Para os amantes da culinária e da literatura, grupo no qual me incluo, não há nada melhor do que “comer com os olhos”. Aqui, a expressão não significa comer em excesso mas se deliciar com a alta escrita sobre alimentação. Uma narrativa criativa e inovadora sobre um tema que nos desperta muito interesse é a união perfeita, não é mesmo?
Hoje a coluna vai dar algumas sugestões de boas (e prazerosas) leituras sobre alta gastronomia. Tenho uma boa coleção de clássicos do gênero, alguns deles já reli mais de uma vez. Sejam de receitas, sejam de histórias sobre a culinária de outros países, os livros sobre costumes de alimentação falam de sabores e de magia através dos tempos.
Vamos começar por um clássico, o maior de todos, o livro seminal, por assim dizer, da culinária. A fisiologia do gosto, escrito em 1825 por Brillat-Savarin. É a obra inaugural do conceito de alimentação refinada, uma espécie de certidão de nascimento da gastronomia. No livro, o autor trata dos cinco sentidos e serve de inspiração para chefs e aficionados desde então.
Se você for a qualquer boa livraria, certamente terá muitas opções nas prateleiras de gastronomia. Especialmente edições mais recentes de chefs celebridades com programas televisivos e livros de receitas com fotos elaboradas. Mas o foco na coluna de hoje é falar de publicações realmente especiais de autores muito refinados e que oferecem um verdadeiro banquete literário sobre o tema.
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Um deles, que talvez só se consiga em sebo, é O alfabeto do gourmet, de M.F.K. Fisher, uma americana nascida no Michigan, em 1908, que morou na França e na Califórnia. A autora é simplesmente considerada “a estilista imortal dos sabores” e para muitos é a melhor escritora de gastronomia de todos os tempos. Esse é um dos meus livros preferidos e não canso de recorrer ao seu estilo simples, bem-humorado, e extremamente cativante. O livro foi escrito em 1941 e continua atual e apaixonante.
Outra obra que destaco como leitura altamente prazerosa é O homem que comeu de tudo, de Jeffrey Steingarten. É um livro sobre viagens, memórias e descobertas, fascinante. Em 1989, o autor abandonou a carreira de advogado para se tornar crítico de gastronomia da Vogue. E saiu a viajar pelo mundo experimentando sabores – foi ao Japão provar o Wagyu, carne macia por que o gado recebe massagem e acupuntura; foi atrás das origens do sorvete na Itália, foi decifrar o chucrute na Alsácia e o aroma das frutas no Piemonte. Não vou falar mais para não ser spoiler e estragar a surpresa de futuros leitores.
E o que dizer sobre o livro Afrodite, da chilena Isabel Allende? Uma sucessão de “contos, receitas e outros afrodisíacos”, promete o subtítulo, e a obra cumpre a promessa em dobro. É a incursão da consagrada escritora no mundo da gastronomia erótica, “uma viagem sem mapa pelas regiões da memória sensual, onde os limites entre o amor e o apetite são difusos”, descreve a editora. O livro foi escrito por Isabel Allende para exorcizar a tristeza pela perda da filha. Afrodite reúne receitas de sopas, molhos, pratos principais e mesmo de bebidas afrodisíacas.
Claro que há muitos outros e maravilhosos textos e crônicas sobre descobertas gastronômicas e segredos da culinária ao redor do mundo, mas os títulos citados ocupam um lugar especial na minha estante. Todos os anos, antes das férias, tenho prazer em selecionar os volumes que vou levar na mala. Geralmente incluo três livros: um de ficção, um de não-ficção e um sobre gastronomia. Ainda vou decidir sobre os dois últimos…
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