“Há um Centrão no nosso Congresso que opera exclusivamente como balcão de negócios.” A frase dita por um pré-candidato ao Senado pelo Distrito Federal, em debate do qual participei como indagador, pode esconder pelo menos duas outras realidades.
A primeira é que há uma premissa, não necessariamente verdadeira, de que a posição central no espectro político não corresponde a qualquer expressão ideológica. Dessa questão, no entanto, trato mais detidamente em outro artigo.
A outra, embora a expressão utilizada evoque a pura e simples barganha não republicana, é que negociar é atividade própria dos melhores da nossa espécie e não pode ser confundida com as práticas da falsa política.
A política é condição primordial e distintiva da natureza humana. A própria ideia de cultura remete à possibilidade das relações sociais e da decorrente mediação de forças e vontades. Se o ser humano somente realiza seu potencial por meio do progresso da pólis, a quintessência da política – o éter de Aristóteles – é sua capacidade de construir consensos e garantir coesão, mesmo ante a diversidade de interesses.
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Não é tarefa fácil a pactuação sobre como usar os recursos do Estado, escassos por natureza, e definir o que é prioritário. É papel das lideranças desenhar estratégias para alcançar o que é necessário ou desejado pela coletividade. As ideias em debate dizem muito sobre a visão de mundo, expectativas e o conceito de avanço civilizatório que determinada corrente de pensamento projeta para uma sociedade. Os mais aptos em conquistar apoio recebem legitimamente o poder político.
No entanto, buscando mimetizar as fontes originárias de poder e se perpetuar nos centros de decisão, alguns operadores da política praticam apenas a formalidade conferida ao processo, idealmente pensada para torna-lo racional e factível. As regras viram objetivos. Trocas passam a alimentar o sistema de modo superficial, retirando dele sua verdadeira vocação e entregando seus resultados a alguns poucos. O que deveria servir para garantir o atingimento do bem comum passa a constituir um fim em si mesmo. Desvirtuada, a agora pseudopolítica promove interesses particulares em detrimento do bem geral.
O toma-lá- dá-cá não é novo nem foi inventado aqui ou agora. No entanto, sobretudo na nossa tradição, ele se reveste de um caráter pitoresco, quase anedótico. Nossa maior e mais antiga bancada é a do “é dando que se recebe”. Na esteira da indigência intelectual causada pela educação formal de baixa qualidade, a população não consegue ver os danos reais e profundos que essa prática causa à república e à democracia.
Quando alguém chama essa turma de Centrão, comete uma imprecisão taxonômica e pode legitimar a versão folclórica de que a atuação daquelas pessoas é apenas fruto das circunstâncias. Quem está lá não representa o “centro”, não define a política e nem almeja o interesse público. E sabe muito bem disso.
Se há no Congresso uma bancada populista, demagógica e fisiológica e ela detém algum poder formal, isso precisa urgentemente lhe ser retirado. Quem deturpa deliberadamente o uso dos mecanismos de representação que poderiam impactar positivamente a vida de uma população sofrida e descrente, não pode ser o centro de nada. É, no máximo, uma parte marginal da nossa sociedade.
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No artigo da semana passada, prometi escrever sobre o papel do P(MDB) na nossa história recente. De certa forma, já comecei. Semana que vem tem mais.
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