Diante deles, lembro sempre a certeira frase de La Rochefoucauld: Ninguém deve ser elogiado pela sua bondade quando não tem forças para ser mau.
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