Célio Pezza*
No último dia 20 de abril, na costa do estado norte-americano de Lousiana, a torre de perfuração de petróleo Deepwater Horizon, operada pela multinacional britânica British Petroleum (BP), explodiu e pegou fogo.
No incidente morreram 11 funcionários da empresa e 17 foram gravemente feridos. Dois dias depois, a plataforma afundou e se transformou em um dos maiores acidentes ecológicos do planeta. A instalação está quebrada e até hoje o poço encontra-se aberto a uma profundidade de 1,5 km, despejando diariamente perto de 5 mil barris – ou 800 mil litros de petróleo – no mar. Evidente que uma instalação desse porte tem uma série de dispositivos de segurança, mas todos falharam e a desgraça está feita. Apesar de todos os esforços para deter o vazamento, ele continua desafiando toda a tecnologia da indústria petrolífera.
Um dos representantes da BP falou que em tese, é tudo bem simples e bastaria fechar uma válvula de segurança e o vazamento seria detido. O único problema é que essa válvula está a 1,5 km de profundidade e não conseguem fechá-la. O acionamento automático falhou e manualmente é complicado devido à profundidade. Até agora não foi explicado o motivo do acidente, mas o governador do Texas, Rick Perry, disse que o desastre pode ter sido um “ato de Deus”, e que isso quer dizer que “ninguém sabe o que aconteceu”.
A tragédia está tomando uma proporção tão apocalíptica, que até uma estatal petrolífera iraniana já ofereceu ajuda e assistência para deter o vazamento, que irá atingir os Estados Unidos, o maior inimigo da república islâmica. Vejam a ironia da situação: o Irã, que está sofrendo sanções dos EUA por seu polêmico programa nuclear, oferecendo ajuda para evitar uma desgraça maior ao próprio EUA. Na verdade, eles sabem que esse desastre terá consequências mundiais e não está restrito ao Golfo do México ou a costa americana.
Os ambientalistas também estão preocupados com o fato de estarem despejando milhões de litros de solventes no mar, numa tentativa de diluir o petróleo. É uma espécie de sabão que quebra o petróleo em partículas menores e favorece a sua dispersão ou a sua ingestão por bactérias. O problema é que esses diluentes são tóxicos para muitas espécies da vida marinha e podem vir a entrar de uma maneira desastrosa na cadeia alimentar e terminar causando problemas ao próprio homem no futuro.
De acordo com todas as notícias, o maior complicador do problema é o fato de o vazamento estar a uma profundidade de 1,5 km, o que dificulta todas as operações normais, até o simples fechamento de uma válvula. Isso nos faz pensar nas dificuldades e principalmente nos perigos de se operar extração de petróleo em poços profundos e nos leva naturalmente à nossa exploração do pré-sal na costa brasileira, onde as jazidas de petróleo estão em profundidades entre 5 e 7 km. Se não estamos conseguindo deter um desastre a 1,5 km de profundidade, podem imaginar algo semelhante acontecer em locais quatro vezes mais profundos?
Espero que todos os responsáveis conheçam a fábula do aprendiz de feiticeiro e que não liberem forças das quais não tenham o domínio completo. Caso contrário, na primeira emergência, vamos pagar muito caro por esta falta de controle da situação.
*Escritor, com formação em Química e Administração de Empresas. Mantém o blog http://cpezza.com/wordpress/.
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