A entrevista de Haddad à Folha é interessante. Localiza corretamente alguns dos elementos da conjuntura internacional que nos levaram à derrota.
O capítulo sobre as conversas com Ciro possui contradições. Acerta quando diz que faltou ao pedetista habilidade para construir uma aproximação, e que Ciro erra ao querer construir uma alternativa de centro-esquerda rompendo com o Lulismo.
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Haddad, no entanto, contradiz seus próprios argumentos – sobre a possibilidade de apoio ao candidato do PDT – ao fazer uma analogia com as aspirações de Eduardo Campos.
Afirma que o PT passaria o bastão da liderança ao PSB se o socialista tivesse aceitado ser vice de Dilma. Diz ainda, quando questionado sobre hegemonismo, “que o PT sabe defender suas posições”.
O saudoso Eduardo Campos, que tanta falta faz à esquerda brasileira, era um quadro extraordinário, com luz própria. A “fala-imposição” do ex-prefeito de São Paulo soa grosseira, expressa uma visão equivocada sobre o conceito de hegemonia.
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No desenrolar da entrevista, ao rejeitar postos nas estruturas de direção partidária e apostar em “frentes com a sociedade”, Haddad flerta com uma esquerda por fora dos partidos e das estruturas formais de poder. Um “preconceito-negação” da política partidária muito comum aos acadêmicos.
Será difícil liderar o PT com essas posições. Os baianos do partido têm Jaques Vagner, uma das principais cabeças da esquerda brasileira hoje. Dirigem pela quarta vez consecutiva a Bahia com Rui Costa, um governador jovem que esbanja competência e tem cheiro de renovação.
É cedo ainda para dizer que Lula continuará a ditar sozinho os rumos da legenda.
Por outro lado, um bloco partidário vai se formando, disposto a liderar uma oposição dura, mas programática, distante de sectarismos e gritarias.
Política e poder são momento. Manter protagonismo exige dos derrotados muita amplitude, sabedoria política e capacidade de liderança.
Os próximos quatro anos serão uma longa travessia num mar revolto. Nadar sozinho será muito arriscado. O risco de afogamento é enorme.
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