A onda de protestos que tomou as ruas do Brasil há cinco anos ainda repercute de forma transversal na sociedade. Desde a consciência de cada cidadão até as mais distintas esferas de poder, sejam públicas ou privadas, os desdobramentos daquele momento único da nossa história continuam presentes, abrindo espaço para o mais crucial questionamento possível num período pré-eleitoral: será que aquela chacoalhada no país rendeu algum aprendizado?
Ou terá servido apenas para acirrar o ultrapassado, cansativo e homogênico embate polarizado e simplista entre “nós” e “eles”? Ou será que serviu apenas para afastar ainda mais o cidadão da política, facilitando a vida de quem usurpa desse instrumento para benefício próprio?
A resposta está longe de ser única, objetiva e direta, mas o resultado das urnas em outubro dará mais um elemento para compor essa equação. Isso porque, se um protesto busca mudanças para o bem comum, não há melhor caminho para direcionar tais mudanças do que o da democracia, cujo ápice é o voto.
Há cinco anos, um despretensioso protesto contra vinte centavos de reajuste na tarifa de ônibus em São Paulo teve reação desproporcional do poder público, o que acabou dando musculatura ao movimento, que angariou apoio nos mais variados setores da sociedade.
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O protesto pontual camuflava o descontentamento da população com a corrupção, por melhorias na saúde, na educação, na segurança, e também pela reforma do sistema político e eleitoral, por mais justiça tributária, dentre diversas outras motivações, inclusive pelo simples direito de sair às ruas.
O ciclo de protestos de 2013 não pode ser considerado nem como uma convulsão social espontânea nem como um evento premeditado, mas sim como fruto de uma série de variáveis que permitiram o surgimento de novas formas de organização até então latentes na sociedade.
Além disso, as manifestações não podem ser marcadas nem como “de direita” nem como “de esquerda”. A ausência de uma reivindicação única e de uma articulação central fez com que a jornada se tornasse plural, não só em seus motivos, mas também nas participações. Com demandas heterogêneas, a composição social dos protestos foi muito diversificada.
No pós-2013, o país vivenciou novas ondas de protestos, como a mobilização dos caminhoneiros este ano, que trouxe de volta a preocupação, principalmente da classe política, de um novo 2013.
No meio do caminho vimos a geração espontânea de movimentos sociais e políticos que buscam estimular a participação política, renovar a representação da sociedade nos espaços públicos, garantir acima de tudo a ética, o respeito e a tolerância e defender a ocupação do espaço político pelo cidadão comum, substituindo a mera reclamação pela ação, pela vontade e crença de que todos podem e devem ser protagonista de uma
mudança verdadeira.
O Brasil ainda atravessa um momento delicado e demonstrações de insatisfações generalizadas não estão completamente fora da esfera do possível. O processo eleitoral desde ano se mostra mais imprevisível do
que a eleição de 1989, quando tivemos um segundo turno com dois “outsiders“. Como aponta o pesquisador Breno Bringel, os últimos cinco anos proporcionaram o que parece contraditório: o fortalecimento da direita e a formação de uma nova geração de jovens militantes de esquerda.
As crenças liberais, progressistas, conservadoras, capitalistas ou socialistas, dentre quaisquer outras, que nos dividem, são menos relevantes hoje (e para as eleições de outubro) do que a necessidade que nos une: políticos e governantes que tenham respeito pela coisa pública, integridade ética e moral, espírito cívico e capacidade de gestão (política e técnica).
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