Há dois anos, diante da postura do governo Dilma em relação aos povos indígenas, senti-me provocado a reler o então governo à luz do mito grego de Procusto. Num “copio e colo”, que me permitam quem não quer ir até o artigo intitulado “Na cama procustiana de Dilma“, resumo aqui o mito.
Segundo o mito grego, Procusto era um malfeitor que morava numa floresta na região de Elêusis, península da Ática, Grécia. Conta o mito que ele mandou fazer uma cama de ferro com exatamente as medidas do seu próprio corpo, nem um milímetro a menos ou a mais. Quando capturava alguém na estrada, ele amarrava naquela cama. Se a pessoa fosse maior do que a cama, ele simplesmente cortava fora o que sobrava. Caso fosse menor, ele a esticava até se ajustar ao tamanho da cama – “justa medida procustiana”.
Voltamos agora a um procusto ainda mais terrível, cujos ajustes de medidas são implementados com golpes mais duros, na sequência daquele efetivado em agosto de 2016, que elevou à cadeirada presidência Michel Temer.
Temer, o novo-velho procusto aprofunda as medidas tendo nas mãos a trena do agronegócio, entregue a ele em abril de 2016. Nesta trena as “medidas” passam por ajustar os povos ao necro-agronegócio, por um lado barrando as demarcações dos territórios, de outro buscando que os povos que já as têm assuas demarcadas arrendem à exploração ruralista e tornem-se “indígenas-empreendedores” (sic).
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Parte das medidas também passam por mudanças nas estratégias, pois se os ruralistas antes queriam acabar com a Funai, agora suas novas medidas passam por indicar nomes para alguns cargos, como um delegado que auxiliou a bancada ruralista durante a CPI do Incra e Funai, na Câmara dos Deputados. Também passam pela justa medida dos ruralistas o estabelecimento do Marco Temporal, implementado pelo maître no Executivo e sua Advocacia Geral (AGU) através do Parecer 001/2017. Parecer anti-demarcação costurado de maneira espúria pelo deputado ruralista Carlos Heinze, que divulgou o acordoantes mesmo da publicação do parecer.
Se no mito grego Procusto é vencido por Teseu, também as medidas ruralistas são combatidas por aqueles e aquelas que se negam a deitar-se na cama agro-ajustada. Os povos indígenas vêm dando exemplo de que não estão dispostos a cederem suas terras aos mesmos arrendamentos que os levaram a perdê-las na região sul e centro-oeste, por exemplo. Deixaram isso evidente no dia 18 de outubro, quando buscando opinar sobre uma audiência promovida pelos ruralistas na Câmara dos Deputados, foram duramente reprimidos. Continuam a se manifestar, como fizeram 17 povos no dia 23 de novembro, quando manifestaram-se contra o Parecer 001 da AGU, para o qual exigem a revogação, visto que o mesmo choca-se frontalmente com decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), como afirma o Secretário Executivo do Cimi, Cleber Buzatto.
Enquanto os necro-ruralistas, patrocinados pela venenosa empresa, viajam para Suíça para visitar as dependências da Syngenta – aquela mesma empresa que fabrica um dos mais terríveis agrotóxicos, o paraquat – os povos indígenas juntam-se aos quilombolas, quebradeiras de coco e outras comunidades tradicionais para trocar experiências e reafirmar sua não adequação à cama ruralista e sua perspectiva de desenvolvimento. Juntos buscam trocar camas por redes, construindo outras perspectivas, como fizeram no Terceiro Encontro Tocantinense de Agroecologia.
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