Cláudio Versiani, de Nova York*
Alberto Gonzales já se foi. O ministro da Justiça de Abu Ghraib, de Guantánamo, de memorandos justificando a tortura de prisioneiros, de escutas telefônicas sem autorização judicial e, finalmente, dos depoimentos duvidosos no Congresso americano não agüentou a pressão.
Bush o chamava de “mi abogado” (“meu advogado”, em espanhol). Ele era o cão de guarda do presidente, fazia o chamado trabalho sujo e servia de anteparo para o Imperador. Gonzales tratava de não deixar que nenhuma acusação chegasse perto de George Bush. Alberto Gonzales era a blindagem do presidente americano.
Donald Rumsfeld foi para casa, Karl Rove está indo. Falta Dick Cheney, o Darth Vader de Bush. Ou talvez seja o contrário, Cheney é o verdadeiro Imperador, num jogo de personalidades e personagens trocados.
O governo indo pelo ralo abaixo, e a CNN e a MSNBC, as duas redes de TV mais importantes dos EUA, estavam com a história de Michael Vick no ar. Vick é um famoso jogador de futebol americano que tinha uma rinha de cachorros. Um “bad boy”, marrento, estilo Romário se o baixinho fosse um pouco mais alto. Vick se declarou culpado e pode pegar cinco anos de cadeia.
A outra rede de TV, a Fox, é influente, mas pouco confiável, especialmente em assuntos políticos. O lema ali é: se há governo, sou a favor, principalmente governo conservador. No caso, de direita mesmo.
PublicidadeGonzales acompanha Bush desde dos tempos em que o presidente era um governador que mal saía do Texas e muito menos viajava para fora dos EUA. “Meu rancho, meu mundo.” Bush assumiu a presidência da única superpotência do planeta sem nunca ter colocado os pés fora da América. Sem dúvida, esse é um dos motivos da desastrada política internacional de seu governo. Foi no rancho de Crawford, no Texas, que Bush e Gonzales acertaram a saída do ministro da Justiça.
Gonzales, com o apoio de Bush, resistiu muito tempo. Em março de 2007, escrevi uma coluna que dizia:
”O inferno bate à porta de Bush
Bush já entregou a cabeça do ex-todo-poderoso Donald Rumsfeld, seu ex-secretário de Defesa. Pode ser que, para salvar a própria, ainda tenha que abrir mão do assessor Karl Rove, o “gênio do mal”. Num cenário ainda pior, Dick Cheney, o “faz-tudo” de Bush, perderia a cadeira. O presidente americano pode substituir o vice quando quiser…
Em outra frente de batalha, o governo Bush tenta evitar o desfecho, ou pelo menos prolongar a sobrevida, do “advogado-geral da União”, Alberto Gonzales, que, na prática, é o ministro da Justiça. Oito promotores federais foram destituídos pelo Departamento de Justiça – leia-se Gonzalez. Tem até aposta na internet para ver quem acerta o dia e a hora em que Gonzalez, marionete de Bush desde os tempos do Texas, será demitido ou pedirá para sair. O caso ganhou o nome Gonzo-gate. Até mesmo importantes senadores republicanos estão detonando o fiel escudeiro do presidente.”
A queda do ministro da Justiça é um desastre para o governo, mas se Bush resolveu entregar a cabeça e a cadeira de Gonzales é porque ele não tinha mais alternativa. O cheiro que emana da Casa Branca não é nada bom. Há algo de muito podre no Reino de George W. Bush. Eu fico me repetindo, mas fazer o quê? Bush também se repete todo o tempo.
O presidente comentou que Gonzales nunca fez nada de errado, que é uma pessoa honrada que teve o nome jogado na lama por motivos políticos. O presidente não se emenda, continua vivendo em sua bolha, cada dia mais solitário e cada vez mais desconectado da realidade.
O candidato a candidato presidencial John Edwards declarou sobre a saída de Gonzales: “Antes tarde do que nunca”, comentou o senador democrata. Devia estar pensando em uma outra pessoa.
O governo de George Walker Bush é uma piada de mau gosto para os americanos e para o mundo. Se alguém duvida, que pergunte aos iraquianos.
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