Paulo Castelo Branco*
Um pequeno detalhe reforça a impressão de que tempos nebulosos se aproximam da vida nacional. É a volta das prisões nos estádios. No tempo dos regimes ditatoriais na América do Sul, todas as vezes que a repressão dominava algum movimento popular, os manifestantes eram confinados nos estádios de futebol. Ali sofriam agressões, constrangimentos e torturas. O que parece estranho, no caso atual da destruição física da Câmara dos Deputados (a destruição moral está no limite), é que o comando da Casa está nas mãos de um antigo militante comunista que sabe bem o sistema adotado pelas ditaduras de esquerda no confinamento e na eliminação de seus opositores.
A comprovação de que houve elaboração de plano estratégico para a invasão e destruição da "Casa do Povo" é elemento seguro para que as investigações policiais se aprofundem na busca da real motivação dos militantes da libertação dos sem terra. Bruno Maranhão, líder do MLST, membro da Secretaria Nacional de Movimentos Populares e da executiva nacional do Partido dos Trabalhares, é antigo defensor do uso da força para mudar o mundo.
O exercício da democracia por parte de muitos líderes populares já levou para a sepultura algumas centenas de trabalhadores usados como massa de manobra e que servem de proteção aos chefes dos ataques. Esses pobres e inocentes marionetes são manipulados pelos agressivos comandantes na ação devastadora; como estão na frente da batalha, são eles os mortos ou feridos. A não ser em casos como da ação contra a Câmara dos Deputados, na qual a força de defesa do bem público, e até da vida dos parlamentares, é orientada para exercer sua função estritamente dentro dos princípios da persuasão e desprovida de armas de defesa pessoal.
O massacre da Câmara ficará na história como o confronto entre os armados de porretes e os desarmados de espírito que se sujeitaram a apanhar para não correr o sangue desejado pelos líderes do movimento. O chefe, é claro, não estava presente para ser preso e responsabilizado na hora. Detido após a batalha, o comandante, calmo e seguro, defendeu-se dizendo que não estava lá. É verdade. Na linha de frente, só boi de piranha.
Outro fato que deverá ser investigado é a razão da modificação do comportamento dos mais de 500 agressivos militantes. No início do confronto, era evidente a ação de profissionais da baderna induzindo a massa no melhor estilo dos combatentes de elite. É visível, nas imagens que assustaram o Brasil, a destreza dos agressores na manipulação dos manifestantes e dos porretes.
Mas quem serão os outros 500 dóceis presos que, de mãos nas costas, se entregaram humildemente aos policiais militares. Ao som de uma voz que não se sabe de onde veio, os 500 furiosos se transformaram em carneirinhos caminhando para a forca no ginásio de esportes.
PublicidadeRecentemente, em São Paulo, já ouvíramos, no meio de rebeliões em penitenciárias e ataques indiscriminados contra cidadãos inocentes, a voz forte do líder dos movimentos criminosos a determinar o início das ações e, após alguns dias, o fim da matança.
Que vozes são essas que têm o poder de provocar violência e morte e, ao mesmo tempo, se transformarem em ordens de paz e tranqüilidade ao povo brasileiro, encerrando a tragédia? No caso das rebeliões dos criminosos, já se sabe que a voz de comando é do Marcola. E no caso das invasões de ministérios, órgãos públicos, fazendas produtivas e outras propriedades? Será da polícia e da Justiça a difícil missão de desvendar o mistério dos comandos, se é que a voz que se manifesta, com tanto poder, não tenha a mesma origem.
* Paulo Castelo Branco, pós-graduado em Processo Legislativo, foi conselheiro federal da Ordem dos Advogados do Brasil, presidente do Tribunal de Ética da OAB-DF e secretário de Segurança do Distrito Federal.
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