Cláudio Versiani, de Nova York*
O planeta Terra está estranho, muito estranho. Seca na Amazônia, frio em Nova Deli, na Índia, como no filme O dia depois de amanhã, e invernos cada vez mais quentes. Furacões crescendo em intensidade e volume. A cada temporada, os especialistas dizem a mesma coisa: este foi o pior ano. Foi assim com o Katrina, que varreu a costa do Golfo do México. Apareceu até um tsunami que mexeu com as marés dos mares do planeta e causou milhares de mortes.
A ameaça virou realidade. Há muito tempo todos nós escutamos os alertas de que o clima da Terra está mudando. A temperatura está subindo, o gelo do Pólo Norte começa a derreter, o monte Kilimanjaro, na África, está ficando sem neve. Mais e mais desertos estão aparecendo na face do planeta. Os rios estão secando. Chega! Não precisamos mais de advertências. Já dá para sentir que a coisa está feia.
O Brasil possui um clima maravilhoso em que quase não se nota a mudança das estações, pelo menos em grande parte do território nacional. No hemisfério norte, as estações são muito bem definidas. Os dois extremos são o verão e o inverno. Só para ficar no verão passado, o de 2005, a temperatura bateu recorde, foram mais de 15 dias seguidos com o termômetro acima de 33 graus centígrados na cidade de Nova York. Foi um caldeirão. Como a cidade é uma ilha, a umidade é alta, o que torna a sensação de calor um pouco pior. Sem falar na poluição dos automóveis.
Este ano o inverno ainda não aconteceu. A temperatura média bateu recordes históricos, nunca havia feito tanto “calor” num inverno novaiorquino. A temperatura oscilou de 2 até 10 graus positivos, sendo que o termômetro ficou ao redor dos 10 graus na maioria dos dias nesses quase dois meses de inverno. O pico foi 17 graus centígrados, marca histórica. O planeta está mesmo estranho.
Os Estados Unidos são o grande poluidor do planeta. Viva o dinheiro! Bush já chegou a sugerir que esse tal de aquecimento global é alarmismo dos cientistas. Não é bem assim. O presidente quer ir atrás do petróleo do Alasca, o que aumentaria a produção americana em 3%, mas causaria danos ambientais enormes. Tony Blair, o amigo de Bush, já avisou que o mundo tem menos de sete anos para combater o aquecimento global. Em 2005, o Pólo Ártico perdeu em gelo uma área correspondente a dois estados do Texas. No Brasil, a Amazônia vem sendo desmatada desde sempre, não importa qual governo esteja no comando.
PublicidadePara destruir, leva-se pouco tempo. Mas, para reconstruir ou consertar, é tarefa de mais de uma vida. Mesmo que o governo dos EUA não admita, chegamos ao ponto em que o aquecimento global não é mais uma possibilidade, é a nossa realidade. Pode vir em forma de furacão, tsunami, um dia quente no inverno ou uma supernevasca, como essa que cobriu Nova York no fim de semana passado.
Recordes e mais recordes… o volume foi de 70 centímetros de neve no Central Park. Parece pouco, mas é muito. Quase 24 horas de neve caindo sem parar. Ventos que iam de 45 a 100 km/h. Eu passei boa parte do domingo na rua, tentando fotografar. Não é brincadeira, a vida fica muito difícil numa situação dessas. As coisas mais simples do mundo, como andar por exemplo, viram um ato de extremo esforço. Times Square foi quase ficção científica, filme. Tudo cinza e em alguns momentos não se viam nem os luminosos. A bem da verdade, foi um filme de horror.
No Central Park, quando a nevasca parou, as crianças e os mais velhos também se divertiram. Até Gabriel, meu neto de um ano e meio, foi para a farra. Depois de viver mais de 50 anos, eu não imaginava que veria uma situação tão estranha. Não é nada agradável constatar que o clima do planeta está mudando tão rapidamente. É assustador. E fico imaginando se o neto do Gabriel vai poder morar aqui neste mundo ou se os seus contemporâneos já estarão destruindo outro planeta por aí.
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